'For Ever Mozart': Godard mostra a incapacidade da Arte de lutar contra a brutalidade das guerras e a selvageria humana!

'For Ever Mozart': Godard mostra a incapacidade da Arte de lutar contra a brutalidade das guerras e a selvageria humana! - Marcos Doniseti!
 
'For Ever Mozart' (1996): Filme de Godard mostra a impotência dos artistas em fazer algo de concreto contra a violência e a brutalidade de guerras criminosas e sanguinárias que ocorrem pelo mundo afora. Godard sempre foi um crítico feroz das guerras e, neste filme, o alvo das suas críticas foi a 'Guerra da Bósnia'. O filme foi inspirado na encenação de 'Esperando Godot', por Susan Sontag e atores locais, em Sarajevo, em 1993.

Resumo 
Nesse texto procuro demonstrar de que maneira o cineasta Jean-Luc Godard, em 'For Ever Mozart', tratou de deixar claro a sua indignação com a brutal guerra que assolou a Bósnia, entre 1992-1995, e de que forma ele manifestou a sua impotência, bem como a dos artistas e da Arte em geral, em atuar no sentido de terminar com a guerra, que trouxe de volta para a Europa realidades como as da limpeza étnica e dos campos de concentração. Também demonstro que Godard estruturou o seu filme como se fosse uma Sonata, dividindo o mesmo em quatro partes. E no final, Godard conclui que, frente aos horrores da realidade, ele apenas pode contar com a Arte para se sentir e se manter vivo.  
A produção de 'For Ever Mozart'!
 
'For Ever Mozart' é uma produção de 1996 e Godard o realizou em uma época na qual a Europa estava enfrentando a pior situação política e militar desde o final da Segunda Guerra Mundial, com o estouro da chamada 'Guerra da Iugoslávia' (na verdade, foram várias guerras) e que durou de 1991 a 2001. 
 
Na época em que Godard fez este filme estava em andamento uma brutal e violentíssima guerra que afetava a Bósnia, que durou de Abril de 1992 até Dezembro de 1995. Estimativas apontam que a Guerra da Bósnia provocou cerca de 200 mil mortes e também fez com que mais de 1,3 milhão pessoas se tornassem refugiadas.
 
A Guerra da Bósnia envolveu, essencialmente, três grupos étnicos e religiosos, que foram os Bósnios Muçulmanos, os Sérvios Cristãos Ortodoxos e os Croatas Católicos. Ela também foi marcada pelo retorno de políticas brutais que os europeus imaginavam que não voltariam a acontecer no continente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como a limpeza étnica e os campos de concentração.

Tudo isso deixou Godard completamente horrorizado e ao fazer este filme ele deixa claro o quanto a Guerra da Bósnia o afetou. Porém, o cineasta franco-suíço não se preocupou em mostrar os motivos e as causas da Guerra da Bósnia, mas sim em deixar claro os horrores que ela gerou para os envolvidos e para as vítimas, mesmo para aquelas pessoas que não tinham envolvimento direto no conflito.


As filmagens foram realizadas em pequenas e pacatas cidades localizadas próximas à Genebra, onde Godard voltou a morar, em 1977, junto com Anne-Marie Miéville, depois de muitos anos, e lá permaneceu até os seus últimos dias, vivendo em Rolle, uma pequena cidade próxima de Genebra e na qual desfrutou de uma vida tranquila e onde ninguém o incomodava quando ele comprava jornais ou passeava pela cidade.


No filme nós temos três histórias, que estão conectadas entre si, sendo que elas se dividem em quatro partes: Teatro, Guerra, Filme e Concerto.
 
No início do filme vemos um livro sobre a obra de Goya. A pintura 'Os Fuzilamentos de 3 de Maio' é uma das mais conhecidas obras do genial pintor espanhol e retrata os horripilantes massacres que ocorreram na Espanha e na Europa durante as Guerras Napoleônicas. Ao citar Goya, Godard traça uma linha mostrando que a história da Europa é baseada em guerras e massacres que começaram há séculos. Goya é muito citado nos filmes de Godard, principalmente em 'Passion' (1982).

A trama do filme!
 
 
Um diretor de cinema de origem francesa e suíça, Vicky Vitalis (interpretado por Vicky Messica), planeja a realização de um filme ('Bolero Fatal'), mas tem problemas para fazer a escolha do elenco, pois não fica satisfeito com os atores e atrizes que aparecem nos testes que realiza para poder viabilizar a produção. 
 
Desta maneira, frustrado, ele decide fazer a escolha do elenco depois das férias de verão e, enquanto isso, decide ajudar a sua filha, Camille, que é uma jovem e bonita professora de Filosofia que está desempregada, e um sobrinho (Jerome), que trabalha com Vitalis na escolha do elenco para o filme 'Bolero Fatal'.
 
Os dois jovens estão planejando a encenação de uma peça de teatro de autoria de Alfred de Musset ('Não se deve brincar com o Amor') em Sarajevo, mesmo em meio à brutal guerra que ocorre na Bósnia.
 
E mesmo com essa ideia maluca, e virtualmente suicida, em mente, os jovens Camille e Jerome recebem a adesão, para o seu arriscado projeto, da empregada da família (Djamilla), uma jovem de origem árabe que acabará ganhando um papel (de Rosette) na peça de teatro que eles planejam encenar em Sarajevo.
 
Desta maneira, junto com Vitalis, eles viajam de trem para a Bósnia com o objetivo de encenar a peça de Musset. Somente a mãe de Jerome é que deixa claro a sua oposição à essa ideia, que ela considera como sendo o mesmo que cometer suicídio. Essas duas tramas, que envolvem Arte e Política, Cinema e Guerra, terminarão por se misturar, e por meio de seus personagens.
 
Jerome é o sobrinho de Vitalis, um diretor de Cinema Autoral. Junto com Vitalis, com a prima Camille e Djamilla ele tentará apresentar uma peça de teatro em Sarajevo em meio à brutal Guerra da Bósnia. Ao fundo da imagem vemos um cartaz com as expressões "Esperance" e "L'Espoir", que possuem significados distintos. "L'Espoir" é o título de um livro e de um filme de André Malraux sobre a 'Guerra Civil Espanhola' (1936-1939), outra guerra brutal e que antecipou os horrores da Segunda Guerra Mundial.

Logo, teremos inúmeras reflexões, pensamentos e ideias sobre Arte, Política, Filosofia, Guerra e Cinema, além de termos inúmeras referências e citações (Goya, Shakespeare, Malraux, Marivaux, Musset, Mozart, Fellini, Bernanos, Braudel, Michelet...) que, de alguma maneira, estão relacionadas com os temas que são desenvolvidos por Godard neste belo filme.


Assim, vemos o nome de Malraux em um livro, sendo que no início do filme também temos um cartaz onde está escrito "L'Espoir" (A Esperança), que é o nome de um livro de Malraux sobre a luta dos Republicanos na Guerra Civil Espanhola e da qual o intelectual francês participou ao lado do governo eleito da Frente Popular.  


Também temos um livro de Goya, ao lado do diretor Vitalis, quando o mesmo fazia o teste com os atores. E o pintor espanhol foi outro que, em muitas pinturas, retratou o horror das Guerras Napoleônicas, pois o Imperador francês mandou invadir a Espanha em 1807.


O filme de Godard está repleto de citações sobre as inúmeras Guerras que tiveram a Europa como palco e ele mostra que isso ocorre há séculos. Assim, Godard mostra que a Europa possui uma longa tradição de guerra e violência.
 
Depois da Segunda Guerra Mundial as guerras pareciam ter desaparecido do continente europeu, mas as Guerras da Iugoslávia mostraram que isso não era verdade, o que deixou Godard perplexo e horrorizado, embora ele mesmo tenha antecipado que isso iria acontecer, tal como ficou claro em seu filme semidocumental "Alemanha 90 Novo Ano Zero" (1991).

O escritor francês Georges Bernanos também é citado em 'For Ever Mozart' (1996). Assim, quando o ministro da Defesa francês (Paul) conversa com Harry, Sarah e com a mãe de Jerome, ele cita um texto de autoria de Bernanos intitulado "La liberté, pour quoi faire?" ('Liberdade? Para que?').
 
Harry é um escritor que faz reflexões sobre a situação da Europa nos anos 1990, que é marcada por crescentes desigualdades sociais e pelo ritmo acelerado da vida moderna. Para o 'The New York Times' o filme é "uma elegia primorosamente bela ao sonho do Cinema como Arte. 'For Ever Mozart' é um filme a ser saboreado".

Obs1: Bernanos era um escritor francês católico e monarquista e, logo, era um conservador. Porém, quando foi morar na Espanha ele viu os massacres e horrores cometidos pelas tropas Franquistas, sobre os quais escreveu um excelente livro ('Os Grandes Cemitérios Sob a Lua'). Assim, ele passou a lutar contra o Nazifascismo e contra o regime colaboracionista da 'República de Vichy', liderado pelo Marechal Pétain.
 
Obs2: Bernanos chegou a morar no Brasil durante vários anos, entre 1938 e 1945, e se integrou à Resistência liderada pelo general Charles De Gaulle (Movimento França Livre), fugindo dos horrores que ocorriam na Europa, para a qual retornou depois do fim da Guerra, voltando a viver na França, onde morreu, em Julho de 1948.

E uma das muitas citações que temos no filme é a respeito do filme 'La Strada' (1954), quando um narrador, muito rapidamente, fala 'É Arrivato Zampanò', que é o nome de uma música, de autoria de Nino Rota, que faz parte da trilha sonora deste clássico filme de Federico Fellini. Zampanò é o nome do personagem de Anthony Quinn.
 
Também temos uma homenagem a Antonioni, em especial à sua obra-prima 'Blow Up' (1966), quando vemos, no início, dois homens jogando um futebol imaginário. Aliás, um dos 'jogadores' era o próprio Godard, que joga como goleiro, o que é uma referência à sua adolescência na Suíça, quando jogava na posição de goleiro.

A paixão de Godard pela Filosofia também fica clara, neste filme, quando Camille, mesmo em meio a uma situação trágica, diz o seguinte: "A Filosofia será a nossa namorada. Para sempre. Mesmo que ela perca o nome. Mesmo na ausência dela".


O filme que Vitalis tenta viabilizar ('Bolero Fatal'), tal como
'For Ever Mozart', é uma obra de caráter autoral e, portanto, não visa o lucro.
 
Em função disso ele entrará em conflito com o produtor do filme (Barão Felix), pois o mesmo quer impor a sua vontade ao veterano diretor, escolhendo o elenco e determinando como deve ser o roteiro. Com isso, Vitalis acabará desanimando e terminará desistindo de concluir o filme, que não é de sua autoria.

Como sempre acontece nos filmes de Godard, em 'For Ever Mozart' nós temos inúmeras referências literárias, filosóficas, pictóricas, musicais, históricas... E uma delas é o livro de Manuel Azaña, intelectual que foi Presidente da Espanha durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

É evidente que Vitalis, um cineasta cansado da vida na indústria do cinema, é um alter ego de Godard, que sempre teve problemas com os produtores que financiaram os seus filmes, sobre os quais o cineasta sempre procurou manter o controle e ter a última palavra. Godard já havia demonstrado isso em 'Le Mépris' (1963), um dos seus maiores clássicos.
 
O fato de que ele voltou ao assunto em um filme depois de 33 anos mostra que os produtores continuam tão gananciosos como sempre foram. Assim, em 'For Ever Mozart'/'Bolero Fatal' os cineastas Godard/Vitalis demonstram estar cansados de ter que defender a sua obra dos produtores que visam apenas o lucro e que não ligam a mínima para a Arte. 

E como nos filmes de Godard tudo é pensado nos mínimos detalhes, o nome Vitalis é de origem latina significa 'o que dá vida', ou seja, para Godard o cineasta é quem dá vida à arte cinematográfica e não os produtores, que desejam apenas ganhar dinheiro. Logo, para Godard, o Cinema e a Arte são sinônimos de Vida, enquanto que a busca do lucro pelos produtores, tal como a Guerra, representa a Morte. 


Entendo que essa dualidade é a ideia central de
'For Ever Mozart', onde a Arte (Teatro, Música Erudita, Cinema Autoral), ou seja, a Vida, procura enfrentar a Morte (Cinema Comercial, Guerra). Aliás, a ideia de Dualidade sempre esteve presente em toda a obra de Godard, em todas as fases da sua longa trajetória.
 
Godard faz uma pequena participação em 'For Ever Mozart', logo no início do filme, quando joga futebol imaginário. Essa é uma clara homenagem à obra-prima 'Blow Up', de Antonioni, de quem Godard foi amigo e por quem nutria um grande respeito. E também é uma lembrança da adolescência de Godard na Suíça, quando jogava na posição de goleiro do time. Godard sempre praticou vários esportes: esqui, futebol, natação, basquete, tênis.
 

Assim, enquanto em 'For Ever Mozart' um general sérvio (chamado Madlic) procura lucrar com a Guerra, libertando alguns reféns em troca de dinheiro, libertação que seria paga pela Cruz Vermelha, em 'Bolero Fatal' o cineasta Vitalis enfrenta fortes pressões para se submeter à vontade de lucrar do financiador do seu projeto, que é o Barão Felix. 

Logo, na visão de Godard, o
produtor de 'Bolero Fatal' e o general sérvio Madlic cometem o mesmo crime, que é o de querer lucrar com a Morte. A única diferença é que o primeiro lucra com a morte da Arte e o segundo lucra com a morte de seres humanos. 


Assim, para Godard, ambos são criminosos. E no filme fica claro o que Godard  realmente gostaria de fazer, ou seja, interferir de alguma forma para que aquela brutal e absurda Guerra da Bósnia fosse encerrada, embora reconheça a impotência da Arte para conseguir atingir tal objetivo.
 
Godard também mostra que gostaria que a história do Cinema tivesse tomado outro rumo, quando um dos personagens, o cineasta frustrado Vitalis, diz o seguinte: "Deve ser por isso que sempre senti uma profunda tristeza no Cinema. Tanto uma possibilidade de expressão, quanto o rastro de algo essencial, destruído".
 
Camille e Jerome escolhem uma peça de Alfred de Musset para encenar em Sarajevo, mesmo em meio à brutal Guerra da Bósnia.

Logo, não é à toa que, quando os quatro (Vitalis, Camille, Jerome e Djamilla) estão viajando para Sarajevo, em determinada cena o diretor Vitalis diz: 'Vamos Camille, pela França', e logo depois a filha responde 'Pela França'.

Entendo que esse pequeno diálogo reflete o que Camille e Vitalis pensam (logo, Godard), ou seja, que a França tem uma responsabilidade no sentido de fazer algo de concreto para acabar com aquela guerra brutal que é travada na Bósnia, terminando com todos os horrores que são provocados pela mesma. E ao querer encenar a peça de Musset em Sarajevo, eles também tentam fazer com que a Arte (a Vida) triunfe sobre a Guerra (a Morte).
 
E como as lideranças políticas francesas (seu governo, em especial), não fazem o esforço necessário neste sentido (isso fica claro quando a mãe de Jerome pede ajuda, ao ministro da Defesa, para salvar o filho e os demais, e o mesmo diz que pouco pode fazer neste sentido).

Aliás, é bom ressaltar que, no filme, Camille diz ser a neta do escritor Albert Camus, um intelectual de perfil Humanista que atuou na Resistência Francesa e que, portanto, participou da luta contra a ocupação nazista do seu país (1940-1944). Isso significa que Vitalis seria o filho de Camus.
 
E Camille completa dizendo que quando os filhos crescem eles passam a pertencer aos avós e não mais aos pais. Assim, ela se vê levando adiante o mesmo tipo de luta do seu avô Camus. 
 
A jovem de origem árabe também viaja junto com Camille, Jérome e Vitalis, para tentar interpretar a peça de Musset em Sarajevo.
 
E para justificar a sua concordância com esse projeto altamente arriscado, Vitalis diz que ouviu de um intelectual espanhol (Juan Goytisolo) que "A história da Europa, nos anos 90, é uma simples repetição, com ligeiras variações sinfônicas, da covardia e caos dos anos 1930".

Portanto, Vitalis e Camille se veem como herdeiros de uma longa tradição francesa de luta em defesa da Justiça e de uma postura marcada pelo Humanismo. Não se trata, aqui, de lutar em defesa de uma ideologia específica (Anarquismo, Socialismo...), pois não há qualquer indício disso neste belo filme de Godard, mas em favor da humanidade e da arte.


E em outra cena que está relacionada com esta ideia, vemos Harry (amigo da mãe de Jerome) dizer o seguinte para Vitalis: 
 
"Pelo que somos responsáveis? Pelo que fazemos e pelo que deixamos acontecer, quando podemos evitá-lo. Um é ativo e outro é passivo. Sim, de importância desigual... Mas matar um filho é outra coisa, algo pior... No primeiro caso você é responsável por omissão. No segundo você é responsável por excesso. Um excesso de violência, de ódio. Não é pior o excesso do mal, do que uma ausência do bem?". 

Camille e o seu pai (Vitalis) decidem levar adiante um projeto altamente arriscado, que é o de apresentar uma peça de Musset em Sarajevo durante a Guerra da Bósnia. Ela é neta de Albert Camus, que fez parte da Resistência contra o Nazifascismo. Assim, Godard estabelece uma das várias linhas históricas que temos no filme, desta vez envolvendo pessoas com características humanistas que lutam contra as guerras e as injustiças.

E no momento em que Harry fala sobre matar um filho como sendo algo muito pior nós vemos neve caindo sobre o corpo de Djamila, que dorme exposta a um frio congelante e, portanto, poderá morrer a qualquer momento devido à omissão daqueles que poderiam fazer alguma coisa para encerrar aquela Guerra brutal ou, pelo menos, para resgatá-los.

Assim, Godard está exigindo que os europeus façam alguma coisa para terminar com todos os horrores da 'Guerra da Bósnia' (assassinatos, estupros, limpeza étnica, campos de concentração) e que ele mostra no filme.

Outro tema presente no filme de Godard é a questão das desigualdades sociais, que aumentaram bastante nos países desenvolvidos nas últimas décadas, incluindo os países da Europa. E temos uma frase que é dita várias vezes no filme e que faz uma referência direta a isso, que é a seguinte:
"Reis almoçam, príncipes jantam, ao povo migalhas".


Portanto, a questão de ser ou não passivo, de agir ou não no sentido de se modificar uma realidade que é fortemente marcada por imensas e crescentes desigualdades sociais, também está presente neste bonito, sensível e reflexivo filme de Godard.

Assim, no começo do filme, Harry diz o seguinte: "São as pessoas simples que tem aspirações. Não é o mundo moderno. Exatamente como os santos que amam e expiam por nós. Em toda parte, em nossa pobre Europa, a tradição de aspirações modestas está nas mãos dos pobres. Como costureiras velhas cujas rendas funcionam, como nenhuma máquina poderia fazê-lo. Você dirá que esses pobres tolos"... 


E daí a sua assistente pergunta: 'Viver de acordo com as aspirações não é mais louvável do que esperar viver?' E Harry responde: 'Provavelmente'. 
 
Camille em frente ao Lago é uma das belas cenas que temos no filme. Neste, Godard também faz experiências com o som, um elemento que sempre esteve presente em sua vasta obra. Entre os significados que são atribuídos à agua nós temos a transformação e o renascimento. Então, Godard parece indicar que deseja uma mudança que leve a um renascimento do Humanismo europeu, para que retome a sua tradição de luta contra as violências e injustiças.

Aqui, portanto, Godard está defendendo que se faça alguma coisa no sentido de se modificar a realidade, por menos que seja. Mesmo que esse 'fazer alguma coisa' seja uma simples peça de teatro a ser exibida em Sarajevo, que talvez poderá diminuir, durante a duração da mesma, o sofrimento das pessoas que vivenciam, todos os dias, os efeitos daquela guerra brutal.  
 
Assim, é preferível ter uma aspiração modesta do que não fazer nada, do que se omitir. No caso de Godard, ele fez um filme para denunciar a brutalidade da Guerra da Bósnia (1992-1995), a fim de servir de alerta contra a mesma e contra outros possíveis futuros conflitos, mas a sua conclusão sobre isso não será nada otimista, muito pelo contrário.

Depois, mais adiante, no filme, será a vez de Camille falar que "Os pobres salvarão o mundo. Eles farão isso apesar de si mesmos. Eles não pedirão nada em troca. Eles não sabem o preço dos serviços prestados. Eles realizarão essa imensa tarefa".

Então, apesar de não fazer um discurso explicitamente ideológico, Godard ainda manifesta a esperança de que os pobres irão se mobilizar e lutar para modificar a realidade, o que pode ser encarado como sendo uma herança da sua fase Revolucionária, quando professava o Maoísmo. Godard nunca irá abandonar a ideia de que é possível transformar a realidade, por mais pessimista que estivesse se sentindo.

Por isso mesmo que Godard divulga, neste filme, uma mensagem que é basicamente Humanista e que passa ao largo de qualquer ideologia, mostrando uma clara mudança que ocorreu em sua vida e em sua trajetória como cineasta, pois antigamente ele apoiou e defendeu o Maoísmo, principalmente entre os anos de 1968 e 1972, quando integrou o 'Grupo Dziga Vertov'. 

E agora a sua atuação política se dá por meio de filmes que procuram chamar a atenção para os horrores do mundo contemporâneo, o que ele continuou a fazer no seu filme mais recente, que foi "Le Livre D'Image" (2018). 
 
Camille é uma professora de Filosofia desempregada que faz inúmeras reflexões durante o filme. Em uma delas, Camille diz que "A felicidade é uma pérola tão rara neste oceano terrestre". 

No filme, o diretor Vitalis diz que conheceu um intelectual espanhol que cita Manuel Azaña (ex-Presidente da República Espanhola durante a Guerra Civil de 1936-1939) e ele afirma que a situação europeia dos anos 1990 era uma repetição daquela que existiu na década de 1930, quando tivemos a ascensão do Nazismo na Alemanha e a implantação de inúmeras Ditaduras Reacionárias em toda a Europa (Polônia, Hungria, Romênia, Espanha). 

Desta maneira, Godard deixa claro o seu pessimismo com a situação europeia de meados da década de 1990, quando filmou 'For Ever Mozart'. 

Assim, no filmes nós temos referências ao governo da Frente Popular francesa de 1936-1938, que foi formado pelos partidos Socialista, Comunista e Radical. Este governo adotou medidas como a criação das férias remuneradas, o que beneficiou aos trabalhadores, e à guerra na Abissínia (atual Etiópia), que foi invadida e ocupada pela Itália Fascista, o que ocorreu em 1935-1936. 
 
Também temos referências à Guerra Civil na Espanha (1936-1939), à anexação da Áustria (1938) e à invasão da Tchecoslováquia (1938-1939) pela Alemanha Nazista. Todas estas guerras foram iniciativas da expansão do Nazifascismo alemão e italiano, liderados por Hitler e Mussolini, que sempre deixaram claro que iriam promover guerras de conquista imperial, com o objetivo de criar uma Nova Ordem internacional, que seria dominada por eles, é claro. 

Enquanto o grupo teatral tenta chegar a Sarajevo, inicialmente viajando de trem, e, depois, de carro (eles alugam um veículo quando chegam à Iugoslávia), os protagonistas desta viagem arriscada e perigosa encontram tempo para discutir sobre a importância da Filosofia e a respeito da origem do Universo.


Mas as discussões filosóficas e existenciais não irão durar muito, pois eles acabarão se envolvendo na brutal guerra que atinge a Bósnia e de uma maneira que não desejavam, sendo feito prisioneiros por militares Sérvios. 
 
A mãe de Jerome pede a ajuda de Paul, o ministro da Defesa da França, para salvar os quatro que viajaram para Sarajevo em meio a Guerra da Bósnia. Durante a conversa, Paul cita um texto de autoria de Georges Bernanos, escritor católico conservador que se horrorizou com os massacres promovidos pelas tropas Franquistas durante a Guerra Civil Espanhola e que escreveu um livro para denunciar os mesmos ('Os Grandes Cemitérios Sob a Lua'). Godard faz o mesmo com 'For Ever Mozart', onde denuncia os horrores da Guerra da Bósnia. Logo, a citação do livro de Bernanos não é aleatória. "For Ever Mozart" seria a versão cinematográfica do livro de Bernanos.

Com os perigos cada vez maiores, logo depois de ocorrer uma explosão no local em que eles se encontram, Vitalis percebe que a violência daquela guerra brutal não permitirá que eles possam fazer a encenação da peça em Sarajevo e que eles também correm muitos riscos, incluindo o de serem assassinados.
 
Com isso, Vitalis, que é o alter ego de Godard, acaba por avisar aos demais de que está cansado de tudo e que decidiu abandonar o projeto, retornando para a França, para terminar o seu filme ('Bolero Fatal'). 

Assim, Vitalis (ou seja, Godard) percebe que os artistas não tem muito mais o que fazer contra aquela guerra brutal, a não ser denunciar os crimes horripilantes que estão sendo cometidos por todos os envolvidos na mesma. Ainda mais que, nos dois casos, a idade também pesa (Godard tinha 65 anos quando fez o filme).
 
Portanto, ele conclui que a Arte não tem mais força para se impor sobre o mundo real, revelando-se impotente para modificar o curso da história, como ele acreditava que seria possível. Então, Godard está mostrando, para o seu horror, que aquela guerra violentíssima e brutal irá continuar, independente do que os artistas façam ou deixem de fazer.

Depois, Camille, Jerome e Djamilla são feitos prisioneiros por guerrilheiros sérvios e, daí, eles debatem com um comandante sérvio a respeito da participação de Danton na Revolução Francesa, com base na obra do historiador Jules Michelet, e demonstram que o comandante sérvio está enganado sobre o fato.
 
Camille fica exausta durante a viagem pela Bósnia. Nesta belíssima sequência do filme ela diz, otimista, que 'os pobres salvarão o mundo', em uma fala que lembra o Esquerdismo revolucionário do Godard dos anos 1960 e 1970, principalmente da fase em que integrou o Grupo Dziga Vertov (1968-1972).

O comandante sérvio pensa que Danton fazia parte do Comitê de Saúde Pública, organismo do governo revolucionário francês, mas Jérome lhe diz que Danton nunca fez parte deste organismo, tendo sido, de fato, ministro da Justiça. E o comandante sérvio não ficará nenhum pouco satisfeito por ter sido desmentido, o que o levará a se vingar de Camille, Jerome e Djamila, que pagarão muito caro por isso. 


Enquanto isso, Vitalis decide voltar para o norte da França, para a região da Bretanha, onde serão filmadas algumas cenas de 'Bolero Fatal' e onde ele tentará finalizar o filme que havia abandonado. 


No entanto, ele não consegue concluir o filme, pois é obrigado a promover mudanças no roteiro que são determinadas pelo produtor (o Barão Felix, que financia o filme), para que o filme se torne mais comercial e gere lucros. E é claro que Vitalis também se sente amargurado por ter abandonado os três jovens na Bósnia, pois sabe que eles dificilmente voltarão vivos daquele país que está envolvido em uma guerra fratricida. 


A sua impotência como artista para colocar um fim àquela guerra brutal o deixa Vitalis sem vontade e sem inspiração. Com isso, ele acaba se recusando a dar continuidade ao projeto do filme, embora seja bastante cobrado pelo assistente do produtor para que ele comece a trabalhar, pois está sendo pago para realizar o filme.


Além disso, a atriz escalada para ser a protagonista da trama não consegue ter o desempenho que Vitalis deseja, pois ela insiste em ler e decorar o roteiro nos mínimos detalhes, enquanto o diretor deseja que ela tenha a capacidade de improvisar e criar uma interpretação mais natural e espontânea, algo que Godard sempre cobrou dos atores e atrizes com os quais trabalhou em sua carreira, o que gerou muitos conflitos com os mesmos.
 
A Guerra da Bósnia (1992/1995) foi marcada por horrores que não aconteciam na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial, incluindo o massacre de milhares de civis, cujos corpos foram enterrados em covas coletivas. No filme, Godard denuncia os horrores desta guerra sangrenta e brutal, durante a qual morreram cerca de 200 mil pessoas, enquanto que outras 1,3 milhão se tornaram refugiadas. 

Nos bastidores de 'Bolero Fatal', o assistente de produção diz para a atriz que ela não tem um desempenho satisfatório e que isso ocorre porque ela está atuando e que isso enfraquece o texto. Ele diz que 'Atuar remove a sua presença. Suga o sangue dele', referindo-se ao texto, é claro.


Apesar disso, a atriz insiste em continuar atuando. A insatisfação do diretor Vitalis com o fato irá fazer com que a atriz tenha que repetir inúmeras vezes a palavra 'Oui' ('Sim'), sendo que foi somente em um momento em que não estava atuando é que ela disse a palavra 'Sim' da maneira que Vitalis desejava e, daí, ele finalmente ficou satisfeito. 


Isso talvez explique porque Godard passou a trabalhar cada vez menos com atores em seus filmes pois, como o próprio Godard já afirmou em entrevistas, eles já foram meio que condicionados a trabalhar com roteiros prévios e detalhados e não abrem mão disso. E tal postura é algo que o cineasta franco-suíço sempre repudiou, desde o início da sua carreira. 


Aliás, é bom ressaltar que Godard trabalhava com roteiros, sim, mas ele os modificava de forma constante ou então os ignorava, ou então os montava usando de muitos desenhos e pinturas. Ele sempre entregava as falas e cenas que seriam filmadas aos atores e atrizes faltando poucas horas para começar as filmagens, informação essa que Jean-Paul Belmondo confirmou em sua autobiografia ('Mil Vidas valem mais do que Uma'; L&PM Editores). 


Belmondo diz que, durante as filmagens de 'A Bout de Souffle' ('Acossado'; 1959), Godard passava a manhã inteira tomando café escrevendo e reescrevendo as cenas e os diálogos que seriam filmados à tarde.
 
Quando terminava, Godard entregava os textos para Belmondo e para Jean Seberg quando faltava pouco tempo para começar a filmar, sem ensaiar as falas e as cenas. Godard fazia isso para obter uma interpretação que fosse a mais natural possível por parte dos atores e das atrizes, mas nem todos concordavam com isso, o que inviabilizava alguns dos seus projetos.
 
Com uma única imagem Godard resume a situação da vida familiar da guerrilheira sérvia Yana. A foto em preto e branco mostra ela com a sua família, feliz, enquanto que a foto colorida mostra um dos membros da sua família todo ensanguentado, pois tinha sido morto em função da Guerra da Bósnia.
 
Os filmes de Godard conversam entre si!

Em uma certa cena vemos Camille falar o seguinte, quando já estava na Bósnia:
 
"Em 'eu penso, logo existo', o 'Eu' de 'eu acho' não é o mesmo que o 'Eu' de 'Eu sou'. Porque? A relação entre corpo e espírito ainda não foi demonstrada. Entre pensamento e existência. A sensação de que eu tenho, a existência ainda não é um 'Eu'. É uma sensação não refletida. Nasce dentro de mim, mas... sem 'Eu'. 

Entendo que a frase acima está relacionada com outra, em
'Hélas Pour Moi' (1993), onde é dito que as coisas só passam a existir se ganharem um significado. E em 'Prénom Carmen', Godard fala que o que lhe interessa é o que existe 'antes de ter um nome', ou seja, antes de adquirir um significado.
 
Em 'Nouvelle Vague' (1990), por sua vez, um personagem questiona sobre quem daria nome às coisas se não tivesse ninguém para fazer isso. E como seria possível saber se algo existiria sem ninguém para observar as coisas.

Em 'For Ever Mozart' também vemos a seguinte questão ser formulada (por Djamilla): Por que perguntamos se existimos ou não? Já no belíssimo 'Prenom Carmen' (1983) é perguntado 'Por que as mulheres existem?' (por Joseph) e 'Por que os homens existem?' (por Carmen).
 
E uma frase que é dita em 'For Ever Mozart' (1996) também já havia sido usada no clássico 'Le Mépris' (O Desprezo; 1963), do próprio Godard, que é a seguinte: "O Cinema substitui o nosso olhar por um mundo em harmonia com os nossos desejos", que foi escrita por um crítico chamado Michel Mourlet, mas que Godard, em 'Le Mépris', atribuiu a André Bazin. 
 
Esta foi uma pegadinha do Godard e, também, pode ser considerada uma maneira de homenagear Bazin, que foi o mentor dos críticos e cineastas que criaram a Nouvelle Vague (Godard, Truffaut, Chabrol, Rivette, Rohmer), que foram todos colaboradores da 'Cahiers du Cinéma'. 

Em 'For Ever Mozart' também temos um frase que Godard já havia usado em 'Helas Pour Moi' (1993), que foi 'Com os comunistas estou disposto a morrer, mas não darei um passo adiante', mas com uma pequena diferença, pois em 'Helas Pour Moi' a frase foi atribuída aos Republicanos espanhóis e em 'For Ever Mozart' não tivemos essa referência, pois Godard sempre faz alguma mudança quando cita uma mesma frase. 


Assim, há um diálogo permanente entre os filmes de Godard. Eles 'conversam' entre si.
 
Vitalis (Godard...) fica triste e cabisbaixo com o fato de que sofre imensas pressões para fazer filmes comerciais, que visam apenas o lucro. Seu 'Bolero Fatal' acabará retirado de cartaz para que 'Exterminador do Futuro 4' seja exibido em seu lugar. Mesmo assim, Vitalis não abrirá mão, tal como o próprio Godard, do seu compromisso com a Arte.

Arte é Vida! Lucro é Morte! 

Portanto, temos aqui um filme ('Bolero Fatal') dentro do filme ('For Ever Mozart'), tal como ocorre em 'Le Mépris' (1963), permitindo que, em ambos, Godard faça uma reflexão sobre a própria maneira como funciona a indústria cinematográfica.
 
Desta maneira, Godard mostra as condições em que os filmes são realizados, as dificuldades que os cineastas enfrentam e as pressões a que eles são submetidos para que os produtores e financiadores dos filmes recuperem os investimentos que fazem nos mesmos. Godard também mostra o quanto é difícil convencer atores e atrizes a atuarem de outra forma, a qual não estão habituados.

Além disso, ele mostra a brutalidade e o caráter sanguinário da 'Guerra da Bósnia' (1992-1995), que está relacionada à chamada 'Guerra da Iugoslávia' (1991-2001), que afetou milhões de pessoas e gerou massacres e situações que não se viam na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, incluindo políticas de limpeza étnica e a criação de campos de concentração.


Em uma cena, inclusive, vemos a jovem Stéphanie, a assistente de operação de 'Bolero Fatal' olhar para o assistente de produção e exclamar, indignada, 'Que Horror! Que Horror!' quando vê que o mesmo irá usar corpos de vítimas da Guerra da Bósnia em seu filme. E neste momento também vemos os corpos de Camille e Jérôme entre as vítimas.
Essa fala de Stéphanie é uma referência ao livro 'Coração das Trevas' de Joseph Conrad.

E aqui vem uma dúvida: Como é que os corpos deles foram aparecer no litoral norte da França (na Bretanha) se eles foram assassinados na Bósnia?
 
Temos várias respostas possíveis para essa pergunta.
 
O desempenho da atriz principal em 'Bolero Fatal' desagrada Vitalis. O próprio Godard teve vários conflitos com atrizes que se recusavam a fazer o que ele queria em seus filmes. Isabelle Adjani, por exemplo, abandonou as filmagens de 'Prénom Carmen' (1983) depois de 15 dias de trabalho por entrar em conflito com Godard e Raoul Coutard.

Entendo que esta cena pode ser encarada, em primeiro lugar, como uma forma de Godard deixar claro que aquele era um filme e não a realidade. Como foi dito em 'Passion' ('Paixão'; 1982), o Cinema promove uma tentativa de aproximação da realidade, mas não é 'a realidade'. E no filme 'Hélas Pour Moi' ('Infelizmente Para Mim'; 1993) temos outra fala muito semelhante, no qual um personagem diz que o Cinema é uma linguagem cinematográfica imperfeita.  
 
Portanto, Godard deixa claro que, para ele, o Cinema é incapaz de conseguir reproduzir fielmente a realidade. Aliás, essa é uma discordância que ele tinha com o André Bazin, já na época em que colaborava com a 'Cahiers du Cinéma'.
 
Porém, Godard pode também estar querendo dizer que cabe à Arte tentar modificar essa realidade, mesmo que isso seja feito com poucas chances de êxito e que, como disse Harry no início do filme, tudo não passe de uma 'aspiração modesta'. 

E em terceiro lugar, esta sequência pode ser vista como uma crítica à falta de escrúpulos por parte dos produtores, que não hesitam em usar das tragédias para fazer filmes comerciais e, assim, poder lucrar com as mesmas. 

Então, essa visão crítica e negativa de Godard em relação ao Cinema é que leva o diretor Vitalis, o alter ego de Godard, a dizer o seguinte: "Deve ser por isso que sempre senti uma profunda tristeza no Cinema. Tanto uma possibilidade de expressão, quanto o rastro de algo essencial, destruído".

E de tudo o que fez em sua vida, o que Godard concluiu é que ele 'cometeu erros, mas que amou' (como diz o assistente de direção de 'Bolero Fatal'), que a Filosofia nunca irá lhe abandonar (como disse Camille), será a sua namorada, e que a Arte é tudo o que ele tem, como fica claro na cena final, quando o diretor Vitalis senta, sozinho, na escadaria do local onde será realizado um concerto musical baseado na obra de Mozart e ele fica ouvindo, com prazer, aquela música belíssima. 

Desta maneira, Godard reafirma a sua lealdade ao Amor, à Humanidade, à Filosofia e à Arte acima de tudo, mesmo que isso o leve a ficar sozinho em defesa de todas essas manifestações da natureza humana, pois são elas que lhe permite se sentir e se manter vivo. 
 
Portanto, 'For Ever Mozart' é uma obra autobiográfica na qual o grande mestre Godard mostra que sempre foi, de fato, um Humanista.
 
No fim, o cineasta Vitalis ouve, sozinho, a sonata de Mozart, preferindo ficar com a Arte. 'For Ever Mozart' é estruturado como se fosse uma Sonata, pois é formado por três histórias que estão conectadas e constituem um todo lógico e coerente: 1) A decisão dos jovens de apresentar a peça de Musset em Sarajevo; 2) A chegada dos quatro à Bósnia e a tragédia posterior que os atinge; 3) O filme do diretor Vitalis, com a dificuldade de escolher o elenco e os seus conflitos com o produtor e com a atriz.

Informações Adicionais!

Título: For Ever Mozart (Para Sempre Mozart);

Diretor: Jean-Luc Godard;
Roteiro: Jean-Luc Godard;
País de Produção: França e Suíça;
Ano de Produção: 1996;
Gênero: Drama; Duração: 85 minutos; 
Produção: Alain Sarde e Ruth Waldburger;
Fotografia: Katell Djian; Jean-Pierre Fedrizzi; Christophe Pollock;
Elenco: Madeleine Assas (Camille); Vicky Messica (Vicky Vitalis); Sylvie Herbert (Mãe de Jerome); Frédéric Pierrot (Jérôme); Ghalia Lacroix (Djamilla/Rosette); Michel Francini (Barão Felix); Bérangère Allaux (Atriz de vermelho do 'Bolero Fatal'); Sabine Bail (Sabine; secretária do Barão); Cécile Reigher (Assistente de operação de 'Bolero Fatal'); Nathalie Dorval (jornalista); Yasna Zivanovic (Guerrilheira Sérvia); Harry Cleven (Harry); Claire Laroche (Claire; amiga do primeiro assistente de direção); Stéphanie Lagarde (Stéphanie); Dominique Pozzetto (Dominique); Sarah Bensoussan (Sarah);
Prêmios: Prêmio de Melhor Filme da Crítica italiana (Bastone Bianco) no Festival de Veneza de 1996. 

Links:
 
Jean-Michel Frodon escreve sobre 'For Ever Mozart':
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1996/8/16/ilustrada/8.html

Sense of Cinema - Fergus Daly escreve crítica sobre 'For Ever Mozart':
http://sensesofcinema.com/2001/jean-luc-godard-pt-1/godard_mozart/

Noel Murray comenta sobre 'Je Vous Salue, Marie' e 'For Ever Mozart':
http://thedissolve.com/reviews/492-hail-mary-for-ever-mozart/
 
Trailer do filme:

Obs: O texto foi atualizado no dia 09/09/2023. 

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