'Sauve qui peut (la vie)': Godard reflete sobre o colapso dos sonhos revolucionários dos anos 1960 e retoma carreira questionando os novos valores sociais dominados pela lógica capitalista!

'Sauve qui peut (la vie)': Godard reflete sobre o colapso dos sonhos revolucionários dos anos 1960 e retoma carreira questionando os novos valores sociais dominados pela lógica capitalista! - Marcos Doniseti!

'Sauve qui peut (la vie)' faz uma clara referência à 'Vivre Sa Vie' (1962), mas a diferença no estado de espírito das duas épocas é nítida. Nos anos 1960 tratava-se de viver a vida intensamente, com os outros, enquanto que nos anos 1970/1980 a sensação dominante é a de cada um procurar o seu próprio caminho, tentando se salvar do caos reinante no mundo. A procura por uma solução coletiva predomina nos anos 1960 e a busca individual é hegemônica nos anos 1970/1980.

Sinopse!

Três adultos (um homem e duas mulheres) tentam dar novos rumos para as suas vidas. O homem é Paul Godard (Jacques Dutronc), um produtor de TV que está em dúvida se deve ou não tentar uma reconciliação com a ex-esposa e sua filha adolescente ou se, então, deve dar continuidade para a relação que tem com Denise (Nathalie Baye), que também é uma produtora na mesma empresa em que ele trabalha. Denise, por sua vez, cansou da vida na cidade grande e quer se mudar para o interior, onde irá trabalhar em um pequeno jornal, para desfrutar de maior independência e controle sobre a sua vida. No entanto, Paul resiste a fazer o mesmo, gerando inúmeros conflitos entre os dois. Isabelle (Isabelle Huppert) é uma jovem prostituta que também quer mudar de vida e procura por outras atividades, nas quais também possa viver mais livremente. Porém, todos os relacionamentos deles são permeados por relações tipicamente capitalistas de dependência e submissão e as quais eles tem muita dificuldade em superar. Assim, a pergunta que Godard faz neste filme é: Afinal, é possível ser livre em uma sociedade dominada por relações de produção e consumo tipicamente capitalistas? 

Godard explica porque fez o filme!

“Mais cedo ou mais tarde regressa-se à pátria. Queria regressar à minha pátria no cinema, ou seja, no fato de precisar de imagens para viver e de as mostrar aos outros ... Porque em num dado momento, eu mesmo fiz parte da história do cinema, aos poucos me interessei pela história do cinema ... e finalmente comecei a me perguntar como foram criadas as formas que eu usava e como esse conhecimento poderia me ajudar".

A produção de 'Sauve qui peut (la vie)! 

'Every Man For Himself' é o título em inglês de 'Sauve qui peut (la vie)', filme que marcou o retorno de Godard ao cinema comercial e ao circuito de festivais. No seu lançamento, em outubro de 1980, o filme recebeu muitos elogios por parte da crítica, tanto na França, quanto nos EUA.

"Sauve qui peut (la vie)", filmado em 1979, foi a obra que marcou o retorno de Godard ao circuito comercial e dos festivais depois de 10 anos ausente dos mesmos.

Esse afastamento durante período de mais de 10 anos (1968-1979), que foi caracterizado por um grande distanciamento de Godard em relação aos produtores, ao público cinéfilo e também com relação à critica especializada, ocorreu em função do seu literal mergulho em criar um cinema com vocações e intenções políticas e revolucionárias. 

Os filmes deste período eram fortemente marcados e influenciados pelo Maoismo, muito em voga naquela época, principalmente entre uma parte dos jovens franceses e ao qual Godard acabou aderindo, junto com Jean-Pierre Gorin, Jean-Henri Roger, entre outros.

Nesta fase, que precedeu a produção de 'Sauve qui peut (la vie)', que foi lançado comercialmente em 15 de outubro de 1980, Godard também se dedicou a fazer inúmeras pesquisas com Vídeo e realizou várias séries para a TV francesa, período da sua carreira que durou de 1975 a 1978.

Foi em seu período mais radical politicamente, que durou de 1968 a 1972, que Godard também criou, junto com Jean-Pierre Gorin, Jean-Henri Roger, Daniel Cohn-Bendit e mais alguns o 'Grupo Dziga Vertov'.

Godard e os membros do Grupo Dziga Vertov pretendiam criar um cinema comprometido com um projeto revolucionário de transformação social e que também tinha a intenção de romper inteiramente os laços com a indústria cinematográfica. Eles também procuraram ainda levar adiante um projeto de criação coletiva para os filmes que realizavam, o que não deu certo.

Obs1: Para se informar melhor a respeito do 'Grupo Dziga Vertov', quero sugerir a leitura dos textos cujos links publiquei ao final desse texto.

Denise andando de bicicleta, em meio à natureza, mostra uma das mudanças que ocorreram na vida e na obra de Godard, que foi viver em uma pequena cidade da Suíça (Rolle) e na qual temos belos lagos, montanhas, matas e ventos. Em vários momentos do filme Godard paralisa a imagem, congelando a mesma, o que ele já tinha feito em uma série para a TV francesa.

No entanto, devido ao insucesso do projeto do "Grupo Dziga Vertov, que chegou ao fim quando encerrou-se a colaboração entre Gorin e Godard, no final de 1972, o cineasta passou por um período extremamente difícil, com o fim do seu casamento com a atriz Anne Wiazemsky, e que foi agravado porque ele também ele sofreu um grave acidente de motocicleta, que quase o matou, em 1971.

Com isso, Godard ficou em tratamento durante dois anos e quando se recuperou passou a trabalhar em pesquisas com vídeo e a fazer séries de TV, trabalhos que realizou em colaboração com a cineasta Anne-Marie Miéville, que também é de nacionalidade suíça, que o ajudou em sua recuperação. 

Mas, apesar disso, elementos presentes em sua fase maoista também estarão em seus filmes do chamado 'Período Tardio' (pós-1979), como o fato de Godard não querer mais trabalhar sozinho, não querendo mais repetir a experiência dos anos 1960.

Na fase Nouvelle Vague (1959-1967), Godard defendia e praticava o 'Cinema de Autor', quando ele fazia praticamente tudo em seus filmes, controlando a pré-produção, filmagem e montagem dos mesmos. Esse período do Cinema Autoral, que começou com 'A Bout de Souffle' (1959), se encerrou com a obra-prima 'Weekend' (1967). 

Assim, a partir de 1968, Godard sempre vai procurar trabalhar com mais alguém na realização de seus novos filmes. Entre 1968 e 1972 os seus principais parceiros foram Jean-Pierre Gorin e Jean-Henri Roger e, de 1972 em diante, sua parceira mais constante, inclusive em sua vida particular, foi a cineasta Anne-Marie Miéville.

Essa preocupação, de sempre trabalhar com mais alguém, também ficou evidente já em 'Sauve qui peut (la vie)', pois Godard não escreveu o roteiro do filme. 

Denise reencontra um amigo, Piaget, que era um revolucionário nos anos 1960, mas que depois foi viver no interior, onde ele diz que 'está a Revolução'. As crises e mudanças nas vidas dos personagens refletem o que acontecia na vida do próprio Godard, que fez de 'Sauve qui peut (la vie)' um filme fortemente autobiográfico.

Os autores do roteiro foram Anne-Marie Miéville e Jean-Claude Carrière, roteirista conhecido por seu brilhante trabalho com Luis Buñuel em vários filmes, incluindo 'Belle de Jour' (1967), 'Via Láctea' (1969), 'O Discreto Charme da Burguesia' (1972), 'O Fantasma da Liberdade' (1974) e 'Esse Obscuro Objeto do Desejo' (1977), que foi o último filme de Buñuel.

Uma mudança que Godard irá promover em seu trabalho a partir de 'Sauve qui peut (la vie)' é que ele aceitará com mais facilidade a ideia de trabalhar com atores e atrizes famosos, o que era uma exigência dos produtores para que pudessem financiar os seus filmes. Assim, neste filme ele trabalha com três estrelas francesas da época, que são Isabelle Huppert, Jacques Dutronc e Nathalie Baye. 

A respeito de Isabelle Huppert, esta disse, em uma entrevista, que quando foi procurada por Godard para trabalhar no filme ele apenas lhe disse que desejava que, no filme, ela tivesse 'a expressão da tristeza'. Ele não precisou falar mais nada para Isabelle, que tem um ótimo desempenho e fica com a expressão da tristeza em seu rosto do início ao fim do filme. 

Godard voltará a trabalhar com Isabelle Huppert em seu filme seguinte, que foi 'Passion' (1982), e novamente com Nathalie Baye em 'Détective' (1985). 

A respeito da produção de 'Sauve qui peut (la vie)', a atriz Isabelle Huppert declarou o seguinte: 

"Ao contrário de outros diretores, Godard não mandava roteiro, mas fotos, livros. Ele mandava dicas do que eventualmente se tornaria um filme. Esses sinais poderiam ser montados como um quebra-cabeça, que gradualmente fazia sentido para o trabalho em equipe que estava acontecendo.".

Paul Godard é um produtor de TV que vive uma crise em sua vida pessoal e profissional, ficando em dúvida sobre quais escolhas deve fazer. Isso refletia o que ocorria com o próprio Godard na época da realização do filme.

De fato, o roteiro que Godard fez para o filme foi em formato de vídeo. O filme seria feito com base em relações pessoais, que se desenvolvem durante as filmagens, que se refletiriam no filme. 'Sauve qui peut (la vie)' foi uma obra bastante pessoal, estando diretamente relacionado com a maneira pela qual Godard se relacionava com Anne-Marie e com as próprias condições em que o filme foi realizado. 

Godard também trabalhou com dois novos produtores, que foram Alain Sarde e Marin Karmitz, e também com uma nova geração de técnicos, atores e atrizes, que emergiram na indústria do cinema durante a fase em que Godard se afastou do meio, como foram os casos de Isabelle Huppert e Nathalie Baye.

Godard também contratou dois diretores de fotografias, Renato Berta e William Lubtschansky, pois queria duas visões diferentes para fazer esse trabalho, o que gerou conflitos e problemas, pois eles tinham maneiras distintas de fotografar o filme, que foi rodado no cantão de Vaud, região ocidental da Suíça que é habitada por uma população de origem francesa e cuja capital é Lausanne. 

Godard disse que "a importância de viver e filmar em seu 'estúdio de exteriores' no cantão de Vaud, na Suíça, é que, ao contrário de um estúdio de Hollywood, tudo ali, vida e trabalho, acontece no mesmo lugar. Então, além disso, vê-se como o filme foi rodado!". Assim, a própria realidade dele, Godard, que vivia ali (viveu até o fim de sua vida), entraria no filme.

Apesar de inúmeras dúvidas e tensões na fase de criação e desenvolvimento, e também das dificuldades para obter financiamento, Godard conseguiu produzir um belo filme. 

A Trama do Filme! - Os Novos Temas! 

Denise (Nathalie Baye) e Paul (Jacques Dutronc) se desentendem constantemente.

'Sauve qui peut (la vie)', que Godard chamou de seu 'segundo primeiro filme' (o 'primeiro primeiro filme' foi, é claro, 'A Bout de Souffle', de 1959) e que foi filmado exatamente 20 anos depois de seu longa metragem de estreia, passou a refletir as novas preocupações dele com relação às questões espirituais e metafísicas que, antigamente, não estavam presentes em seu trabalho. 

Nas suas fases anteriores, os filmes de Godard possuíam um caráter mais materialista e voltado para preocupações de caráter terreno, repleto de questões políticas, sociais, comportamentais e ideológicas: Guerra da Argélia, Guerra do Vietnã, Black Panthers, Racismo, Consumismo, Indústria Cultural, Contracultura, Maio de 68, Socialismo, Movimento Operário, Movimento Estudantil.

Estas questões metafísicas, espirituais e filosóficas ficarão mais evidentes em filmes posteriores, como nos belos 'Passion' (1982), 'Prénom Carmen' (1983), 'Je Vous Salue Marie' (1985) e 'Helas Pour Moi' (1993), por exemplo.

Apesar das mudanças, os temas políticos e sociais não desapareceram dos seus filmes nesta nova fase da carreira de Godard, que começa em 1980 e que foi chamada de 'Período Tardio' pelo crítico Jonathan Rosenbaum. 

Godard sempre incluía, nestes novos filmes, algum comentário de caráter mais explicitamente político por parte dos personagens ou, então, incluía imagens e sequências de caráter político. E todas as relações que se desenvolvem entre os personagens estão permeadas por questões sociais e políticas.

Assim, neste mesmo 'Sauve qui peut (la vie)' nós vemos, em vários momentos, Paul Godard (nome do pai de Godard) e Denise comentarem criticamente a respeito da situação e atuação de política de Fidel Castro e de Cuba. 

No final do filme, também vemos uma fotografia de um garoto chinês bebendo Coca-Cola, o que foi uma maneira de Godard mostrar, e de criticar, a aproximação política e econômica que ocorreu entre a China e os EUA a partir de 1972. Para alguém como Godard, que foi maoista, é claro que isso não foi nada agradável.

Paul se encontra uma vez por mês com sua ex-esposa e com a filha, Cécile, para lhe dar o cheque da pensão, mas não conseguem se entender.

E a jovem prostituta Isabelle também faz um comentário sobre o fim daquela geração de heróis revolucionários (Malcom X, Fidel, Che Guevara...) que ela admirava, dizendo que a política passou a ser uma mistura de truques sujos e mentiras.

Portanto, embora aparentemente esses antigos temas políticos ficassem, em segundo plano, eles não estão totalmente ausentes, mas passaram a ser trabalhados por Godard de uma maneira distinta. 

Godard passou a fundir essas questões políticas, sociais e econômicas de maior alcance com a vida dos indivíduos e as relações entre eles, nos quais vemos preocupações de caráter mais pessoal, ficando bastante ligados às questões que afetam cada pessoa, bem como aos novos valores e comportamentos dominantes na sociedade ocidental, em especial, a partir dos anos 1970. 

Portanto, Godard promove uma forte atualização de sua obra, ao mesmo tempo em que preserva vários dos temas das suas fases anteriores, mas sob perspectivas e maneiras diferentes. Entre estes, o tema das relações cada vez mais conflitantes entre homens e mulheres será central neste filme de retorno de Godard.

Este era um fenômeno típico que vinha acontecendo desde o começo dos anos 1970, quando o espírito fortemente contestador, anti-autoritário, libertário, coletivista e humanista dos anos 1960, que foi a época da Contracultura, do Psicodelismo e da luta contra a Guerra do Vietnã, abriu espaço para preocupações de caráter mais individual, espiritual e pessoal.

Os Segmentos do Filme! 

Paul e Denise brigam em frente a uma loja, o que reflete a ideia de Godard de que as relações entre as pessoas são afetadas e prejudicadas pela lógica do capitalismo.

'Sauve qui peut (la vie') se divide em cinco segmentos, que são 'A Vida', 'O Imaginário', 'O Medo', 'O Comércio' e 'A Música'. 

O filme conta com a participação de três estrelas francesas do período, que são Isabelle Huppert (Isabelle), Nathalie Baye (Denise Rimbaud) e Jacques Dutronc (Paul Godard) e cada um dos seus personagens serão os protagonistas de um segmento específico.

O segmento 'A Vida' mostra o cenário no qual a trama do filme irá se desenvolver, que são ambientes urbanos e rurais, transitando entre uma grande cidade caótica e repleta de conflitos e uma pequena cidade do interior, na qual os moradores vivem em meio aos rios, lagos, florestas, montanhas, enfim, em meio à Natureza, em um ambiente mais calmo e tranquilo, o que é um elemento novo no trabalho de Godard.

Os demais segmentos tem um protagonista diferente.

Em 'O Imaginário' a protagonista é Denise Rimbaud (as referências literárias, tão presentes nos anos 1960, continuaram nesse novo período da obra de Godard), que está se separando de Paul e quer abandonar a grande cidade para ir viver em uma pequena cidade do interior, na qual pode se deslocar de bicicleta e viver em meio à uma bela natureza. Ela quer 'fazer as coisas' e não 'apenas nomeá-las', como afirma em um certo momento do filme. Seu desejo de independência é bem evidente.

Essa foi uma mudança que o próprio Godard promoveu em sua vida, abandonando Paris e, a partir de 1977, indo viver em uma pequena cidade suíça, chamada Rolle (de apenas 6 mil habitantes), que fica próxima de Genebra, que também tem belos lagos, florestas, montanhas.

Isabelle, uma jovem prostituta, e Paul se encontram em frente a um cinema e decidem se relacionar. A conexão entre a indústria do cinema e a prostituição fica bem claro. Posteriormente, no final, eles voltarão a se encontrar em outro contexto, mas que novamente se relaciona com uma atividade comercial. Assim, as relações entre os personagens são mediadas pela lógica do capitalismo.

Já no segmento 'O Medo' o protagonista é Paul Godard (nome do pai do cineasta), que resiste a abandonar a vida na grande cidade, onde trabalha como produtor de TV e mora em um hotel de luxo.

Paul fica em dúvida entre tentar continuar seu relacionamento com Denise (que é filha de um banqueiro, tal como a mãe de Godard, que se chamava Odile Monod), que deseja mudar de emprego e quer ir para o interior, ou em tentar retomar a sua vida ao lado da ex-esposa (Paule) e da filha (Cécile, de 12 anos), com as quais ele tem um péssimo relacionamento. 

Em uma sequência, na qual tenta ajudar a filha em um trabalho de escola, Paul lê um trecho sobre a invasão das cidades pelos melros que é retirado do 'O Livro do Riso e do Esquecimento', de Milan Kundera, que havia sido lançado na França em 1978, o que é um clara conexão com os personagens do filme, que estão mudando as suas vidas, transitando para uma situação nova.

Paul também percebe que a sua vida está passando por mudanças, mas ele tem medo destas. Ele não sabe o que fazer. Essas indecisões de Paul refletiam o que acontecia com Godard na realização do filme, como aconteceu, por exemplo, na indefinição sobre se ele deveria fazer o filme em 35mm ou em vídeo. No fim, Godard escolheu por filmar em 35mm.

Um casal conversa sobre o que irá fazer naquela noite. Eles não se olham em nenhum momento, representando os crescentes conflitos que ocorriam entre homens e mulheres.

Desta maneira, no filme, Godard faz reflexões sobre o que acontece em sua vida e também a respeito das mudanças que aconteceram nas relações sociais, principalmente entre homens e mulheres, com a emergência do feminismo e de uma postura mais independente e questionadora por parte das mulheres em suas relações com os homens. 

As duas mulheres com as quais Paul está envolvido o desafiam e o confrontam constantemente, não aceitando se submeter à sua vontade. Estes conflitos também refletiam as relações de Godard com Anne-Marie na época da realização do filme.

Aliás, estes conflitos entre homens e mulheres e a emergência de uma mulher mais independente, e também do feminismo, já estavam presentes nas fases anteriores de Godard, tanto no período 'Nouvelle Vague', quanto na fase maoísta, na época do 'Grupo Dziga Vertov'. 

Isso pode ser visto claramente em filmes como 'A Bout de Souffle' (1959), 'Pierrot le fou' (1965), 'Masculin Féminin' (1966), 'British Sounds' (1969), 'Vladimir e Rosa' (1970) e 'Tudo Vai Bem' (1972).

Isabelle e Paul se despedem depois de passarem uma noite juntos.

Logo, Godard dá continuidade a um tema muito presente em toda sua obra, que é a incapacidade de homens e mulheres de se comunicarem e de conseguirem se entender. 

Este tema, a partir deste filme, passou a ser trabalhado de uma outra maneira. Na década de 1960 Godard mostra o momento em que as mulheres ainda sofriam muito a influência da mídia, da publicidade e da moda (vide o filme 'Une Femme Mariée', de 1964). 

No entanto, agora ele mostra esses conflitos sob a perspectiva das novas formas pelas quais homens e mulheres se relacionavam, que sofreram o impacto da emergência das lutas feministas.

Essas diferenças podem ser explicadas pelo fato de que tais filmes, dos anos 1960, foram realizados em um período que antecedeu a emergência do Feminismo como um movimento de massas e um fenômeno midiático. Eles também são anteriores ao Maio de 68 francês, que teve um grande impacto sobre Godard e que o levou a repensar inúmeros aspectos de sua vida pessoal e também de sua atuação como cineasta.

Agora, com a emergência do feminismo, Godard mostra, em seus novos filmes realizados no pós-1968, que os questionamentos por parte das mulheres nos anos 1970 se dirigem a todos, incluindo os homens, bem como à própria mídia e a indústria cultural em sua integralidade.

A irmã de Isabelle pede ajuda para se iniciar na prostituição e fica surpresa quando ela pede metade de tudo o que ela vier a ganhar. A lógica do capitalismo perpassa as relações entre as pessoas.

Logo, não é à toa que Denise deseja sair da produtora de TV na qual trabalha, e onde é obrigada a fazer a vontade dos patrões, e negocia a sua ida para trabalhar em um pequeno jornal de uma cidade do interior, para onde ela deseja se mudar, para desfrutar de uma vida mais calma e na qual poderá desfrutar de uma maior independência, pessoal e profissional.

Nesse novo local de trabalho ela pensa que poderá desfrutar de muito mais liberdade e independência para viver e, também, de fazer o que deseja. Ela também quer ir viver em uma pequena cidade, em meio a natureza, afastando-se do mundo urbano em crise. 

Os primeiros anos da década de 1970 serão um período de crescimento da criminalidade e da violência (comum e política) nas grandes cidades, mesmo nos países mais industrializados, devido ao crescimento da inflação, desemprego, pobreza, tráfico de drogas, lutas de classes.

O proprietário (Piaget) do jornal para o qual Denise começa a colaborar é um antigo revolucionário dos anos 1960 que herdou a publicação do seu pai, com quem antigamente ele teve muitos conflitos, pois grande parte da juventude revolucionária dos anos 1960 (maoístas, anarquistas, leninistas, trotskistas...) eram originários de famílias da pequena burguesia francesa.

Pedestres caminham em frente a uma loja da 'C&A'. Outras marcas famosas aparecem em vários momentos do filme. Godard deixa claro que as pessoas estão enredadas nas relações impostas pelo capitalismo e pela sociedade de consumo.

Inclusive, Denise questiona Piaget sobre a sua antiga postura, dizendo-lhe que ele, que antes era um revolucionário, agora desempenhava o mesmo papel social que o pai, ou seja, o de um pequeno burguês proprietário de uma pequena empresa. 

Tal comentário pode ser relacionado diretamente com o próprio Godard, cujo pai (Paul Godard) era um médico que chegou a ser dono de uma clínica particular em Genebra, e também de sua mãe, Odile Monod, que era integrante de uma família de banqueiros, fundadores do banco Paribas. 

Aliás, no filme a própria Denise é uma filha de banqueiros, o que também é uma referência direta à mãe de Godard.

Michel/Piaget (Piaget, o personagem, é chamado de Michel por Denise, sendo que este é o nome do ator que o interpreta), o dono do jornal, responde para Denise, afirmando que a Revolução, agora, estava lá, naquela pequena cidade do interior. 

Interessante notar que, de certa maneira, Godard fez a mesma coisa, saindo da grande Paris, indo viver na pequena Rolle e fundando uma pequena produtora junto com Anne-Marie Miéville. A revolução, para Godard, agora, estava na 'SONIMAGE', a  pequena produtora que ele e Anne-Marie fundaram para desenvolver os seus projetos.

Portanto, percebe-se a presença de inúmeros elementos autobiográficos neste belo filme de Godard, tanto da sua família, como também do seu passado e do próprio momento em que o 'Sauve qui peut (la vie)' foi realizado.

Isabelle é contratada, junto com outra prostituta, por um burguês, que monta uma linha de produção sexual, na qual cada um dos participantes desempenha uma função específica. Em certo momento ele diz que a imagem e o som estão bons, sugerindo que esse tipo de relação também existe na indústria cinematográfica.

 Já no quarto segmento, que é 'O Comércio', a protagonista é Isabelle. 

Ela é uma jovem que tenta mudar do campo para a cidade, onde se torna prostituta, mas que depois decide mudar de profissão, querendo abandonar a atividade na qual ela depende dos cafetões e na qual é obrigada a atender clientes que são verdadeiros pervertidos. Inclusive, ela acaba sendo agredida pelos cafetões que a exploram quando eles ficam sabendo das suas intenções. 

Eles exigem que Isabelle continue na atividade e lhe entregando metade de tudo o que ela ganha com a prostituição, o que ela é obrigada a aceitar. Os cafetões lhe dizem que ninguém é independente, que apenas os banqueiros são independentes, mas que eles também são assassinos. Esse é mais um exemplo de como as relações entre personagens são permeadas por questões políticas e sociais.

Isabelle, embora procure fugir à essa lógica da exploração que sente na própria pele (literalmente), ela também acaba reproduzindo essa mesma lógica quando a sua irmã mais nova a procura porque deseja praticar a prostituição para poder conseguir dinheiro (entre 20 mil e 30 mil francos) e, assim, ter como ajudar a libertar alguns amigos que estão presos. 

Isabelle se propõe a ajudar a irmã (cujo nome não é informado), mas ela diz que ficará com 50% de tudo que ela vier a ganhar. 

Isabelle mantém, o filme inteiro, uma expressão de tristeza, de sofrimento. Esse foi um pedido que Godard fez para a atriz Isabelle Huppert.

Assim, Isabelle se comporta da mesma maneira que os cafetões que a exploram, o que demonstra o pessimismo de Godard sobre as relações humanas. Godard está demonstrando que em uma sociedade capitalista, que é marcada pelas relações de produção e consumo que visam o lucro, todas as relações estão submetidas à lógica do capitalismo, o que é um aspecto central do filme. 

'A Música' é o quinto e último segmento do filme. 

Nele, vemos a música tema do filme sendo executada por muitos músicos em um posto de gasolina e também temos um final trágico, no qual Paul Godard irá descobrir que a sua vida foi inteiramente vazia, que não há nada em sua trajetória da qual valha a pena se lembrar e que seja digno de passar antes os seus olhos naquele que é o momento no qual ele acredita que está próximo de morrer. 

Desta maneira ele, Paul (o alter ego de Godard), conclui que ainda não está pronto para morrer. 

E nesta parte final também veremos os personagens, que até então apenas se cruzavam mas que pouco se relacionavam, finalmente acabarão se encontrando e tomarão as suas decisões. Eles finalmente fazem as suas escolhas, o que até então não acontecia. Denise, Paul, Isabelle, a ex-esposa de Paul, todos eles fazem suas escolhas no final.

Godard - O filme, sua vida e sua obra!

Nathalie Baye e Godard. Depois de 'Sauve qui peut (la vie)' eles voltaram a trabalhar juntos em 'Détective' (1985).

Um aspecto que vemos no filme e que está relacionado às mudanças que Godard promove em sua vida e que impacta a sua obra cinematográfica é quando ele mostra muitas cenas da natureza (florestas, lagos, montanhas...), o que antes era muito raro em seus filmes.

No filme, Godard também mostra belas cenas do Céu e da Natureza, deixando claro que temos uma nova orientação em seus filmes, com a inclusão de elementos espirituais e metafísicos, o que ficará bastante evidente posteriormente, em filmes como 'Je Vous Salue Marie' (1985) e 'Hélas Pour Moi' (1993). 

A ideia de querer mudar de vida, se voltando mais para o interior das pessoas, seus problemas pessoais, relacionamentos, angústias e desejos é outro elemento fundamental que está presente em "Sauve qui peut (la vie)", embora estas continuem conectadas com a sociedade na qual os personagens vivem. 

E é claro que isso também está diretamente relacionado com as mudanças que estavam afetando o próprio Godard nesta época. Assim, fica claro que várias falas dos personagens referem-se a ele mesmo, como a do proprietário do pequeno jornal, quando este diz que a Revolução estava naquela pequena cidade do interior, em meio à natureza. 

Na época, Godard foi morar em Rolle, uma pequena cidade suíça, próxima de Genebra, e que fica em meio a belos lagos, montanhas, florestas, com muitos ventos, contando com uma belíssima natureza. Ele também fundou, junto com a cineasta vanguardista Anne-Marie Miéville, uma produtora própria, que foi a 'SONIMAGE' (som + imagem).

Nas décadas seguintes Godard e Anne-Marie passaram a viver juntos e realizaram inúmeros trabalhos conjuntos, como 'Comment ça va' (1976), 'Ici et Ailleurs' (1976) e 'The Old Place' (2000). E a forma como essas relações se desenvolveram estão presentes no trabalho de Godard. 

Godard também procurou trazer para o filme a contribuição de atores, atrizes, técnicos, diretores de fotografia, pois não queria mais filmar da mesma maneira que fazia durante a fase Nouvelle Vague (1959-1967), dando aos seus filmes um caráter mais coletivo. 

Mas nem todos que trabalharam em seus filmes aceitavam fazer isso, gerando novos conflitos. Logo, não é à toa que, no filme, os personagens estão sempre entrando em choque (Paul X Denise; Isabelle X Cafetões; Paul X Ex-Esposa...).

Comentários!

Denise trabalha em uma produtora de TV, na mesma empresa que Paul, pois ele entendia que teriam que unir amor e trabalho. Mas isso irá gerar conflitos entre os dois.

Um personagem (Piaget), proprietário de um pequeno jornal de uma cidade do interior, diz que a 'Revolução' está ali, mesmo, no campo, em uma vida simples. Essa é uma reflexão importante do próprio Godard, que se expressa por meio dos personagens no filme. Estes falam, claramente, o que o cineasta pensa. 

Desta maneira, Godard deixa claro, no filme, o seu desencanto com as tentativas de revolucionar a sociedade e o mundo, tal como tentou fazer, em especial entre 1968-1972, quando aderiu ao Maoísmo e integrou o 'Grupo Dziga Vertov'. Ele também demonstra a sua frustração com a vida nas grandes cidades, com Paris em especial.

Com isso, Godard mostra que o caminho pela mudança passa, também, pela adoção de um outro modo de viver e de agir em relação aos outros e também em relação à natureza. 

Para ele, nas pequenas cidades do interior a vida é mais simples e mais saudável do que nos grandes aglomerados urbanos (Paris, Nova York, Londres...), que passam a ser criticados nos filmes de Godard (vide 'Détective', de 1987).

Godard também mostra, no filme, uma visão cáustica e corrosiva da burguesia, na qual se mostra a influência de Pasolini (em especial na sequência em que vemos o patrão, seu empregado e as duas prostitutas), que era outro crítico feroz desta classe social.

Paul salta para cima de Denise. Os dois somente conseguem se relacionar em meio a choques e conflitos.

Essa visão reflete, claramente, as ideias e valores da Contracultura, do Feminismo, do Marxismo e do Ambientalismo que emergiram durante a década de 1960 e se intensificaram nas décadas seguintes, gerando fortes impactos políticos e sociais até os dias atuais. 

Assim, Godard cria uma cena de sexo, que é mais sugerida do que exibida, algo muito comum nos filmes de Godard, o que talvez seja fruto da formação calvinista de sua família, principalmente os Monods, família da mãe de Godard (Odile) que era uma grande acionista do banco Paribas. 

Nesta cena, Godard literalmente reproduz uma linha de produção em série tipicamente capitalista, com o patrão determinando qual será o papel dos demais participantes, que são duas prostitutas (Isabelle e Nicole) e um funcionário (Thierry).

Na sequência, cada um deles acaba exercendo uma função específica naquela relação sexual, tal como acontece em uma fábrica, pelo menos naquelas que usam o método taylorista-fordista de produção, que era hegemônico no mundo na época em que o filme foi produzido (1979-1980).

Isabelle Huppert e Godard. Ela foi a responsável por entregar o prêmio 'César' pelo conjunto da obra, em 1987, para o cineasta.

Assim, vemos uma autêntica linha de produção em série sexual, o que remete a uma frase provocadora que vimos em 'British Sounds' (1969), filme realizado por Godard e Jean-Henri Roger no início de 1969, na Grã-Bretanha, durante a fase maoísta do cineasta francês, quando ele se integrou ao Grupo Dziga Vertov. 

A frase em questão é 'Análise marxista-leninista para se encontrar a melhor posição para se fazer sexo'.

Aliás, fica a dúvida se essa frase provocadora de Godard, de alguma maneira, influenciou Pasolini quando o cineasta italiano realizou aquele que é o seu filme mais polêmico, que foi 'Saló ou 120 Dias de Sodoma' (1976).

Como se percebe, Godard aplicou essa análise nesta cena de 'Sauve qui peut (la vie'), o que é uma característica muito presente em sua obra, que é o fato de que seus filmes travam um constante diálogo entre si. É como se a cena de 'Sauve qui peut (la vie)' fosse uma continuação e um exemplo prático da frase do 'British Sounds' (1969).

Denise e Isabelle finalmente se encontram, pois a segunda está alugando o apartamento no qual Paul e Denise moravam.

Desta maneira, Godard está afirmando que os papéis que as pessoas exercem na sociedade são fortemente influenciadas pela sua função como trabalhadores e nas atividades econômicas. E isso afeta, também, as relações amorosas e sexuais, nas quais teríamos a reprodução de situações de poder, dominação, exploração e de submissão, tal como acontece nas atividades econômicas.

Assim, será por meio dos personagens e das relações entre eles que Godard irá abordar muitos dos principais temas políticos e sociais do período. 

Logo, a lógica capitalista está presente em tudo, não apenas nas atividades produtivas, mas também nas relações interpessoais, que são esmagadas e destruídas pelo sistema produtivo e pelo consumismo. Assim, não é à toa que temos a presença de tantas marcas famosas no filme, incluindo Coca-Cola, Esso, Audi, Marlboro, Volkswagen, Technos, entre outras. 

Isso também remete a um outro filme da fase Nouvelle Vague de Godard, que é 'Weekend' (1967), na qual fica claro que as lutas de classes e os conflitos entre as pessoas são dominadas pela lógica capitalista, envolvendo ganância e ambição (o casal de protagonistas do filme, Corinne e Roland, planeja o assassinato do parceiro para ficar com o dinheiro de uma herança). 

Desta forma, o papel da ideologia e do marxismo em seus filmes ainda estão muito presentes, como também ficará claro em filmes subsequentes, quando ele continuará fazendo duras críticas ao sistema capitalista hegemônico no planeta.

Também merece destaque a belíssima trilha sonora, que foi composta por Gabriel Yared, que se conectam perfeitamente com o tom mais lírico das belas imagens que foram criadas por Godard. 

Denise e Paul voltam a se encontrar no final. Paul tenta dar sequência ao seu relacionamento com ela. Mas ela já tomou a decisão de mudar a sua vida. 

A escritora Marguerite Duras, que fez um filme em 1977 intitulado 'Le Camion' que influenciou a forma de Godard de fazer 'Sauve qui peut (la vie)' e que era amiga do cineasta, faz uma participação com alguns comentários narrados por ela e chegou a comparecer ao set de filmagem, mas não quis aparecer no filme, o que é mostrado por Godard em uma cena logo no começo.

O filme gerou muita polêmica na época da sua exibição no Festival de Cannes, em Maio de 1980, chegando a ser considerado como sendo 'degenerado e pornográfico' (mas algo semelhante também chegou a ser dito de 'Une Femme Mariée', em 1964, quando o mesmo foi considerado um atentado aos 'bons costumes' quando foi exibido no Festival de Veneza).

Porém, inegavelmente, 'Sauve qui peut (la vie)' mostrou um Godard em ótima forma e bastante antenado com as mudanças que ocorriam nas sociedades contemporâneas e tão politizado quanto antes, embora demonstrando isso de uma outra maneira. Afinal, o mundo havia mudado e isso também aconteceu com Godard e com a sua obra.

E realmente o filme foi saudado pela crítica como sendo uma obra-prima quando do seu lançamento em Outubro de 1980. Somente o jornal 'Le Monde', o principal da França, publicou três críticas entusiasmadas no dia do seu lançamento. Em uma delas a crítica Yvonne Baby disse que "Graças a Jean-Luc Godard, pintor de letras, o cinema recupera os riscos da arte, volta à vida". 

No 'The New York Times', Vincent Canby escreveu o seguinte: ''Every Man for Him'' é um empreendimento único e sem costura, um trabalho impressionante e original sobre o qual ainda há muito a dizer, mas há tempo. Acredito que sobreviverá a todos nós.".

"Sauve qui peut (la vie') foi um grande retorno do mestre da Nouvelle Vague.

Godard e Milan Kundera - O Livro do Riso e do Esquecimento! 

'O Livro do Riso e do Esquecimento', de Milan Kundera, é citado por Godard. O personagem Paul lê um trecho, sobre os melros, quando se encontra, pela primeira vez, com a ex-esposa e a filha Cécile.

Como eu já citei no texto, em determinado momento do filme, Paul faz a leitura de um trecho, sobre os melros e sua migração para as cidades, que foi retirado do 'O Livro do Riso e do Esquecimento', de autoria de Milan Kundera. 

A respeito desse livro eu encontrei um comentário de um leitor que parece ter sido feito sobre o filme de Godard, pois combina perfeitamente com 'Sauve qui peut (la vie)', que é o seguinte:

"Milan Kundera é especial. Ele transita por uma literatura com "ingredientes" que podem ser chamados de eróticos, mas que são um veículo para introduzir algo muito mais profundo e humano. Com uma maestria singular vai introduzindo imagens carregadas de beleza e lirismo sem rebuscamento, e entrelaçando com suavidade e de modo por vezes surpreendente, mensagens ao mesmo tempo sociais, políticas e filosóficas. E em paralelo, e não menos importante, vemos uma capacidade de entender o psiquismo humano, que muitos estudiosos e eruditos jamais alcançaram.". 

Isabelle aluga o apartamento que pertencia à Paul e Denise. A cena remete à Pintura, que sempre esteve presente na obra de Godard, que foi pintor em sua juventude. Depois ela olha para fora, em silêncio, talvez imaginando se conseguirá se libertar daqueles que a escravizam.

Informações Adicionais! 

Título: Sauve qui peut (la vie) - Salve-se quem puder (a vida);

Diretor: Jean-Luc Godard; 

Roteiro: Anne-Marie Miéville e Jean-Claude Carrière; 

Países de Produção: França e Suíça; 

Ano de Produção: 1979-1980; 

Duração: 88 minutos; 

Gênero: Drama; 

Fotografia: Jean-Bernard Menoud, William Lubtchansky e Renato Berta;

Música: Gabriel Yared; 

Montagem: Jean-Luc Godard e Anne-Marie Miéville; 

Elenco: Isabelle Huppert (Isabelle); Nathalie Baye (Denise Rimbaud); Jacques Dutronc (Paul Godard); Roland Amstutz (Patrão); Cécile Tanner (Cecile); Anna Baldaccini (Irmã de Isabelle); Fred Personne (Person); Michel Cassagne (Piaget); Paule Muret (Paulette, ex-esposa de Paul); Nicole Jacquet (Nicole Weber);

Prêmios: Melhor Atriz Coadjuvante para Nathalie Baye no 'César Awards' de 1981.

Paul reencontra a ex-esposa e sua filha (Cécile), tentando uma reaproximação com as duas.
Links: 

Sinopses e comentários sobre a fase Maoísta de Godard::

https://cultsecinefilos.blogspot.com/2020/01/godard-sinopses-e-comentarios-sobre-os.html 

One Plus One/Sympathy for the Devil:

https://cultsecinefilos.blogspot.com/2020/01/one-plus-onesympathy-for-devil-godard_13.html 

'Pravda': Filme fortemente ideológico que Godard fez de forma clandestina na Tchecoslováquia durante o fim da 'Primavera de Praga': 

https://cultsecinefilos.blogspot.com/2020/01/pravda-em-sua-fase-maoista-godard-fez.html 

Numéro Deux: Godard analisa criticamente a sua fase Maoísta, faz pesquisas com Vídeo e lança as bases da sua reinvenção como cineasta:

https://cultsecinefilos.blogspot.com/2019/12/numero-deux-godard-analisa-criticamente.html 

Soft and Hard: Godard e Anne-Marie criticam a hegemonia da TV e refletem sobre o Cinema e a comunicação entre as pessoas: 

https://cultsecinefilos.blogspot.com/2019/12/soft-and-hard-godard-e-anne-marie.html 

Paul é atropelado e não vê a sua vida passar diante dos seus olhos, pois não há nada para ver. A cena lembra o final de 'A Bout de Souffle' ('Acossado'; 1959).

One Parallel Movie: Quando Godard foi aos EUA filmar a Revolução que não aconteceu:

https://cultsecinefilos.blogspot.com/2019/12/one-parallel-movie-quando-godard-foi.html 

'British Sounds': Em filme experimental, Godard e JH Roger convocaram os jovens, as mulheres e os trabalhadores para fazer a Revolução no Reino Unido:

https://cultsecinefilos.blogspot.com/2019/11/british-sounds-em-filme-experimental_2.html

Comentário sobre o livro de Milan Kundera:

https://www.amazon.com.br/livro-riso-esquecimento-Milan-Kundera/dp/8535913602

Trailer do filme:

Trilha Sonora do filme:

Segmento 'O Imaginário':

https://www.dailymotion.com/video/x2qg4ju

Rumeurs Dans La Ville:

https://www.youtube.com/watch?v=5x4_oMVvLhg

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