Godard: Sinopses e comentários sobre os 15 filmes realizados durante a fase Maoísta e quando ele integrou o Grupo Dziga Vertov!

Godard: Sinopses e comentários sobre os 15 filmes realizados durante a fase Maoísta e quando ele integrou o Grupo Dziga Vertov! - Marcos Doniseti!

O 'Grupo Dziga Vertov' (1968-1972) foi a fase mais politizada e ideológica da trajetória de Godard, que aderiu ao Maoísmo, mas neste período ele se tornou mais radical, procurando romper com a indústria cinematográfica e realizando filmes com intenções revolucionárias. Esta fase foi redescoberta nos últimos anos com o lançamento de vários BluRays e DVDs com muitos dos filmes realizados no período.

Godard: A fase maoísta e o Grupo Dziga Vertov!

Entre 1968 e 1972 o grande nome da Nouvelle Vague francesa, Jean-Luc Godard, cineasta consagrado mundialmente, abandonou inteiramente a forma tradicional de se fazer filmes, bem como procurou cortar totalmente os laços que o ligavam à indústria cinematográfica europeia e mundial, radicalizando a sua postura, que vinha desde o início da sua carreira, de seguir uma trajetória independente. 

Antes mesmo de estourar as manifestações do Maio de 68, na França, das quais o cineasta participou intensamente (filmando muitas delas, inclusive), Godard já vinha dizendo que o cinema tradicional estava morto, que não iria mais fazer filmes e que os filmes que havia realizado até aquele momento não eram relevantes (opinião essa que ele reviu posteriormente).

Godard foi fortemente influenciado pelas concepções maoístas e pelas manifestações de Maio de 68, sendo que ele criou, junto com Jean-Pierre Gorin, jovem e brilhante crítico (23 anos) de cinema e de cultura do jornal 'Le Monde', uma unidade de produção de filmes que ganhou o nome de 'Grupo Dziga Vertov', cujo nome estabelecia uma clara conexão com o cinema de vanguarda e experimental do revolucionário cineasta soviético.

Nem todos os filmes relacionados abaixo foram realizados pelo Grupo Dziga Vertov, ou mesmo em nome dele, mas todos eles fazem parte da fase maoísta e revolucionária de Godard, na qual ele procurou abandonar a ideia de Cinema Autoral em favor da produção de um cinema que fosse resultado de criação coletiva. Alguns destes filmes, inclusive, ficaram inacabados em um primeiro momento, por diferentes motivos. 

Segundo o próprio Godard, nesta fase tratava-se não apenas de fazer filmes políticos, mas de fazer filmes politicamente. Tais filmes combinavam uma estética radical com objetivos políticos claramente revolucionários, o que dificultava muito conseguir financiamento, bem como não havia muitos que se interessassem em distribuir e exibir os filmes, embora eles não fossem feitos para exibição no circuito comercial e tampouco em festivais de Cinema.
 
Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin na época do Grupo Dziga Vertov.

A respeito desta fase de sua carreira, Godard declarou o seguinte:

“Grupo Dziga Vertov: Esse nome significa que estamos tentando, mesmo sendo apenas dois ou três, trabalhar em grupo. Não apenas trabalhando como colegas, mas como um grupo político. O que significa lutar, lutar na França. Estar envolvido na luta significa que devemos lutar pelo cinema... Um grupo não significa apenas caminhar individualmente, lado a lado, no mesmo caminho, mas caminhar juntos politicamente. Eu era um cineasta burguês e, depois, um progressista e, depois, não era mais cineasta, mas simplesmente cineasta" (JL Godard, 1970).

Os filmes dessa fase são marcados pelas seguintes características: 

A) Influência marxista e maoísta;

B) Caráter experimental;

C) Autoria coletiva;

D) Métodos brechtianos de encenação;

E) Tentativa de romper os laços com a indústria cinematográfica. A produção e exibição dos filmes ficava sob o controle do próprio Grupo Dziga Vertov. 

Abaixo eu publico uma relação dos filmes feitos nesta fase Maoísta e Revolucionária de Godard, que vai de 1968 a 1972, incluindo aqueles cuja autoria foi atribuída ao Grupo Dziga Vertov.
 
Cartaz de divulgação da 'tour' britânica feita por Godard e Gorin para divulgar o filme 'Tout va Bien' (1972).

Relação dos filmes e Sinopses!

1) One Plus One/Sympathy for the Devil (JL Godard; 1968; 97 minutos)! 

Este filme tem uma história interessante, que é o fato de que o mesmo deveria ter sido feito com os Beatles e não com os The Rolling Stones. 

O contrato para fazer o filme havia sido assinado por Godard com produtores britânicos, mas quando ele e Anne Wiazemsky (que conta toda a história em seu livro 'Um Ano Depois') foram para a Inglaterra conversar com John Lennon e Paul McCartney a respeito do filme que pretendiam fazer, o primeiro não se interessou em participar do projeto, impedindo que o filme fosse realizado. É bom ressaltar que o filme seria sobre o assassinato de Trotsky, sendo que Lennon iria interpretar o próprio Trotsky.

Isso aconteceu porque
, naquela época, Lennon não tinha mais interesse em continuar nos Beatles e vivia brigando com os demais integrantes do grupo. Assim, ele não demonstrou qualquer interesse no projeto, o que acabou inviabilizando a realização do filme.

Com isso, Godard e Anne Wiazemsky voltaram para a França e, daí, já em meio às manifestações de Maio de 68, eles receberam um telefonema da Inglaterra e ficaram sabendo que novos produtores haviam comprado o contrato original e tinham convencido os The Rolling Stones a fazer um filme com Godard. 

Os membros do grupo diziam ser fãs do trabalho de Godard e gostaram muito da ideia de trabalharem juntos com o grande nome do cinema francês e mundial daquela época.
 
Godard e os The Rolling Stones na época das filmagens de 'One Plus One'/'Sympathy for the Devil'. O filme possui títulos diferentes devido a um conflito que ocorreu entre Godard e os produtores britânicos (Iain Quarrier e Michael Pearson). Mas entre Godard e os integrantes dos Stones o relacionamento foi excelente e muito amigável.

Assim, apesar de ficar muito contrariado por ter que sair da França em um momento no qual estava totalmente envolvido com as manifestações, Godard e Anne foram até a Inglaterra, pois se ele não aceitasse fazer o filme os produtores poderiam acioná-lo na Justiça, levando Godard a ter um prejuízo imenso caso perdesse o processo.

E quando chegaram na Inglaterra, Anne e Godard foram muito bem recebidos pelos Stones, sendo que Mick Jagger já era o líder do grupo. Jagger e Godard se entenderam perfeitamente e combinaram que um não iria interferir no trabalho do outro. Assim, Godard teria plena liberdade para filmar, enquanto que os The Rolling Stones ficaram livres para compor o arranjo da música título.

O filme está dividido em vários segmentos e conta, também, com a participação de atores britânicos fazendo a leitura de textos de autoria de líderes dos Black Panthers (Panteras Negras) e ainda vemos Anne fazendo pichações de teor revolucionário nos muros, lojas e em outros locais de Londres. 

Em um outro trecho do filme, Anne responde uma série de perguntas de jornalistas de forma monossilábica, limitando-se a dizer 'Sim' ou 'Não', sendo que uma delas é se para se transformar em um revolucionário seria necessário deixar de ser um intelectual e Anne responde que sim, o que mostra como Godard passou a encarar o seu trabalho de cineasta, que passou a ser colocado inteiramente a serviço de um projeto de transformação revolucionária da sociedade, com base nas ideias Maoístas.
 
Godard e Mick Jagger se entenderam perfeitamente durante as filmagens.

Este
filme não tem qualquer ligação direta com o Grupo Dziga Vertov, mas foi realizado quando o mesmo estava sendo criado, o que aconteceu por iniciativa de Godard e Gorin. Porém, o filme ainda mantém um caráter autoral, pois foi inteiramente roteirizado e dirigido por Godard. Esse caráter autoral será abandonado por Godard posteriormente, quando o Grupo Dziga Vertov já existia e se encontrava em atividade. 


Em comum com o trabalho de Godard, Gorin e Henri Roger na fase do Grupo Dziga Vertov nós temos o tom fortemente político e ideológico do filme, pois nessa época Godard já tinha mergulhado inteiramente no Maoísmo e na defesa de uma Revolução Socialista, o que fica bem claro em 'One Plus One'/'Sympathy for the Devil'.

Aliás, o filme tem dois títulos devido a um conflito que ocorreu entre Godard e os produtores britânicos (Iain Quarrier e Michael Pearson). Enquanto na versão final de Godard a música dos Stones não era concluída, pois o cineasta francês entende que uma obra de arte nunca termina, na versão dos produtores britânicos os Stones finalizam a música e temos um vídeoclip que mostra isso. 

Assim, a versão de Godard ganhou o título de 'One Plus One', enquanto que a versão dos produtores ficou com o nome da música título, ou seja, 'Sympathy for the Devil'.
 
Juliet Berto e Jean-Pierre Léaud em cena de 'Le Gai Savoir' (A Gaia Ciência; 1968).

2) Le Gai Savoir (A Gaia Ciência; JL Godard; 1968; 92 minutos)! 

Este foi um filme que Godard começou a fazer antes das manifestações de Maio de 68 e cuja montagem foi finalizada após as mesmas.

Em 'Le Gai Savoir' vemos dois jovens estudantes revolucionários em um estúdio de TV, Émile Rousseau (Jean-Pierre Léaud) e Patricia Lumumba (Juliet Berto), analisando e criticando as imagens produzidas pela Mídia, Cinema e Publicidade, elementos que estavam muito presentes na obra de Godard durante a sua fase 'Nouvelle Vague', que vai de 'Acossado' (1959) até 'Weekend' (1967).

Esse elemento de crítica à mídia, publicidade e ao próprio cinema também pode ser visto em inúmeros outros filmes de Godard, como em 'Une Femme Mariée' (Uma Mulher Casada; 1964) e 'Duas ou Três Coisas que eu sei sobre Ela' (1966).  
 
O nome de Émile vem, é claro, do filósofo franco-suíço Jean-Jacques Rousseau, que considerava que seu livro 'Emílio, da Educação' era a sua melhor obra, enquanto que o nome de Patricia vem do líder revolucionário congolês Patrice Lumumba. 

O filme foi produzido pela emissora de TV francesa ORTF, mas que terminou por não exibir o mesmo, o que também irá acontecer com 'British Sounds', que foi encomendado por um emissora de TV britânica, mas que também não exibiu o filme. 

Aliás, 'Le Gai Savoir' também não foi mostrado no circuito comercial. Este filme conta com a participação de dois atores ícones da Nouvelle Vague, que eram Jean-Pierre Léaud e Juliet Berto.


Algumas cenas de 'Ciné-tracts' (1968). Godard dirigiu alguns segmentos, sendo que o filme contou com a participação de mais oito cineastas, incluindo o criador do coletivo 'ARC', Chris Marker, e também de Alain Resnais, Philippe Garrel e Jean-Pierre Gorin.

3) Ciné-tracts (1968; C. Marker; Godard; Resnais, Garrel; Gorin; 75 minutos)!

"Ciné-tracts" foi filmado com câmeras portáteis de 16 mm durante as manifestações do Maio de 68 francês e que reúne material de nove cineastas, incluindo Chris Marker, Godard, Jean-Pierre Gorin, Philippe Garrel, Alain Resnais. Ele reúne pequenos filmes de 3 minutos cada um. 

Durante o Maio de 68 e
stes cineastas formaram um coletivo, que foi o ARC (Atelier de Recherche Cinématographique), o que aconteceu por iniciativa de Chris Marker, um dos criadores da Nouvelle Vague e que se dedicava à realização de documentários, sendo que cada um deles filmou vários segmentos. 

Godard filmou os segmentos de número 01, 7 a 10, 12 a 16, 23 e 40. Posteriormente, Godard e Gorin irão criar o seu próprio coletivo, que foi o 'Grupo Dziga Vertov'. O Grupo 'ARC' e o 'Grupo Dziga Vertov' eram dois de vários outros coletivos que foram criados por cineastas naquela época. 

Neste período, Godard sempre irá procurar trabalhar de forma coletiva, rejeitando a ideia do 'Cinema Autoral', o que irá durar até que ele retomasse a sua carreira de uma forma, digamos, um pouco mais convencional, o que somente aconteceu a partir de 'Salve-se quem puder - a vida', que foi filmado em 1979 e lançado em 1980. 

E mesmo nesta fase, denominada de 'Período Tardio' pelo crítico Jonathan Rosenbaum, Godard irá realizar vários trabalhos conjuntos com Anne-Marie Miéville, incluindo documentários e séries de TV.
  
 Cena de 'Un Film Comme les Autres' (1968) no qual vemos cenas dos 'Ciné-tracts' filmados por Godard durante o Maio de 68 francês.

4) Un film comme les autres (Jean-Luc Godard; 1968; 107 minutos)!

Este é um f
ilme de Godard que foi realizado usando das imagens dos Ciné-tracts que foram filmados durante as manifestações do Maio de 68. Também temos um debate travado por um grupo de operários e estudantes a respeito do fracasso do movimento revolucionário, que não conseguiu derrubar o governo de Charles De Gaulle, como pretendiam. 

Embora alguns estudiosos atribuam o filme ao Grupo Dziga Vertov, o mesmo foi realizado quando Godard fez parte de uma unidade de produção coletiva de filmes que existiu durante as manifestações do Maio de 68, que foi a  ARC (Atelier de Recherche Cinématographique), que foi criada por Chris Marker, um dos criadores da Nouvelle Vague, e que contou com a colaboração de Jean-Pierre Gorin. 

Durante o filme vemos um grupo de estudantes e operários, que participaram das manifestações de Maio de 68, debatendo sobre porque o movimento não conseguiu triunfar e também discutem sobre como seria possível reconstruir a unidade entre o movimento operário e estudantil que existiu durante aquele período. 

Para a estudiosa Jane de Almeida, este filme foi um precursor do trabalho que Godard iria desenvolver como integrante do Grupo Dziga Vertov, pois nele o cineasta francês recusava a ideia de autoria individual e o filme também tinha finalidades revolucionárias.
 
Cena de 'One Parallel Movie' (1968-1971) em que o Jefferson Airplane toca sobre o topo de um edifício de um hotel em Nova York, evento que ocorreu numa congelante manhã do dia 19/11/1968. O 'show' durou pouco mais de 7 minutos e foi interrompido pela Polícia, que levou os integrantes do grupo presos. Os Beatles copiaram a ideia quase três meses depois quando tocaram, em Londres, sobre o edifício que sediava a gravadora do grupo (Apple).

5) One Parallel Movie/One American Movie (JL Godard, D.A. Pennebaker; Richard Leacock; 1968-1971; 78 minutos)!

'One American Movie' (1. A.M.) foi planejado e concebido por Godard, que começou o filme, mas não o concluiu. As filmagens foram realizadas nos EUA, entre Outubro e Novembro de 1968, sendo que nelas Godard contou com a colaboração de dois cineastas, que foram os documentaristas D.A. Pennebaker e Richard Leacock, que eram grandes admiradores da Nouvelle Vague e de Godard. 

Godard acreditava que os EUA estavam prestes a passar por um processo revolucionário, devido à todos os conflitos que ocorriam no país, envolvendo questões políticas e sociais, como os Direitos Civis, Panteras Negras, Psicodelismo, Movimento Estudantil, Guerra do Vietnã, Contracultura e os assassinatos de John F. Kennedy, Martin Luther King, Malcolm X e Robert Kennedy. 

Assim, ele foi até os EUA para fazer um filme sobre essa Revolução que pensava ser iminente, tendo entrevistado Tom Hayden e Eldridge Cleaver, dois dos principais nomes da Esquerda dos EUA. Mas quando Godard percebeu que a tão esperada e desejada Revolução não iria acontecer, ele decidiu voltar para a França sem concluir o filme.

Posteriormente, D. A. Pennebaker decidiu aproveitar o extenso material filmado por Godard e, acrescentando novas cenas, filmadas por ele mesmo, acabou montando e finalizando o filme, que ganhou o nome de 'One Parallel Movie' (One P. M.) e que foi lançado em 1971. Aliás, Godard brincou com Pennebaker dizendo que o filme, de fato, se chamava 'One Pennebaker Movie'.
 
Cena de "L'Amore", segmento de 'Amore e Rabbia' (1969) que foi dirigido por Godard. O filme foi resultado de um projeto coletivo do qual participaram Godard e mais cinco cineastas italianos, incluindo Bertolucci, Lizzani, Bellocchio, Pasolini e Elda Tattoli.

6) Amore e Rabbia (Amor e Raiva; 1969; 98 minutos)!


Este filme foi resultado de um projeto coletivo, no qual temos seis segmentos independentes que foram filmados por vários cineastas, incluindo Godard, que realizou o segmento "L'Amore". 

Os outros cinco segmentos foram filmados por cineastas italianos: Carlo Lizzani, Bernardo Bertolucci, Marco Bellocchio, Pier Paolo Pasolini e Elda Tattoli. O filme está intimamente relacionado com as mudanças sociais, políticas e culturais que ocorriam no mundo todo na época da sua realização. 

Assim, Bertolucci filma um segmento com a participação dos integrantes do grupo teatral de vanguarda 'The Living Theatre', de Julian Beck, Bellocchio faz uma aula fake em uma Universidade e na qual os estudantes questionam e confrontam os seus professores, mostrando quais eram os fatores que os colocavam em conflito com os mesmos e ainda contestavam as estruturas da instituição universitária. 

Godard, por sua vez, filma uma história de amor, enquanto que Pasolini filma um segmento no qual critica a passividade e o conservadorismo das pessoas, principalmente daquelas que integram a classe média. 

Estes projetos coletivos eram relativamente comuns nos anos 1960 e Godard participou de vários, e sempre com outros cineastas italianos, em especial, como foi o caso de 'Ro.go.pa.g' (1963), quando filmou um segmento e Roberto Rossellini, Pasolini e Ugo Gregoretti filmaram os demais.
 
Cena de 'British Sounds' (1969), filme que foi realizado no Reino Unido e que foi encomendado por uma emissora de TV britânica, mas que se recusou a exibir o filme devido ao seu conteúdo explicitamente revolucionário. As referências à pintura ficam claras na cena... ao fundo vemos o quadro 'Guernica', de Pablo Picasso.

7) British Sounds/See You at Mao (JL Godard e Jean-Henri Roger; 1969; 52 minutos)!

Este filme foi feito em regime de colaboração entre Godard e Jean-Henri Roger, um jovem estudante maoísta francês com quem o consagrado cineasta francês passou a trocar ideias a respeito da necessidade de se criar uma nova maneira de se realizar filmes, de forma coletiva (sem autoria definida) e com finalidade política e revolucionária. 

O filme foi encomendado por uma emissora de TV do Reino Unido (a 'South London Weekend Television'), onde as filmagens foram realizadas (em Março de 1969). O filme é dividido em seis segmentos, que incluem temas como exploração do proletariado, feminismo, luta de classes, marxismo, nacionalismo radical e xenófobo, racismo, estudantes maoístas e Revolução. 

O caráter explicitamente revolucionário do filme fez com que a emissora britânica desistisse de exibir o mesmo, limitando-se a fazer um programa, posteriormente, no qual o filme foi duramente atacado, pois este fazia a defesa explícita da necessidade de se promover uma Revolução Socialista no Reino Unido.
 
Cena de 'Pravda' (1969), filme que foi realizado de forma clandestina na Tchecoslováquia, entre Março e Abril de 1969, por Godard, Jean-Henri Roger e Paul Burron.

8) Pravda (JL Godard, JH Roger, Paul Burron; 1969; 58 minutos)!

Este filme foi feito inteiramente na Tchecoslováquia, entre Março e Abril de 1969 (outras fontes dizem que foi em Junho de 1969), poucos meses depois da invasão do país pelas tropas do 'Pacto de Varsóvia' que colocou fim à chamada 'Primavera de Praga'. Godard, Henri Roger e Paul Burrón foram até a Tchecoslováquia, onde fizeram as filmagens, de maneira inteiramente clandestina. 

'Pravda' também foi encomendado por um emissora de TV, desta vez por um canal da Alemanha (West Germany Television). O filme combina cenas do cotidiano da Tchecoslováquia, nas cidades e na área rural, com outras imagens filmadas diretamente dos canais de TV do país.

O filme é fortemente influenciado pelo Maoísmo, como todos os filmes feitos por Godard neste período, e ataca duramente aos governos da URSS e da própria Tchecoslováquia, que são vistos como sendo 'Revisionistas', pois ambos teriam abandonado a pretensão de levar adiante uma Revolução Socialista de alcance global, escolhendo a via da 'Coexistência Pacífica' com os EUA e com o mundo Capitalista.  

Aliás, os realizadores do filme demonstram claramente que a economia da Tchecoslováquia tinha sido fortemente penetrada por empresas capitalistas originárias dos EUA, Japão, Alemanha Ocidental e Itália, deixando a entender que o modelo de Socialismo Real do país possuía vários elementos capitalistas. 

Assim, o filme mostra que as sociedades ditas Socialistas da Europa Centro-Oriental e da URSS estavam enfrentando uma forte crise em seu modelo e já apontam para um futuro no qual elas acabariam sendo derrotadas pelo Capitalismo ocidental. 

São feitas várias entrevistas com operários, estudantes e camponeses do país, sendo que no filme procura-se colocar em evidência o fato de que o governo Socialista não estava adotando as medidas preconizadas e defendidas por Lenin.
 
Cena de 'Vento do Leste', filme que conta com a participação de Glauber Rocha. As filmagens foram bastante tumultuadas e Godard e Gorin foram obrigados a assumir o controle da situação para poder finalizar o filme. Como disse Gorin, no fim das contas o 'Grupo Dziga Vertov' acabou sendo um grupo formado por duas pessoas (ele e Godard, é claro).

9) Le Vent d'Est (O Vento do Leste; JL Godard e JP Gorin; 1969; 89 minutos)!

Este foi o primeiro filme em que Godard e Gorin colaboraram ativamente e pode ser considerado o primeiro filme do Grupo Dziga Vertov. Eles já vinham trocando muitas ideias sobre Cinema há dois anos, desde a época em que Gorin trabalhou como consultor no filme 'La Chinoise' (A Chinesa'; 1967). As filmagens foram realizadas na Itália e a ideia deles era fazer um 'Faroeste Revolucionário'. 

No entanto, o projeto de 'Vento do Leste' não andava, devido às intermináveis discussões entre os membros do Grupo Dziga Vertov, que se davam entre os maoístas e os anarquistas libertários, sendo que também tínhamos a presença de alguns comunistas ligados aos partidos tradicionais do Ocidente, principalmente do PCF (Partido Comunista Francês) e do PCI (Partido Comunista Italiano). 

Em função disso, Godard perdeu a paciência e chamou Gorin para que, juntos, realizassem as filmagens, mas ele não teve como fazer isso pois estava hospitalizado em Paris. Assim, Gorin pediu para que um dos seus melhores amigos (Raphael Sorin) fosse até a Itália a fim de ajudar Godard a concluir o filme. Mas isso não foi possível e, com isso, Godard praticamente intimou que Gorin fosse até a Itália, para que pudessem concluir o filme juntos, o que acabou acontecendo.

Para que isso fosse possível, Godard e Gorin tiveram que dar um verdadeiro 'Golpe de Estado' dentro do Grupo Dziga Vertov para que o filme pudesse ser finalizado. Gorin disse que 'o que aconteceu foi que os dois marxistas que realmente estavam querendo fazer o filme tomaram o poder', enquanto Godard concluiu dizendo que 'todos os anarquistas foram à praia'. 

E a colaboração entre Godard e Gorin foi tão produtiva em 'Vento do Leste' que eles fizeram mais cinco filmes juntos, finalizando a sua colaboração com 'Letter to Jane', em 1972. 

O nome do filme é originário de uma afirmação feita por Mao Tse-Tung. Este dizia que os ventos revolucionários vinham do Leste (da Ásia), e não mais do Ocidente, ou seja, da Europa, pois a URSS teria optado por seguir o caminho da política de 'Coexistência Pacífica' com o Capitalismo e não mais se preocupava em apoiar Revoluções que o destruíssem.
 
Cena de 'Lotte in Italia', com a atriz Cristiana Tullio-Altan interpretando uma jovem estudante que militava no grupo de Extrema-Esquerda italiano 'Lotta Continua'.

10) Lotte in Itália (Lutas Ideológicas na Itália; JL Godard e JP Gorin; 1970; 60 minutos)! 

Apesar do título se referir à Itália, o filme foi feito quase que inteiramente no apartamento de Godard e Anne Wiazemsky, em Paris, em Dezembro de 1969, tendo sido filmado em 16mm e que inclui também alguns pequenos trechos filmados em fábricas italianas, localizadas em Roma e Milão.

Na maior parte do filme vemos uma estudante italiana (Paola Taviani), que é uma militante do movimento de extrema-esquerda 'Lotta Continua', que era muito forte e influente na Itália da época. Ela faz um longo discurso sobre a necessidade dela de se conscientizar política e ideologicamente, reconhecendo a necessidade de romper com a sua origem e formação burguesas.

O roteiro do filme se baseou no conceito de ideologia do filósofo Louis Althusser, que foi publicado no livro 'Lenin et la Philosophie', e consta que o filósofo assistiu ao filme e que teria se emocionado e chorado durante a sua exibição. 

Por isso mesmo é que em uma grande parte do filme a jovem estudante revolucionária faz uma análise com base no conceito de 'Aparelhos Ideológicos de Estado', que incluem a Família, a Justiça, a Mídia, o Sistema Político, a Igreja e a Escola.

Gorin disse que o filme procura criticar a passividade e o comodismo do público que assistia aos filmes feitos pelo Grupo Dziga Vertov, que pretendiam estimular um espírito revolucionário junto ao público, mas isso não acontecia. Gorin disse que esta foi uma das razões principais que o levou a abandonar o Grupo Dziga Vertov.
 
Cena de "Jusqu'à la Victoire" (Até a Vitória 1970). O filme ficou inacabado porque o governo da Jordânia promoveu um horripilante massacre contra os membros da OLP e quase todas as pessoas que aparecem no filme foram assassinadas.

11) Jusqu'à la Victoire (Até a Vitória; JL Godard; JP Gorin; 1970)!

Este filme que foi realizado, por Godard e Gorin, no Líbano e na Jordânia e trata da luta dos Palestinos para manter as suas terras, que estavam sendo conquistadas militarmente pelo Estado de Israel desde a criação do mesmo em 1948. O financiamento, no valor de US$ 20 mil dólares, foi fornecido pela Liga Árabe

As filmagens foram interrompidas porque o dinheiro acabou e, assim, Godard e Gorin tiveram que voltar para a França, onde fizeram um outro filme ('Vladimir e Rosa') com o objetivo de conseguir dinheiro para finalizar 'Até a Vitória'.

Porém, o filme ficou inacabado porque o governo da Jordânia promoveu um massacre, em Setembro de 1970, contra os palestinos que viviam no país justamente na época em que Godard e Gorin se encontravam na França.

Posteriormente algumas cenas foram editadas por Godard e elas acabaram sendo incluídas por ele e Anne-Marie Miéville em 'Ici et Ailleurs' (Aqui e em Qualquer Lugar; 1976), no qual eles debatem sobre o filme e fazem uma análise crítica sobre os motivos daquela intensa atividade política de Godard não ter dado bons resultados.

Estas reflexões ajudarão Godard a, posteriormente, reavaliar a sua trajetória como cineasta e irão contribuir para que ele retome a sua carreira em termos um pouco mais convencionais, dando início ao chamado 'Período Tardio' de sua obra, que começou com o lançamento do filme "Sauve qui peut (la vie)", em 1980.
 
A atriz Juliet Berto em uma cena de 'Vladimir e Rosa' (1970). Ela já havia trabalhado em vários filmes de Godard, incluindo 'Duas ou Três Coisas Que Eu Sei Sobre Ela' (1967), 'A Chinesa' (1967) e 'Le Gai Savoir' (1968). 

12) Vladimir e Rosa (JL Godard e JP Gorin; 1971; 96 minutos)!

Este filme trata, principalmente, do julgamento dos chamados 'Oito de Chicago', manifestantes que participaram dos protestos que se realizaram durante a Convenção Nacional do Partido Democrara, em 1968, e que devido aos tumultos que ocorreram acabaram sendo presos e julgados. 

Godard estava nos EUA na época do julgamento, onde começou a fazer o filme 'One American Movie', que ficou inacabado e que foi finalizado por D. A. Pennebaker em 1971, e assim ele teve a oportunidade de acompanhar o mesmo. 

Porém, o que Godard faz no filme é uma simulação do julgamento, que ele viu como uma demonstração de força do Estado capitalista contra os jovens militantes esquerdistas dos EUA. 

Assim, o filme é inteiramente filmado em um ambiente fechado e vemos apenas os argumentos usados pela defesa e pela acusação durante o mesmo, com atores representando o juiz, os membros do júri e os acusados.
 
Jane Fonda participou de 'Tout va Bien' (1972), no qual Yves Montand também atuou. Nota-se a influência da pintura na cena, pois o gesto dela é uma reprodução do quadro que aparece no fundo. A Pintura sempre foi um elemento fundamental na obra de Godard. 

13) Tout va Bien (JL Godard e JP Gorin; 1972; 96 minutos)!

Filme de Godard e Gorin que contou com a participação de duas grandes estrelas do Cinema da época, Jane Fonda e Yves Montand, que eram ativistas políticos ligados às causas da Esquerda ocidental. Este foi o único filme realizado por Godard e Gorin que se voltou para o circuito comercial e que, segundo Gorin, pretendia fazer sucesso e gerar lucro, o que não acontecia com os filmes anteriores do Grupo Dziga Vertov. 

Mas isso não aconteceu, talvez porque os temas do filme, que são as lutas operárias e estudantis na França do início dos anos 1970, continuaram possuindo um forte elemento político e ideológico, tendo um caráter e finalidade claramente político e revolucionário. 

Os conflitos políticos, sociais e ideológicos que ocorrem na França são o principal elemento do filme, incluindo duras críticas ao PCF (Partido Comunista Francês) e à CGT, central sindical que é ligada ao PCF. Em uma cena, inclusive, vemos um dirigente do PCF vendendo o programa do partido em um hipermercado do Carrefour. 

Godard disse, posteriormente, que este é um filme mais de Gorin do que dele mesmo. O fato de que o filme conta com uma narrativa mais elaborada é uma comprovação disso, pois Gorin afirmou que ele queria contar histórias com uma narrativa bem definida, enquanto que Godard era contra isso. Esta divergência contribuiu, disse Gorin, para o fim da colaboração entre eles.
 
Yves Montand e Jane Fonda em uma cena de 'Tout va Bien' (1972).

O filme combina duas histórias principais, que estão relacionadas entre si. 

A primeira história é a de um movimento grevista em uma indústria de laticínios francesa e na qual os trabalhadores assumiram o controle da empresa, mantendo o diretor no local, passando a ignorar as negociações que se realizavam entre os empresários do setor e a CGT, que era a principal central sindical do país e que negociava em nome dos trabalhadores. 

E a segunda história gira em torno de um casal formado por uma jornalista originária dos EUA, que se chama Suzanne e que é correspondente na França (ela é interpretada por Jane Fonda) e um diretor de cinema chamado Jacques (interpretado por Yves Montand) que, antigamente, era ligado à Nouvelle Vague mas que passou a trabalhar como diretor de comerciais e que vive uma crise ligada à sua militância política. 

A história de Jacques mistura elementos da própria história de Godard (ser ligado à Nouvelle Vague) e de Montand, que era ligado ao PCF, embora este nunca tenha sido filiado ao partido.

Nesta segunda trama também vemos os conflitos entre o casal, cuja relação está em crise, o que era uma característica muito forte nos EUA e na Europa na durante a década de 1970, bem como os problemas que eles enfrentam em seus respectivos ambientes de trabalho. 

Também temos cenas que estabelecem uma conexão com o Maio de 68, com a correspondente radicalização de setores do movimento operário e estudantil após o fim do mesmo, durante o Pós-Maio de 68, bem como a repressão que se promoveu contra estes segmentos radicalizados.

'Letter to Jane' (1972) foi o último filme do Grupo Dziga Vertov. Godard e Gorin se separaram logo após o seu término. Gorin disse que um dos motivos que gerou a separação foi que ele era atacado por críticos que o comparavam com Yoko Ono.

14) Letter to Jane: An investigation About a Stil (Jean-Luc Godard e Jean-Pierre Gorin; 1972; 52 minutos)! 

Este foi o último filme que acabou sendo creditado ao Grupo Dziga Vertov, que se extinguiu após a conclusão do mesmo, e no qual Godard e Gorin fazem uma dura análise crítica de uma fotografia na qual Jane Fonda aparece conversando com norte-vietnamitas (ouvindo o que eles diziam) e que foi reproduzida em uma edição da revista semanal francesa "L'Express" (publicação de 31 de Julho/06 de Agosto de 1972). 

Godard e Gorin procuram demonstrar que a maneira como a revista publicou a fotografia evidenciava o seu caráter paternalista, pois na mesma Jane aparece olhando de cima para baixo e o norte-vietnamita aparece desfocado, embora seja possível perceber que ela é que está ouvindo o norte-vietnamita falar. 

Logo, a intenção de Jane Fonda, de usar a viagem para demonstrar o seu apoio à causa vietnamita acabou sendo distorcida pela revista, que transformou a viagem dela em uma manifestação do paternalismo ocidental em relação aos povos colonizados e exploradores da África, Ásia e América Latina. Godard e Gorin denunciam essa manipulação grotesca da revista.

A análise feita por eles se baseou nas concepções de Roland Barthes e, de certa maneira, é uma espécie de 'podcast visual', pois o formato do filme lembra o dos atuais podcasts, nos quais se escolhe um tema e se analisa o mesmo, com a diferença de que 'Letter to Jane', foi feito em formato de vídeo. 

Depois do filme, Jean-Pierre Gorin deixará o Grupo Dziga Vertov e irá para os EUA, onde se tornou Professor de Cinema na Universidade da Califórnia e dará sequência ao seu trabalho como cineasta. 

Enquanto isso, Godard irá se associar com a cineasta Anne-Marie Miéville, com quem ele fundou uma produtora independente chamada 'SONIMAGE'. 

Godard e Anne-Marie irão realizar inúmeros trabalhos em regime de colaboração, incluindo pesquisas com Vídeo, Séries de TV, documentários e longas-metragens. Com isso, ele dará continuidade à sua trajetória de cineasta inquieto, questionador, produzindo um cinema altamente experimental e inovador.
 
Anne-Marie Miéville e Jean-Luc Godard, em uma cena de 'Soft and Hard' (1985). Ela teve um papel fundamental para que Godard se reinventasse como cineasta e desse um novo início à sua trajetória como cineasta, o que irá acontecer a partir de "Sauve qui peut (la vie)" (1980).

15) Ici et Ailleurs (Aqui e em Qualquer Lugar; JL Godard e Anne-Marie Miéville; 1970-1976; 53 minutos)! 

Este filme foi realizado quando o Grupo Dziga Vertov já não existia mais e incluiu cenas editadas, por Godard e Anne-Marie Miéville, do inacabado filme 'Até a Vitória' (1970), feito por Godard e Gorin junto aos Palestinos na Jordânia, Síria e Líbano que lutavam para defender as suas terras, mas que acabaram massacrados pelo governo da Jordânia em Setembro de 1970. 

Aliás, quase todos os palestinos que aparecem no filme foram assassinados neste momento pelo governo jordaniano, que traiu a luta dos Palestinos e, nos anos seguintes, acabou por se tornar um aliado dos EUA e de Israel. 

O filme analisa criticamente a época maoísta e revolucionária de Godard, o que o levou a reavaliar a sua atuação como cineasta, permitindo que recomeçasse a sua carreira em novas bases. Neste sentido, a cineasta Anne-Marie Miéville desempenhou um papel fundamental com a sua visão crítica.
 
Livro 'Grupo Dziga Vertov', organizado por Jane de Almeida, que foi escrito para uma mostra que ocorreu sobre os filmes do GDV no CCBB em 2005 e que contou com a participação do próprio Jean-Pierre Gorin. O livro conta com excelentes textos a respeito desta fase da carreira de Godard e de Gorin. 

Links:

Trecho do filme 'One Plus One'/'Sympathy for the Devil':
https://www.youtube.com/watch?v=aAjC2L4hKBM

Jefferson Airplane tocando em Nova York sobre o topo de um edifício em Novembro de 1968 - Trecho do filme 'One Parallel Movie':
https://www.youtube.com/watch?v=vuwMEiNg3B8

Jean-Pierre Gorin fala sobre o Grupo Dziga Vertov no CCBB em 2005 (traduzido):
https://www.youtube.com/watch?v=vx3YGpSjcdQ&t=2825s

Godard e Gorin: Box de Bluray com 5 filmes feitos na época do Grupo Dziga Vertov:
https://www.youtube.com/watch?v=NwlaPp5VwOU&t=209s

Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado - Louis Althusser - Uma Resenha:

Cinco razões para se conhecer o trabalho do Grupo Dziga Vertov:
https://www.bfi.org.uk/news-opinion/news-bfi/features/jean-luc-godard-dziga-vertov-group

Imagens inéditas do filme que Godard fez com os The Rolling Stones:
https://www.bfi.org.uk/news-opinion/news-bfi/features/rolling-stones-jean-luc-godard-sympathy-devil

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