'Oppenheimer' - Nolan mostra drama pessoal de Oppenheimer e visão crítica sobre 'Projeto Manhattan' e Macarthismo, conectando história da criação da bomba atômica com momento histórico atual!

'Oppenheimer' - Nolan mostra drama pessoal de Oppenheimer e visão crítica sobre 'Projeto Manhattan' e Macarthismo, conectando história da criação da bomba atômica com momento histórico atual!- Marcos Doniseti!

'Oppenheimer' (2023) é novo e grande filme de Christopher Nolan, que mostra o drama pessoal enfrentado por Oppenheimer e possui uma visão crítica sobre a construção da bomba atômica, os crescentes gastos armamentistas e também sobre a perseguição política que o genial cientista sofreu no Pós Guerra.

"OPPENHEIMER" - AVISO: O TEXTO COMENTA O FILME INTEIRO E CONTÉM SPOILERS!

'Bata meu coração, Deus de três pessoas, por você
Até agora, bata, respire, brilhe e procure consertar;
Para que eu possa me erguer e ficar de pé, derrube-me e curve-me
Sua força para quebrar, explodir, queimar e me fazer novo.'

Trecho do poema 'Sonetos Sagrados: Bater meu coração, Deus tripessoal', de John Donne (1572-1631), poeta inglês. Foi com base nesse poema que Oppenheimer escolheu o nome do teste nuclear ('Trinity') que foi realizado em 16/07/1945, no deserto 'Jornada del Muerto', Novo México (EUA).

'Agora, eu me tornei a Morte, o Destruidor de Mundos'.

do Baghavad Gita.

A PRODUÇÃO DE 'OPPENHEIMER'

Fui assistir, neste final de semana, ao 'Oppenheimer', o novo e grande filme do cineasta britânico Christopher Nolan, um dos mais talentosos das últimas décadas. Assisti ao filme três vezes. É um filme brilhante, muito bem estruturado e desenvolvido, que conta com um elenco excelente, trabalho de som, trilhas sonoras, fotografia e roteiro impecáveis. 

O filme é uma grande produção, com um orçamento de US$ 100 milhões (sem incluir os gastos com marketing) e conta com um elenco estelar, reunindo Cillian Murphy (Oppenheimer), Emily Blunt (Kitty), Robert Downey Jr. (Lewis Strauss) e Matt Damon (Leslie Groves). 

E inúmeros outros atores e atrizes talentosos interpretam personagens menores, como é o caso de Gary Oldman (Truman), Florence Pugh (Jean Tatlock), Kenneth Branagh (Niels Bohr), Matthew Modine (Vannevar Bush), Scott Grimes, Josh Hartnett (Lawrence), Rami Malek (David Hill), Casey Affleck (Boris Pash), James D'Arcy (Patrick Blackett) e Tony Goldwin. 

Com certeza, o nome de Christopher Nolan e a grandiosidade do filme foram fundamentais para que todo esse elenco de talentos fosse reunido.

Aliás, o Cillian Murphy já deve ser, com certeza, o favorito para ganhar os principais prêmios de Melhor Ator em 2023, pois sua atuação no filme é fantástica. E o mesmo vale para Robert Downey Jr. O diretor Nolan e a atriz Emily Blunt também vão com força para essas premiações. Aliás, o filme de Nolan é sério candidato para ser o grande papa Prêmios em 2024, o que já foi apontado pela 'Variety'. 

O livro no qual Christopher Nolan se baseou para fazer o filme, com Oppenheimer na capa, e Cillian Murphy, que interpreta o protagonista de forma brilhante. O livro acaba de ser traduzido e lançado no Brasil.

A história do filme!

A história do filme é centralizada em Oppenheimer, com a história sendo contada por meio da sua visão pessoal, possuindo um andamento que prende a atenção o tempo inteiro, mesmo com duração de 3 horas. Em uma entrevista, Matt Damon disse que Nolan afirmou que o filme iria depender inteiramente da performance de Cillian, que teve uma atuação brilhante do início ao fim.

Logo, o filme se concentra na história da vida, pessoal e pública, do genial cientista J. Robert Oppenheimer, que comandou o 'Projeto Manhattan, que começou em agosto de 1942 e que, na época, teve um custo total de US$ 2 Bilhões (seriam US$ 37 Bilhões em valores atualizados).

Este projeto levou à construção das duas primeiras bombas atômicas da história, que foram lançadas em Hiroshima (de urânio; 06 de agosto de 1945) e Nagasaki (de plutônio; 09 de agosto de 1945), colocando fim à mais brutal guerra da história, que teve um saldo total de 70 milhões de mortos (27 milhões na URSS, assassinados pelos nazistas alemães, e 20 milhões na China, assassinados pelos imperialistas japoneses). 

O filme trata, essencialmente, do que aconteceu nos bastidores do Projeto Manhattan e da perseguição promovida pelo governo dos EUA, por meio de Lewis Strauss, contra Oppenheimer, depois da Guerra, durante o governo Truman (1945-1953).

E é mais do que evidente que Strauss não fez isso sozinho e tinha forte apoio de cima, pois a política de Truman e dos Militares do país no Pós Guerra era a de intensificar e expandir o programa nuclear dos EUA, levando adiante o desenvolvimento da Bomba H, iniciando uma corrida nuclear. 

Matt Damon, Emily Blunt, Cillian Murphy, Robert Downey Jr. e Florence Pugh são os protagonistas de 'Oppenheimer'.

O governo dos EUA até chegou a elaborar planos para lançar bombas nucleares (bombas H) contra as principais cidades da URSS. 

Oppenheimer lutou contra tudo isso e por isso foi afastado da Comissão de Energia Atômica e foi colocado de lado, no ostracismo. Mas é claro que os donos do poder (que agem nas sombras, como diz Strauss) não podiam fazer isso com Oppenheimer de maneira pública.

Afinal, o genial cientista era um herói nacional, que foi capa da 'Time' e da' Life', sendo visto pela população dos EUA e pelo mundo como aquele que encerrou a guerra mais cedo e, assim, salvou milhões de vidas (e isso é inegável). 

Então, os reais donos do poder armaram um julgamento secreto de fachada que foi planejado secretamente por Strauss e usaram as falsas acusações de espionagem para afastar Oppenheimer do projeto nuclear do país.

Também temos muitas idas e vindas na trama, alternando sequências que mostram o período do Projeto Manhattan (1942-1946) com outras que retratam as reuniões da Comissão de Energia Atômica, entre 1947 e 1953 e, também, com as do 'julgamento secreto' a que Oppenheimer foi submetido em 1954. 

Esse é um recurso e um elemento que estão presentes na obra de Nolan, que já usou conceitos da Física Quântica em outro filme seu, que foi o 'Tenet' (2020), cuja trama, repleta de ação, trata da possibilidade de existir uma realidade na qual a seta do tempo é invertida, indo para trás e não para a frente, o que é admitido pela Mecânica Quântica.

Christopher Nolan dirigindo sequência do filme. Pouco à frente vemos Cillian Murphy, que se dedicou como nunca para interpretar Oppenheimer e atuou de forma brilhante.

Em 'Tenet' (2020) já vemos um diálogo no qual temos a citação de Oppenheimer. Em 'Interestellar' (2014), por sua vez, Nolan utilizou, principalmente, da 'Teoria de Relatividade' de Einstein para desenvolver a história. 

Aliás, Einstein (interpretado por Tom Conti) aparece em uma bela sequência inicial do filme e que, depois, veremos ser fundamental para se entender o que acontece com Oppenheimer no Pós Guerra (mas não falarei o que é... veja o filme e descubra). É bom ressaltar que, de fato, Oppenheimer e Einstein foram amigos por muitos anos na vida real. 

O filme conta com muitos diálogos e imagens que remetem ao que Oppenheimer está sentindo naquele momento em que a bomba atômica está sendo desenvolvida (Nolan usa, assim, do chamado 'Efeito Kuleshov'), pois ele sabe que está criando a mais destrutiva arma da história, enfrentando uma crise de consciência em função disso. 

Sentimentos contraditórios assombram Oppenheimer e Nolan mostra isso muito bem em vários momentos, alternando luz e sombra, que representam sentimentos de vida e morte, guerra e paz, caos e ordem. Em outros momentos ele usa , alternadamente, o silêncio e o barulho para representar essa ideia. A sequência do teste nuclear mostra isso de maneira perfeita, pois primeiro vem o silêncio e depois é que ouvimos o barulho provocado pela explosão.

Assim, Nolan demonstra sonora e visualmente aquilo em que o próprio Oppenheimer acreditava, ou seja, de que por meio da bomba atômica seria possível acabar com as guerras. E quando ele descobre que isso não irá acontecer, ele passa a lutar contra isso, motivo que o levou a ser perseguido pelos Senhores da Guerra.

Essa crise pessoal irá se intensificar depois que as bombas foram lançadas no Japão e os governantes dos EUA passaram a querer desenvolver a 'Bomba de Hidrogênio' (conhecida como 'Bomba H')', que era muito mais poderosa e destrutiva do que aquelas que foram lançadas em Hiroshima e Nagasaki e que os EUA construíram e testaram em 1949 (a URSS desenvolveu e testou a sua 'Bomba H' em 1953).

Cillian Murphy mostra o drama pessoal que afligiu Oppenheimer durante e depois do Projeto Manhattan. O filme conquistou uma bilheteria mundial de US$ 175 milhões em seu primeiro final de semana. Nos EUA a arrecadação foi de US$ 80,5 milhões. Foi a terceira maior bilheteria da carreira de Nolan e também se tornou a sétima melhor estreia de 2023 nos EUA, superando 'John Wick 4'.

Nolan também faz uso das cores para mostrar as diferentes perspectivas sob as quais a trama é mostrada. Assim, as cenas em cores mostram a visão subjetiva e pessoal de Oppenheimer sobre os acontecimentos, enquanto que as cenas em preto e branco mostram os fatos de forma objetiva.

E é claro que aqueles que desejam compreender todo o contexto histórico que é retratado pelo filme, então é importante que essas pessoas procurem se informar sobre a vida de Oppenheimer, a história da Física Quântica e os cientistas envolvidos na criação desta última, como são os casos de Einstein (que depois passou a rejeitar a Física Quântica), Niels Bohr, Enrico Fermi, Edward Teller e Werner K. Heisenberg (que chefiava o projeto nuclear da Alemanha Nazista).

Assim, entendo que deve-se procurar aprender algumas noções básicas a respeito da Ciência que é mostrada no filme. E também deve-se procurar se informar sobre a Segunda Guerra Mundial, o Projeto Manhattan, a Guerra Fria e o Macarthismo. 

Afinal, mesmo que Nolan explique ou mostre certos aspectos essenciais destes fenômenos e acontecimentos, o grande público, na sua imensa maioria, não os domina, desconhecendo o que aconteceu. Pesquisas recentes mostraram, por exemplo, que muitas pessoas não fazem ideia de quem foi Hitler e o que foi que ele fez. Então, fazer um filme sobre esses temas é importante, sem dúvida alguma.

Somente procurando se informar sobre estes temas será possível ter uma compreensão mínima deste belíssimo filme de Nolan, pois muitos dos diálogos do filme tratam de todos estes temas e acontecimentos, que são bastante complexos.  

Embora o filme se concentre na história de vida e do drama pessoal de Oppenheimer, cujo trabalho como cientista estava diretamente relacionado com esses acontecimentos, Nolan revê criticamente todos esses momentos históricos importantes por meio da trajetória pessoal de Oppenheimer. 

'Oppenheimer' é um filme adulto e foi feito para um público adulto, rompendo com a lógica da crescente infantilização da produção cinematográfica atual, exigindo do público uma postura bem diferente para que ele possa compreender o mesmo. O imenso sucesso que o filme alcançou é importante para que Hollywood e a indústria do Cinema voltem a priorizar filmes de melhor qualidade e que sejam realizados por cineastas talentosos e ousados, como é o caso de Christopher Nolan.
 

Nolan mostra que os sentimentos que assombram Oppenheimer são contraditórios, pois ao mesmo tempo que ele sabe que é necessário criar a bomba atômica para poder derrotar a Alemanha Nazista e o Japão (dois Impérios brutais e que vinham promovendo guerras assassinas mundo afora), ele também teme o elevado poder de destruição dessa nova arma. 

O filme mostra, aliás, que nem os próprios cientistas do Projeto Manhattan (Oppenheimer, Enrico Fermi) tinham ideia do quão destrutiva essa arma poderia vir a ser. No início do projeto, o físico Edward Teller fez alguns cálculos e concluiu que a bomba atômica iria destruir o planeta inteiro.

No entanto, novos cálculos foram feitos, por Hans Bethe, e chegou-se à conclusão de que esse risco era próximo de zero, o que, mesmo assim, deixou o general Leslie Groves (que dirigiu o Projeto Manhattan) preocupado, pois ele preferia que o risco fosse zero. E mesmo depois que o teste nuclear aconteceu eles pensaram que a crosta terrestre tinha se rompido.

O ponto forte do filme são as interpretações, os diálogos e as imagens, os sons, contando com um excelente trabalho de montagem. Em certo sentido, este é um filme que foi feito como os de antigamente. O filme e a história que ele conta, seus personagens e o drama pessoal destes são os elementos principais da obra. 

Então, quem assisti 'Oppenheimer' está vendo cinema de verdade, mesmo, e não um videogame repleto de efeitos especiais produzido para a tela grande. 

Einstein e Oppenheimer no filme (imagem à esquerda) e na vida real (imagem à direita). Os dois gênios da Ciência foram amigos. E a origem do 'Projeto Manhattan' é uma carta endereçada ao presidente Franklin D. Roosevelt, e que foi escrita, em agosto de 1939, pelo físico nuclear húngaro Leó Szilard. Ela foi assinada por Einstein, e por muitos outros cientistas, e a mesma pedia que o governo dos EUA iniciasse um projeto nuclear, pois a Alemanha Nazista já tinha iniciado as suas pesquisas para produzir uma bomba atômica.

Aliás, essa preocupação em criar um filme com uma atmosfera e uma estética mais propriamente cinematográfica e até 'clássica', que foi dominante em Hollywood no auge dos grandes estúdios (décadas de 1930 a 1950), fica evidente, também, na recusa de Nolan em usar do CGI para criar a sequência do teste nuclear, que foi realizado em 16/07/1945, no Novo México. 

A construção dessa sequência do teste nuclear é brilhante, alternando momentos da preparação do teste, com o medo e ansiedade dos envolvidos, discussões de última hora entre os cientistas sobre qual seria o resultado dele e até uma aposta entre Oppenheimer e Enrico Fermi.

E provavelmente também foi por tudo isso que o talentoso cineasta britânico Nolan se cercou de um elenco de atores e atrizes também talentosos e experientes, mesmo que eles fossem utilizados para interpretar personagens que pouco aparecem no filme. 

Este foi o caso, por exemplo, de Gary Oldman, que interpreta Harry Truman em uma cena com poucos minutos de duração, e de Kenneth Branagh, que interpreta Niels Bohr e que também aparece pouco. E é claro que a grandiosidade do filme e o prestígio pessoal de Nolan contaram muito para que atores desse gabarito aceitassem fazer essas pequenas participações. 

Robert Downey Jr. interpreta, de forma brilhante, Lewis Strauss, que perseguiu Oppenheimer na época da Guerra Fria e do Macarthismo. Muitos já o consideram favorito para conquistar prêmios de Melhor Ator Coadjuvante em 2024, o que seria muito merecido.

Como disseram, em entrevistas, os protagonistas Cillian Murphy, Robert Downey Jr, Matt Damon e Emily Blunt, quando alguém com o talento de Christopher Nolan telefona e lhe convida para participar de seu próximo filme, você aceita na hora. Matt Damon chegou a falar para a sua esposa que tinha decidido fazer uma pausa em sua carreira, mas avisou que se o Nolan o convidasse para fazer algum filme ele interromperia a pausa.

E as interpretações dos protagonistas também são mais contidas em termos emocionais, mesmo quando choram ou sofrem, como acontece com o próprio Oppenheimer. Aliás, a síntese do filme é o olhar de Oppenheimer nas fotos de divulgação, que é a de alguém angustiado com aquilo que está criando e que sofre com as consequências trágicas que o uso da bomba atômica trará.

Em uma atuação brilhante, que o credencia a conquistar inúmeros prêmios de Melhor Ator em 2024, o irlandês Cillian Murphy dá o tom certo para o personagem, expressando brilhantemente os sentimentos contraditórios que assombravam Oppenheimer. 

E como já comentei, em inúmeros momentos do filme Nolan se utilizou do chamado 'Efeito Kuleshov' (o nome é porque ele foi criado pelo genial cineasta soviético da mesma geração de Eisenstein). Assim, vemos o que Oppenheimer está sentindo e ou pensando por meio de imagens, como a de vítimas do bombardeio nuclear transformadas em cinzas ou sendo literalmente incineradas pela radiação. 

Emily Blunt interpreta Kitty, esposa de Oppenheimer, e que também foi interrogada na época do Macarthismo por ter sido integrante do Partido Comunismo. A visão crítica de Nolan sobre esse período da história dos EUA é bem clara no filme.

Em uma destas cenas, quando Oppenheimer discursa para os funcionários do Projeto Manhattan depois que o teste nuclear (chamado 'Trinity', ou seja, 'Trindade') foi um sucesso, vemos a imagem de uma garota morrendo como fruto da radiação. Nolan usou da própria filha (Flora) nesta sequência, por meio da qual ele mostra a angústia e o sofrimento pessoal de Oppenheimer.

Cillian também emagreceu para poder ficar fisicamente mais parecido com o Oppenheimer, bem como anda, fala e faz uso de expressões faciais de maneira muito semelhante ao do cientista. Cillian já havia trabalhado com o Nolan em vários outros filmes, incluindo 'A Origem' (2010) e 'Dunkirk' (2017), mas sempre na condição de coadjuvante. Este é o seu primeiro papel na condição de protagonista de uma grande produção e sua atuação foi impecável.

Outros atores também se destacam no filme, como é o caso de Robert Downey Jr., que interpreta Lewis Strauss, que integrou a 'Comissão de Energia Atômica' a partir de 1947, que era formada por civis, e que retirou dos militares o controle do programa nuclear. 

Strauss, posteriormente, perseguiu Oppenheimer, submetendo o mesmo a um humilhante julgamento secreto de fachada, que ocorreu em 1954 e durou um mês, pois o cientista tinha sido simpatizante de movimentos políticos de Esquerda antes da Segunda Guerra Mundial, apoiando os Republicanos na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e movimentos grevistas e em defesa das liberdades civis.

Além disso, já no período final da guerra vemos que Oppenheimer passou a temer pelas consequências da produção, uso e disseminação de armas nucleares pelo mundo. Assim, o filme mostra que ele passou a defender a criação de um controle internacional sobre a questão nuclear, a fim de se evitar uma guerra nuclear que resultaria na destruição da Terra. Aliás, antes mesmo de Oppenheimer, o físico dinamarquês Niels Bohr já defendia tais ideias, que influenciaram Oppie (como ele era chamado na época).

Oppenheimer (Cillian Murphy) observa o teste nuclear realizado em 16 de Julho de 1945, chamado de 'Trinity'. O nome do teste foi escolhido com base em  um poema de John Donne, de cuja obra Oppenheimer era um admirador. Consta que foi sua ex-namorada Jean Tatlock que apresentou a obra do poeta inglês para Oppenheimer, mas este sempre foi amante de poesia.

Essa posição de Oppenheimer desagradou profundamente aos donos do poder, principalmente ao imenso e poderoso complexo industrial militar que se criou nos EUA durante a guerra, que se tornou fundamental para o funcionamento da economia do país (até hoje continua sendo), e esta também foi uma forte razão pela qual o genial cientista foi perseguido no período da Guerra Fria (1947-1989) e do Macarthismo (1950-1957).

E neste período histórico, em que ocorria esse julgamento secreto de fachada contra Oppenheimer, o Macarthismo e o Anticomunismo estavam no auge nos EUA. Assim, o 'julgamento' aconteceu porque Oppenheimer havia se tornado um incômodo para os verdadeiros donos do poder (o complexo industrial militar, em especial) e era necessário desmoralizá-lo e afastá-lo das suas atividades públicas.

Logo, Nolan mostra que mesmo alguém como um herói nacional como Oppenheimer pode ser descartado e humilhado quando não age mais como desejam os verdadeiros donos do poder, ou seja, o Grande Capital que controla o Estado, as Forças Armadas, a Economia e a Mídia.

O período do Macarthismo fez com que milhares de pessoas fossem perseguidos numa verdadeira 'caça às bruxas' que atingiu, também, muitos artistas, cineastas, intelectuais e cientistas, incluindo até mesmo Oppenheimer, apesar do papel fundamental que ele teve no desenvolvimento da bomba atômica, o que o tornou um verdadeiro herói de guerra e que se tornou até capa das revistas 'Time' e 'Life'.

Aliás, em certos momentos do filme Nolan mostra o que acontecia na época do Projeto Manhattan (1942-1946), enquanto que em outros momentos vemos as sequências relacionadas a esse 'julgamento macarthista' de Oppenheimer (em 1954). Logo, o filme vai e volta no tempo e, desta maneira, Nolan explora os sentimentos contraditórios do cientista nestes dois momentos distintos da história. 

Jean Tatlock, a real (à esquerda), e no filme, interpretada por Florence Pugh. Jean foi uma psiquiatra e integrou o Partido Comunista dos EUA, influenciando as ideias políticas de Oppenheimer. Eles tiveram um relacionamento amoroso na época. Oppenheimer tentou iniciar um noivado com Jean, mas ela não aceitou. Na época do Projeto Manhattan ele foi obrigado a se afastar dela.

Na fase do Projeto Manhattan (1942-1946), Oppenheimer se torna um líder inconteste e entusiasta da tarefa de construir a bomba atômica (pois temia que os nazistas alemães a construíssem antes dos EUA), enquanto que na fase do julgamento secreto ele é perseguido e humilhado pelo mesmos poderosos que se beneficiaram dos seus conhecimentos e do seu trabalho no Projeto Manhattan.

Além disso, embora trate de questões científicas sérias (Física Nuclear), 'Oppenheimer' também pode ser comparado com uma história do tipo daquela do Dr. Frankenstein e da sua criatura.

Afinal, em 'Oppenheimer' nós também temos um cientista genial que cria algo inteiramente novo, a bomba atômica, que é a arma mais destrutiva da história, pensando que ela poderia ser usada para derrotar a Alemanha Nazista (que também desenvolvia um projeto nuclear) e para que nunca mais acontecessem novas guerras, pois ele sabia que nenhum país sairia vitorioso de uma guerra nuclear.

Porém, Oppenheimer passa a lutar contra tudo isso quando ele percebe que perdeu o controle sobre o que havia criado. Ele também sofre ainda com o fato de que os bombardeios sobre Hiroshima e Nagasaki resultaram na morte imediata de 110 mil pessoas, e que os governantes dos EUA já estavam querendo criar armas ainda mais destrutivas (a Bomba de Hidrogênio) do que a bomba atômica do Projeto Manhattan e lançá-las sobre a URSS.

J. Robert Oppenheimer é aplaudido de forma entusiástica por integrantes do Projeto Manhattan, depois que a bomba sobre Hiroshima tinha sido lançada, mas o fato concreto que seus sentimentos sobre isso eram complexos e contraditórios, lamentando pela morte de tantas pessoas. Mas ele também pensava, tal como Bohr, que a bomba atômica poderia acabar com as guerras.

Além de ser um grande filme do Nolan, 'Oppenheimer' é também o filme perfeito para o atual momento histórico em que a humanidade se encontra. Com certeza, Nolan também fez o filme pensando nisso. Afinal, a Guerra da Ucrânia poderá acabar, sim, provocando uma guerra nuclear entre Rússia e EUA e que terminaria devastando o planeta.

E daí o Oppenheimer não será o único que poderá dizer, citando o Baghavad Gita, 'Agora eu me tornei a Morte, a Destruidora de Mundos'.

O discurso de Oppenheimer em evento da Rand Corporation (empresa intimamente ligada ao Pentágono e Forças Armadas dos EUA), no qual ele fala em favor do diálogo entre EUA e Rússia para evitar uma corrida armamentista soa extremamente atual, pois os dois países voltaram a se enfrentar na Guerra da Ucrânia. Nolan não colocou essa cena no filme à toa. Ela é uma mensagem bem atual, destinada ao público e governantes de nosso tempo.  

Biden e Putin deveriam assistir ao filme e decidir encerrar essa Guerra da Ucrânia o quanto antes e que é, de fato, uma guerra entre a Rússia e os EUA-OTAN, ou seja, as duas maiores potências nucleares do mundo. E se o conflito entre eles sair do controle, aquilo que o Oppenheimer falou, citando o Baghavad Gita, irá se transformar em realidade.

Jean Tatlock (Florence Pugh) e Oppenheimer (Cillian Murphy) Jean foi o grande amor da vida do cientista.

O filme é dividido em três grandes partes.

E nas três partes nós tempos Oppenheimer no centro de tudo, o que faz Cillian Murphy ser a espinha dorsal do filme, com ele entregando uma brilhante interpretação.

Matt Damon, Emily Blunt e Robert Downey declararam em entrevista que os três tinham plena consciência de que eles estavam no filme para, de certa maneira, ajudar Cillian em seu gigantesco trabalho de interpretação. 

A expressividade facial, os olhares de Cillian Murphy e, também, o uso do 'Efeito Kuleshov' são alguns dos principais destaques do filme. 

A sequência do discurso de Oppenheimer após bomba ser lançada no Japão sintetiza o sofrimento pessoal de Oppenheimer, que se sente mal enquanto as pessoas o aplaudem entusiasticamente pela vitória na Guerra. Enquanto ele discursa, sem nenhum entusiasmo (contrastando com o entusiasmo do público), ele vê imagens de pessoas morrendo sob o efeito da bomba.

Oppenheimer sofre quando fica sabendo da morte de Jean Tatlock (ela teria cometido suicídio em 04/01/1944), enquanto Kitty o conforta. Jean era psiquiatra e também integrou o Partido Comunista dos EUA, motivo pelo qual ela era vigiada pelo FBI.

O filme também conta com a participação de Kip Thorne, Prêmio Nobel de Física, na condição de consultor. Ele também já havia trabalhado com Nolan em 'Interestellar' (2014), excepcional filme de ficção científica do cineasta, mas cuja trama é fortemente baseada na Teoria de Relatividade de Einstein.

As três partes em que o filme se divide são: 

1 - A transformação de Oppenheimer de um estudante de Física aplicado, mas que se limitava à Teoria, em um grande nome da Ciência, respeitado por todos os grandes nomes da Física da época (Albert Einstein, Niels Borh, Enrico Fermi, Edward Teller) e que vai aprendendo a colocar seu conhecimento teórico em prática;

2- Oppenheimer assumindo o comando do projeto científico para construção da bomba atômica e que começou em Agosto de 1942 e durou até 1946, resultando na construção de 2 bombas atômicas (de urânio e plutônio) e que acabaram sendo soltas em Hiroshima e Nagasaki, em Agosto de 1945, encerrando a Segunda Guerra Mundial;

3- A fase final e posterior ao Projeto Manhattan, que começa próxima do fim da Segunda Guerra Mundial, que mostra a crise moral, de consciência, na qual Oppenheimer mergulha por ter criado a arma mais destrutiva da história e que ele percebe que se começar a ser produzida em grande escala poderá se espalhar pelo mundo, que acabará destruído em uma guerra nuclear. 

Lewis Strauss perseguiu Oppenheimer depois da Segunda Guerra Mundial, na época da Guerra Fria e do Macarthismo, pois o cientista passou a lutar contra o projeto do governo Truman para criar a Bomba H e passou a defender o controle internacional sobre as armas nucleares.

Essa crise de consciência acontece ao mesmo tempo em que ele é perseguido pelo governo dos EUA, na época da Guerra Fria, que começou em 1947, e do Macarthismo (1950-1957). Oppenheimer acaba sendo submetido a uma espécie de julgamento secreto, em 1954, inteiramente ilegal, pois o mesmo se desenvolve sem que os seus direitos de cidadão sejam respeitados.

Mas o que é interessante, neste período, é que ele se permite ser julgado. E mesmo quando a sua esposa, Kitty (Emily Blunt), o questiona do motivo dele não reagir à essa situação humilhante, ele não faz nada. 

Entendo que Oppenheimer age assim porque deseja, sim, ser julgado pelo que fez, pois sabe que criou uma arma que poderá devastar a vida na Terra. Ele não se sente culpado pelos inexistentes crimes pelos quais é acusado (de ser comunista e trair os EUA), mas porque trouxe o fogo nuclear para a humanidade, que agora poderá ser destruída em função disso. 

Mas o fato concreto é que se Oppenheimer não tivesse feito isso, outro o faria em seu lugar. Afinal, desde que a possibilidade de se promover fissão nuclear foi comprovada, a construção de uma bomba atômica de fissão era apenas uma questão de tempo.

Oppenheimer sente-se culpado por sua criação, embora também tenha dito que se ele não fizesse isso, então os nazistas o fariam (o que é verdade), pois o programa nuclear alemão estava mais avançado do que o dos EUA quando o Projeto Manhattan estava começando. E o programa nuclear nazista ainda contava com o comando do genial físico nuclear Werner Heisenberg (amigo de Oppenheimer) no comando, um dos criadores da Física Quântica.

Como já firmei, essa perseguição aconteceu devido às anteriores ligações de Oppenheimer com movimentos de Esquerda, pois Oppenheimer apoiou os Republicanos na Guerra Civil Espanhola e sua esposa (Kitty) e seu irmão Frank foram integrantes, por um certo período de tempo, do Partido Comunista dos EUA. 

Robert Downey Jr. está impecável no papel de Lewis Strauss, que perseguiu Oppenheimer no Pós Guerra, mas que depois também pagou o preço disso, quando uma comissão do Congresso recusou a sua nomeação para ser o Secretário de Comércio do governo Eisenhower (1953-1961).

Frank Oppenheimer, físico nuclear e irmão de Robert, também tinha ligações com movimentos de Esquerda e também foi perseguido em função deste fato. E o mesmo vale para Jean Tatlock, jovem psiquiatra que foi noiva de Oppenheimer e por quem ele era realmente apaixonado. Mas ele foi obrigado a se afastar dela pelas ligações que ela possuía com o Partido Comunista dos EUA. Aliás, ele fez o mesmo com relação a outros amigos.

Isso acontecia porque os EUA, (seus políticos, militares e diplomatas em especial) eram violentamente anticomunistas, o que Nolan também deixa bem claro no filme. 

Nos EUA, até antes de começar a Segunda Guerra Mundial, o Comunismo Soviético era considerado uma ameaça muito maior para o país do que Hitler e o Nazismo. Essa era a visão predominante, também, em grande parte do Ocidente naquela época. Nos EUA quem discordava disso foi justamente Roosevelt, mas o seu próprio Vice (Harry Truman) era muito mais conservador politicamente do que ele e também via a URSS como sendo a maior ameaça para os EUA.

O Departamento de Estado e as Forças Armadas dos EUA eram fortemente anticomunistas e chegaram a sabotar a tentativa de Roosevelt de enviar ajuda para a URSS quando esta foi invadida pela Alemanha Nazista, em 22 de Junho de 1941. Essa ajuda teve que ser feita à margem das duas instituições.

Assim, Nolan mostra que mesmo alguém da importância de Oppenheimer acabou sendo perseguido na época da Guerra Fria, quando os EUA e a URSS tornaram-se rivais, deixando claro uma visão bastante crítica pela maneira como o governo dos EUA tratou o cientista.

O general Leslie Groves (Matt Damon) e Oppenheimer (Cillian Murphy). Groves tentava impedir que os cientistas do 'Projeto Manhattan' tivessem a visão global do mesmo. Depois da Segunda Guerra Mundial o projeto nuclear dos EUA passou para o controle civil, com a criação da Comissão de Energia Atômica, em 1947, que passou a ser comandada por Lewis Strauss a partir do governo Eisenhower (1953).

Então, aquela história de que, no filme, Nolan iria apelar para algum tipo de 'patriotada', engrandecendo o papel dos EUA na Segunda Guerra Mundial, não acontece em momento algum. Na verdade, de fato, a visão do governo dos EUA que é mostrada no filme é bem crítica e negativa. 

Os militares, por exemplo, vivem entrando em conflito com os cientistas, que reclamavam de não poder compartilhar seus conhecimentos com outros departamentos do Projeto Manhattan, pois os militares queriam ter o controle total do mesmo. 

Afinal, era necessário lanças as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki?

Essa visão crítica de Nolan sobre o papel dos militares no Projeto Manhattan se estende, inclusive, ao próprio lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, pois o filme questiona se isso era realmente necessário. 

Afinal, o Japão estava sendo duramente atacado, sofrendo sucessivas derrotas na guerra e aproximava-se da rendição, embora ainda recusasse a aceitar a mesma. Entendo que esta é uma questão muito complexa, sobre a qual é preciso comentar sob várias perspectivas (políticas, militares, humanitárias, éticas, históricas). 

Em primeiro lugar, a impopularidade da guerra nos EUA desde 1944 era altíssima, com a população do país estando já muito cansada por tantos anos de guerra, que exigia muitos sacrifícios de todas as pessoas, com produtos racionados e preços congelados. 

Então, havia uma forte pressão popular nos EUA para que a Guerra acabasse o quanto antes. Isso ajuda a entender porque o uso das bombas atômicas contra o Japão recebeu apoio popular.

Além disso, os militares dos EUA diziam que uma invasão das 4 grandes ilhas do Japão resultaria em um inúmero imenso de mortes, o que é verdade, pois a postura dos japoneses era a de jamais aceitar a rendição. Eles preferiam o suicídio do que a rendição, lutando até a última bala. 

Nas batalhas de Iwo Jima e Okinawa (ambos territórios japoneses) os EUA tiveram um número total de baixas militares (mortos e feridos) que superou as do Japão, o que foi a primeira vez que aconteceu na Guerra. Mas no caso dos japoneses o número de mortos era muito superior ao de feridos, o que não acontecia com os soldados dos EUA, para quem a rendição era uma opção aceitável. 

Cena de 'Interestellar' (2014), que é um filme no qual Christopher Nolan demonstra a sua paixão pela Física e pela Ciência, construindo uma história que se utilizou da Teoria de Relatividade, de Einstein. Em 'Tenet' também temos uma trama que se baseou em um conceito da Física Quântica, que é o possibilidade de se promover a inversão da seta do Tempo. Um experimento realizado em 2019 conseguiu fazer isso.

Então, a informação que os militares dos EUA tinham, naquela época, era a de que a invasão das 4 grandes ilhas iria resultar em um número incalculável de mortos, podendo passar de vários milhões, e não apenas de militares dos dois países, mas também de milhões de civis japoneses.

Assim, no filme é dito, por um militar, que as bombas atômicas salvaram muitas vidas, o que não está errado, pois sem o seu uso a guerra poderia durar muito mais tempo e, logo, muito mais pessoas morreriam em função disso.

No livro 'A Segunda Guerra Mundial - Os 2.174 dias que mudaram o Mundo', do historiador britânico Martin Gilbert, é dito que o uso da bomba atômica impediu que a guerra durasse até agosto de 1946 (mais um ano, portanto) e, também, impediu que morressem 1 milhão de soldados dos EUA e mais 10 milhões de japoneses (militares e civis).  

Portanto, essa afirmação, sobre o fato de que as bombas atômicas salvaram milhões de vidas, que é feita no filme de Nolan, está correta, sim.

Obs1: Estas informações sobre continuidade da guerra e número de vítimas estão presentes nos capítulos 49 e 50 do livro de Martin Gilbert.

Algumas pessoas também dizem que o Japão já estava negociando a sua rendição antes do lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki. Isso é verdade, mas os japoneses não aceitavam a rendição incondicional que era exigida pelos EUA. Esse foi um dos principais fatores que levou à decisão dos EUA de lançarem as bombas em Hiroshima e Nagasaki.

Kenneth Branagh interpreta Niels Bohr, cientista dinamarquês que foi um dos principais nomes da Física Quântica. Ele disse que somente Oppenheimer poderia comandar o Projeto Manhattan.

Isso é verdade, mas apesar de estar negociando a rendição (o que estava sendo feito via URSS), o Japão não aceitava a rendição incondicional. 

E quanto mais os japoneses recusavam essa exigência, mas os EUA insistiam nesta condição para encerrar a guerra. O mesmo havia sido feito com a Alemanha Nazista, que também não aceitava a rendição incondicional, mas que no fim foi obrigada a aceitar essa exigência dos Aliados. 

Obs2: Estas informações também foram retiradas do mesmo livro de Martin Gilbert.

Durante a Conferência de Casablanca (Marrocos), realizada entre 14 e 24 de Janeiro de 1943, com a participação de Roosevelt e Churchill, o Presidente dos EUA anunciou que a guerra somente terminaria com a rendição incondicional da Alemanha, Itália e Japão. Então, a postura dos EUA de exigir a rendição incondicional do Japão já era conhecida desde aquele ano.

Além disso, o fato concreto é que sem o 'Projeto Manhattan', Alemanha Nazista e Japão teriam construído armas nucleares e, assim, teriam vencido a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha Nazista lançaria armas atômicas contra a URSS e a Costa Leste dos EUA, enquanto o Japão faria o mesmo na Costa Oeste.

Essa possibilidade foi explorada pelo brilhante escritor de ficção científica Philip K. Dick em seu livro 'O Homem do Castelo Alto'. Nele, a Alemanha Nazista bombardeia os EUA com armas nucleares e, assim, vence a 2a. Guerra Mundial e divide o mundo com o Japão. O livro deu origem a uma série que foi produzida pela Amazon Prime e teve 4 temporadas. 

A ideia de se utilizar bomba atômica apenas para avisar os japoneses, mas sem lançar a mesma no país, chegou a ser defendida por vários cientistas do Projeto Manhattan e muitos deles foram contra lançar a bomba atômica contra o Japão, que já estava virtualmente derrotado. Até abaixo-assinado contra o lançamento foi feito e muitos membros do projeto o assinaram.  

Nolan também mostrou isso no filme.

O Projeto Manhattan foi dividido por inúmeras localidades dos EUA (e até em 2 locais no Canadá), sendo que aquelas que mais se destacaram no filme foram as de Berkeley (Califórnia), Chicago (Illinois), Oak Ridge (Tennessee) e Hanford (Oregon).

No filme temos vários diálogos irônicos entre Leslie Groves e Oppenheimer e que mostram a tensão que existia entre os militares e os cientistas. 

Logo que se conhecem Groves joga seu casaco, de qualquer jeito, para um tenente-coronel que o acompanhava e Oppenheimer diz 'se você trata assim um tenente-coronel, imagino o que não fará com um humilde físico'. E Groves responde que 'quando eu conhecer um eu te contarei'. 

Em outro momento, durante uma viagem de trem, Groves e Oppenheimer conversam sobre Niels Borh (que foi professor de Heisenberg) e o general pergunta se Bohr era tão importante assim e Oppenheimer lhe responde perguntando se ele Groves 'conhecia muitas pessoas que provaram que o Einstein estava errado?'.

Apesar disso, Leslie Groves tornou-se amigo do cientista, a quem respeitava e admirava, e o defendeu no 'julgamento secreto de fachada' que foi usado pelo governo dos EUA para afastar Oppenheimer da Comissão de Energia Atômica que, a partir de 1947, passou a comandar o projeto nuclear dos EUA.

E no fim essa relação entre Oppenheimer e Groves, que foi conflitante e respeitosa, ao mesmo tempo, revelou-se muito importante para o sucesso do Projeto Manhattan.

O filme 'Oppenheimer' e o 'Projeto Manhattan'!

Churchill, Roosevelt e Stalin: Os Três Grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial.

1) Antes dos EUA criarem o 'Projeto Manhattan', em Agosto de 1942, a Alemanha Nazista já tinha um projeto nuclear em desenvolvimento, que havia começado em Abril de 1939 e que era comandado por Werner K. Heisenberg, um dos mais geniais físicos nucleares da época. O Japão também possuía um projeto nuclear, que foi comandado pelo brilhante físico Yoshio Nishina;

2) Aliás, foi a descoberta do projeto nuclear nazista pelos britânicos que levou estes a iniciar um projeto nuclear próprio (Tube Alloys), que contou com a participação do Canadá, que foi criado antes mesmo do Projeto Manhattan ser iniciado;

3) A descoberta do projeto nuclear nazista é que levou os britânicos a convencer os EUA a criarem o seu próprio projeto, pois os EUA eram muito mais ricos e possuíam muito mais recursos (industriais, econômicos, científicos, tecnológicos, humanos) do que a Grã-Bretanha. Foi em função disso que foi criado, em Agosto de 1942, o Projeto Manhattan.

4) Então, com a exceção da URSS e da França (já derrotada em Junho de 1940 pelos nazistas alemães), todas as outras 4 Grandes Potências envolvidas na Segunda Guerra Mundial (Alemanha, Japão, Grã-Bretanha e EUA) tinham um projeto nuclear em desenvolvimento;

5) É mais do que óbvio que o país que criasse a primeira bomba atômica iria utilizar a mesma contra os seus inimigos com o objetivo de vencer a guerra;

6) Os EUA chegaram primeiro à bomba nuclear e a utilizaram, tal como teriam feito o Japão e a Alemanha Nazista se tivessem sido os primeiros na criação dessa arma;

7) Atualmente, vários países possuem armas nucleares (EUA, Rússia, China, França, Grã-Bretanha, Israel, Índia e Paquistão) e se um conflito de maior envergadura estourar entre eles é claro que elas poderão vir a ser usadas. E é claro que se isso vier a acontecer, então poderemos dizer adeus à vida na Terra por muitos anos.

Nesta cena a atriz Florence Pugh (Jean Tatlock) aparece nua, no sofá, mas em vários países a imagem foi censurada, colocando-se um 'vestido preto' (criado por CGI) sobre o corpo dela.

Links:

Quem foi Oppenheimer:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c51dxvv1jgzo

Robert J. Oppenheimer fala sobre a criação da bomba atômica:

https://www.youtube.com/watch?v=vH_PDtkfVlM

A Batalha de Okinawa na 2a. Guerra Mundial:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cm5dl5x8yd7o

Einstein e sua carta de 1922 que previu tempos para a Alemanha:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46187774

A carta escrita por Leó Szilárd, que foi assinada por Einstein, pedindo para Roosevelt desenvolver a bomba atômica antes da Alemanha Nazista:

https://history.uol.com.br/hoje-na-historia/carta-de-albert-einstein-ao-presidente-roosevelt-resulta-na-criacao-do-projeto

Oppenheimer, o nome 'Trinity' e o poema de John Donne:

https://discover.lanl.gov/news/0714-oppenheimer-literature/

Os verdadeiros Robert Oppenheimer e Leslie Groves. 

O poema de John Donne (no original):

https://www.poetryfoundation.org/poems/44106/holy-sonnets-batter-my-heart-three-persond-god

Einstein e Oppenheimer foram amigos:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/por-que-albert-einstein-aparece-em-oppenheimer.phtml

Invertendo a seta do Tempo:

https://socientifica.com.br/cientistas-inverteram-a-direcao-do-tempo-com-um-computador-quantico/

Matéria do 'Fantástico' sobre o filme (com entrevistas de C. Nolan, Robert Downey Jr, Emily Blunt, Matt Damon e Cillian Murphy):

https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2023/07/23/oppenheimer-conta-historia-de-homem-que-mudou-o-mundo-diz-christopher-nolan-para-o-bem-ou-para-o-mal.ghtml

Batalha de Iwo Jima (2a. Guerra Mundial):

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/batalha-iwo-jima-sangrenta-historia-guerra-pacifico-japao-eua.phtml

Trailer do Filme (legendado em português): 



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