Em 'Altered States' (Viagens Alucinantes) Ken Russell leva a ciência ao limite e questiona sobre o que há no princípio de tudo!

Em 'Altered States' (Viagens Alucinantes) Ken Russell leva a ciência ao limite e questiona sobre o que há no princípio de tudo! - Marcos Doniseti!

'Altered States' (Viagens Alucinantes): Ken Russell faz questionamento a respeito do que existe na origem de tudo e responde: Nada!

Sinopse!

Eddie Jessup (William Hurt), um respeitado professor de medicina da Universidade  de Cornell, trata pessoas que sofrem de esquizofrenia. Ele também realiza uma série de experimentos, com os seus alunos, em um tanque de privação sensorial, com o uso de drogas alucinógenas.

Eddie decide também se submeter a estes experimentos, o que o leva a ter uma série de visões e alucinações, muitas de caráter místico e religioso, pois ele está em busca de uma nova crença, pelo fato de ter perdido a fé em Deus após a morte de seu pai. Assim, ele decide procurar pelo seu 'Eu original'. 

Posteriormente, ele viajará com um amigo (Eccheverria) ao México, onde fará uso de um poderoso alucinógeno, produzido a partir de um cogumelo, que é utilizado há séculos por uma tribo local, os Hinchis, cujo xamã lhe diz que seu uso permite que as pessoas retornem para um momento em que as suas almas ainda não existiam.

Impressionado com as alucinações que vivenciou, Jessup decide levar o alucinógeno de volta para Boston, onde irá se submeter a novas seções do experimento, gerando consequências imprevisíveis e que poderão ter consequências catastróficas. 

Esses experimentos irão deixar a sua esposa, Emily (Blair Brown), cada vez mais preocupada e temerosa de que Eddie passe por mudanças físicas que poderão se tornar irreversíveis. 

O filme, que foi dirigido pelo cineasta britânico Ken Russell, questiona sobre o que há na origem de tudo, no princípio dos tempos, e desenvolve uma visão crítica sobre os limites da ciência. Ele também mostra o colapso dos sonhos dos jovens revolucionários dos anos 1960, que tentavam criar um novo modo de viver, baseado em valores coletivistas e espirituais.

O roteiro, escrito por Paddy Chayefsky, se baseou em experimentos científicos verdadeiros, que foram realizados por um psicólogo, John C. Lilly. O filme influenciou muito a série 'Fringe', criada por J. J. Abrams. E o grupo A-ha copiou uma sequência do filme em seu videoclip 'Take on Me', que se tornou um dos mais visualizados da história.

A produção do filme!

Eddie Jessup e seu amigo Arthur irão levar adiante experimentos com uma droga alucinógena que promete levar os participantes para um período que antecede à criação da alma.

Ken Russell foi um dos mais polêmicos cineastas britânicos. Ele fez vários filmes que foram considerados pelos críticos e pelo público como sendo violentos e com muitas cenas de sexo. Bem, estes dois elementos também estão presentes neste 'Altered States'.

Ken Russell, de certa maneira, é um cineasta que se identifica com os valores e ideias dos anos 1960, da época do Rock Psicodélico, do movimento Hippie, da Contracultura e da luta contra a Guerra do Vietnã. Em 1975 ele já havia dirigido 'Tommy', filme em que adaptou a ópera rock de mesmo nome do grupo britânico The Who.

Este foi o primeiro filme de Ken Russell a ser realizado em Hollywood e contou com um excelente orçamento, de US$ 15 milhões de dólares. Para efeito de comparação, 'E.T.' (S. Spielberg), produzido em 1982, custou US$ 10,2 milhões e 'Star Trek - A Ira de Khan' (1982), também de 1982, custou US$ 11,2 milhões. 

'Altered States' foi baseado no livro de mesmo título, que foi escrito por Paddy Chayefsky, sendo publicado em 1978, dois anos antes da produção do filme. Chayefsky, por sua vez, escreveu o seu livro (ficcional) com base no livro 'The Center of the Cyclone', do neurocientista John C. Lilly, publicado em 1972.

John C. Lilly trabalhou nos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, nos quais criou o tanque de isolamento. Ele realmente promoveu, mais adiante, experimentos de privação sensorial nestes tanques, fazendo uso de drogas alucinógenas e nos quais teve alucinações com primatas.

Eddie Jessup dentro do tanque de privação sensorial, em uma imagem com formato oval. Afinal, Eddie quer voltar ao princípio de tudo e o ovo simboliza o nascimento, a origem da vida. A forma oval também remete ao computador 'Alpha 60' (Alphaville; Godard; 1965) e ao computador HAL 9000 ('2001 - Uma Odisseia no Espaço'; Kubrick; 1968).

John C. Lilly também fez estudos, nas décadas de 1940 e 1950, nos quais mapeou o cérebro dos chimpanzés e fez pesquisas envolvendo "estimulação eletrônica do cérebro, sonhos, esquizofrenia e neurofisiologia da motivação - envolvendo a identificação de sistemas de punição e recompensa". Estes estudos foram publicados em várias revistas psiquiátricas. 

Logo, John C, Lilly foi a grande fonte de inspiração tanto para o livro de Chayefsky, quanto para o filme de Ken Russell. E mais tarde, por meio do filme de Ken Russell e do personagem de Ken Russell, ele também serviu de inspiração para a criação do personagem Walter Bishop, da série 'Fringe' (2008-2013), criada por J.J. Abrams.

A produção do filme foi bastante conturbada, pois Ken Russell detestou o roteiro de Chayefsky, que considerava como sendo muito 'pesado', o que levou à saída do roteirista da produção, que não gostava da maneira como os intérpretes gritavam as suas falas. Assim, os créditos do roteiro acabaram sendo dados a um 'Sidney Aaron', um pseudônimo do roteirista. 

O orçamento do filme foi bastante elevado para a época, custando US$ 15 milhões. Para efeito de comparação, o 'E.T.', filme de 1982, de Spielberg (é claro), custou US$ 10,5 milhões. Mas as bilheterias dos dois filmes foram muito diferentes, com 'Altered States' arrecadando apenas US$ 19,8 milhões, enquanto 'E.T.' obteve espantosos US$ 792 milhões. 

Eddie Jessup e Emily se apaixonam e até nas relações sexuais deles o professor de Psicologia tem visões místicas. Ela diz que se sente como se fosse uma escada para o paraíso, o que é uma referência, é claro, à música 'Starway to Heaven', clássico imortal do Led Zeppelin.

É óbvio que estes são dois filmes com propostas totalmente diferentes e que são destinados a públicos muito distintos. Afinal, Spielberg fez o famoso 'filme família', o que não é o caso de Ken Russell, é claro, mas para Ken Russell o baixo faturamento foi fatal e acabou demorando muitos anos para que ele pudesse voltar a trabalhar em Hollywood justamente em função disso. 

É bom ressaltar que 'Altered States' exerceu uma grande influência sobre a série 'Fringe' (2008-2013), que foi criada por J. J. Abrams, Alex Kurtzman e Roberto Orci.

O protagonista da série é um cientista chamado Walter Bishop (John Noble o interpretou de forma brilhante), que também fazia experimentos em um tanque de privação sensorial, usando drogas alucinógenas, idêntico ao que vemos no filme de Russell. 

E o nome de uma das personagens (Amy Jessup), que participou da segunda temporada de 'Fringe', refere-se à Eddie Jessup, o protagonista de 'Altered States'. Amy foi interpretada por Meghan Markle que, em maio de 2018, se casou com o príncipe Harry e se tornou a Duquesa de Sussex.

Outra série influenciada pelo filme é 'Stranger Things', o que é admitido pelos criadores da mesma. E o filme de Ken Russell também influenciou um grupo de Metal Industrial britânico chamado Godflesh quando o mesmo compôs o seu primeiro álbum de estúdio ('Streetcleaner', de 1989).

A trama do filme!

Em seus experimentos no tanque de privação sensorial vemos que Eddie Jessup tem visões e alucinações de caráter místico e religioso.
 

O filme de Ken Russell conta a história de um brilhante professor de Psicologia de Harvard, chamado Edward Jessup (interpretado de forma brilhante por William Hurt, em sua estreia no cinema), que era chamado de Eddie pelos amigos.

Durante os anos 1960 (em 1967, quando a história começa) Eddie era um brilhante professor de Psicologia que desfrutava de um modo de vida que era bastante afetado pela Contracultura, Rock e Psicodelismo e 'with little help from my friends' ele ouvia Rock e também fazia uso de ervas ilícitas.

Assim, temos uma sequência, que ocorre em 1967, na residência de um casal de amigos (Arthur e Sylvia Rosenberg) na qual temos muito rock ('Gloria', de Van Morrison, na versão do The Doors, toca nesta sequência) e os baseados são consumidos livremente.

É bom lembrar que 1967 foi o ano em que o The Doors e o The Velvet Underground lançaram os seus antológicos álbuns de estreia e em que os Beatles lançaram o 'Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band' e os The Rolling Stones lançaram o seu álbum psicodélico, o 'Their Satanic Majesties Request'.

Logo, faz todo o sentido que 1967 tenha sido o ano escolhido para dar início à história de Eddie Jessup e de seus experimentos, nos quais ele se utilizava de alucinógenos.  

Emily se preocupa cada vez mais com a postura de Eddie Jessup, que deixa a família em segundo plano.

Depois, Eddie Jessup tornou-se um professor de medicina muito respeitado na universidade de Cornell, na qual fazia pesquisas que envolviam tratamento de pessoas que sofriam de esquizofrenia. Ele diz que tem dúvidas se esta é uma doença.

Eddie fala que as estudava porque estava convencido de que o estado destas pessoas estava relacionado com experiências religiosas. Ele também pensa que a loucura é um estado de consciência.

A razão para o seu interesse por estes experimentos é revelada por Eddie, em uma conversa com Emily, jovem estudante de Antropologia (está fazendo o seu mestrado na universidade de Columbia) que ele conheceu em 1967, durante uma festa regada a drogas e Rock'n'roll. 

Eles irão se apaixonar e acabarão se casando e terão duas filhas, sendo que Margaret é interpretada por Drew Barrymore, com apenas 5 anos e estreando no cinema.

Os três amigos cientistas e que se envolvem com os experimentos com tanque de privação sensorial: Eddie Jessup, Mason e Arthur.

Eddie diz, para Emily, que os seus interesses estão conectados com visões de anjos, santos e de Cristo que ele tinha quando estava com apenas 9 anos, mas que isso parou quando ele tinha 16 anos, porque ele sofreu muito com a morte do seu pai, que ficou doente e sofreu muito antes de morrer. Este fato teve um grande impacto sobre Eddie, que perdeu a sua crença em Deus em função disso.

Logo, Eddie Jessup é alguém que perdeu a sua fé e, agora, está procurando por uma nova crença, sendo que ele vai em busca disso por meio de seus experimentos, que são, em sua visão, de caráter puramente científico. Eddie quer chegar até a origem de tudo por meio destes experimentos, aos quais ele mesmo irá se submeter, já em 1967, e de forma mais desenvolvida, nos anos seguintes. 

Esse modo de vida alternativo, influenciado pelos Beats (Kerouac, Ginsberg, Burroughs, Corso, Cassady...), pelo Rock, pelos Hippies e pela Contracultura, atingiu milhões de pessoas nos EUA, principalmente da classe média branca do país, naqueles turbulentos anos 1960, quando tivemos a emergência da luta pelos Direitos Civis, dos Black Panthers, da Contracultura, do Rock, do Psicodelismo, da luta contra a Guerra do Vietnã.

Inclusive, toda essa efervescência cultural e comportamental deu origem ao movimento cinematográfico mais importante, nos EUA, que tivemos no Pós Guerra, que foi a chamada 'Nova Hollywood', que revelou para o mundo uma nova e talentosa geração de cineastas, incluindo nomes como os de Francis F. Coppola, William Friedkin, Martin Scorsese, Peter Bogdanovich, Arthur Penn, Steven Spielberg, George Lucas, entre outros. 

Eddie Jessup deseja chegar ao 'Eu original',dizendo que está convencido de que ele é algo concreto e que irá encontrá-lo.

Então, é nesse contexto histórico que se inicia a trama do filme, no ano de 1967, quando Eddie Jessup é professor em Harvard, onde realiza uma série de experimentos, com a participação de jovens estudantes voluntários (seus alunos) que são colocados em um tanque de privação sensorial e nos quais são injetadas drogas alucinógenas.

O experimento se realizava em um hospital de Nova York e o próprio Jessup acabou se submetendo ao mesmo, durante o qual teve alucinações relacionadas à morte do seu pai, estados místicos, parábolas religiosas e sobre o Apocalipse.

Entusiasmado com a experiência, Eddie Jessup diz para o amigo Arthur que deseja desenvolver um projeto de pesquisa, baseado em uma metodologia, para dar continuidade a tais experimentos em situações controladas. Logo, inicialmente o projeto se desenvolve com base em uma metodologia científica. 

O problema é que, alguns anos depois, esse projeto tomará outro rumo, bem diferente, com Eddie abandonando inteiramente a metodologia científica, pouco se preocupando com as consequências disso, como o fato de que ele irá se afastar da família, pois estes experimentos serão prioridade para ele. E o resultado disso é o que veremos no filme. 

O xamã da tribo Hinchi, que vive na região central do México, comanda ritual de uso de uma droga alucinógena produzida a partir de um cogumelo. Eddie Jessup vai até lá para usar do alucinógeno, que o levará a ter várias alucinações, levando-o a um período que antecede à criação da sua alma.

Em 1967, Jessup conheceu, na festa que já citei, a jovem, bonita e inteligente Emily (interpretada por Blair Brown, a Nina Sharp de 'Fringe'). Eles se entendem logo de cara, sentem-se atraídos imediatamente, acabam se apaixonando e, muito por insistência dela, terminam por se casar, embora ele mesmo a avise de que é 'um pouco maluco', ao que ela responde dizendo que ele é completamente louco, mas que o ama e quer se casar com ele mesmo assim. 

Esse amor de Emily por Eddie será fundamental na história, em especial quando o filme termina.

Emily diz que Eddie, por meio de suas buscas espirituais e experimentos, quer ter acesso ao princípio de tudo, em uma busca desesperada que o leve até Deus, à Verdade e ao Absoluto. Até mesmo quando ele tem relações sexuais com Emily, elas se dão em uma espécie de transe místico, com ele tendo visões de Deus e da crucificação de Jesus Cristo.

Mesmo sabendo que ele é completamente maluco, ela insiste em casar com Eddie, pois está totalmente apaixonada por aquele homem brilhante. E é claro que isso irá implicar em sofrimento para ela posteriormente, alguns anos depois, quando mesmo casados e com duas filhas, Eddie decide ir até a região central do México, junto com um amigo (Eccheverria) para passar por uma experiência mística.

Eddie Jessup começa a ter alucinações depois de ter usado o chá alucinógeno produzido pelos Hinchis.


No local, vive um povo indígena chamado Hinchis, cujos membros fazem rituais toltecas, com o uso de um poderoso alucinógeno natural (produzido a partir de um cogumelo) que leva aqueles que o ingerem a uma viagem mística, espiritual, para um momento em que a alma da pessoa sequer existia, evocando antigas memórias, que os indígenas chamam de 'Primeira Flor'. 

Eddie diz que 'Não existe um Deus budista. É o Eu, a mente individual que contém a imortalidade, a verdade suprema". E daí a Emily pergunta, de forma bem pertinente: "E isso não é religioso? Só substitui Deus pelo Eu original.". Mas é exatamente disso que trata o filme, que é a busca, por Eddie, de uma nova crença, que substitua a anterior, que ele abandonou. 

Porém, Eddie argumenta dizendo que ele descobriu onde esse 'Eu original' se localiza, que é na mente humana, que carrega os átomos de 6 bilhões de anos de memórias, afirmando que 'memória é energia, não desaparece', dizendo ainda que 'existe um caminho fisiológico para essa consciência'. 

Mason fala para Eddie que ele é louco, enquanto ele responde "Porque? Busco meu verdadeiro Eu... Todos buscam seu verdadeiro Eu. Queremos nos preencher, nos entender, nos comunicar, encarar nossa realidade, nos explorar, nos expandir. Se descartar Deus, só resta você para explicar a razão do horror que é a vida.". 

Eddie Jessup tinha várias alucinações em seus experimentos no tanque de privação sensorial e com o uso de drogas alucinógenas.

Enquanto Eddie vai falando tudo isso, vemos a expressão de tristeza de Emily, que percebe que o homem que ela tanto ama está caminhando para iniciar uma viagem sem volta. Eddie conclui dizendo que "Acho que o verdadeiro Eu, o Eu original, o primeiro Eu é algo concreto, quantificável, tangível e encarnado, e vou encontrá-lo'. 

Eddie vai ao México, junto com Eccheverría, e experimenta a droga alucinógena dos Hinchis, o que o leva a ter inúmeras alucinações, que estão relacionadas com a sua vida, incluindo a morte do seu pai, as suas crenças místicas e religiosas, serpente, o seu relacionamento com Emily, tudo isso enquanto os Hinchis dançam em volta de uma estrutura de pedra com figuras desenhadas nela e que lembram extraterrestres. 

Quando Eddie volta para Boston, ele se submete a um novo experimento, dentro do tanque de privação sensorial e fazendo da droga alucinógena dos Hinchis, ingerindo 10 miligramas da mesma.

Assim, ele tem inúmeras alucinações sobre o Apocalipse, com pessoas no fogo do inferno, uma montanha pegando fogo e jogada ao mar, pessoas crucificadas, imagem do Xamã dos Hinchis, visão de um lagarto, ondas violentas no mar, seu rosto deformado e sobreposto ao de Emily, um sol negro.

Arthur, Eddie e Mason conversam com o técnico responsável pelo Raio-X para que tire uma chapa de Jessup, para saber se o organismo dele sofreu alguma alteração em função dos experimentos.

Eddie vai narrando essas alucinações para Arthur e Mason, que conduzem o experimento, enquanto está dentro do tanque. Depois que vê tudo isso, Mason diz para Arthur que o experimento não pode continuar, pois eles são cientistas respeitados e estão fazendo uso de uma droga que não foi testada e que isso é muito perigoso. 

Apesar disso, Eddie Jessup quer aumentar ainda mais a quantidade do alucinógeno dos Hinchis, passando de 10 para 200 miligramas. E o resultado disso é que, ao entrar novamente no tanque, ele volta a uma época ('pré-histórica') em que viviam espécies de hominídeos. E ao viver naquele período, Eddie começa a se transformar e a agir de forma semelhante a eles.

Eddie diz para Emily que voltará para o tanque. Ela tenta convencê-lo a não fazer isso, pois é necessário pesquisar melhor sobre os experimentos e os efeitos deles, mas ele a ignora e quando entra no tanque novamente, mas sem a supervisão de Mason e Arthur, ele acaba voltando como um hominídeo, que ataca uma cabra e come, crua, a sua carne. Eddie acaba sendo encontrado, desacordado, no local em que atacou a cabra. 

A cada vez que Eddie entra no tanque de privação sensorial, Mason e, mais ainda, Emily, ficam cada vez mais preocupados e tentam fazer com que ele pare com esses experimentos. E quando ele volta a entrar no tanque, o que vemos é que a sua constituição física se transforma totalmente e vemos uma série de fenômenos de difícil compreensão pelos envolvidos.

Eddie Jessup volta a uma época histórica em que ainda viviam os hominídeos, ancestrais do Homo Sapiens. Jessup se transforma em um deles e saí pelas ruas de Boston. Sequências lembram o filme 'Um Lobisomen Americano em Londres', de 1981.

Assim, o tanque é aberto vemos uma luz muito forte saindo dele, cria-se um tipo de redemoinho no qual Emily penetra e a vemos em uma realidade multicolorida e com organismos que parecem ser células, como se estivesse entrando em um túnel. A sequência lembra os efeitos visuais que vemos em '2001 - Uma Odisseia no Espaço', de Kubrick. 

Emily encontra Eddie e os voltam juntos para o laboratório. Ela desabafa com Mason pelo fato de que ama Eddie, mas que ele somente se preocupa com a sua busca pela Verdade, pelo, por Deus e pelo Absoluto. Uma frase dela resume essa busca de Eddie: "Realidade para ele é só o que não é mutável, o que é constante". 

Porém, enquanto Emily se desespera com tudo isso, Arthur defende que seja desenvolvido um projeto de pesquisa, com o uso de mais voluntários, para se descobrir mais a respeito da natureza do fenômeno que está ocorrendo com Eddie. 

Porém, este diz para Emily que voltou para o princípio dos tempos e que não encontrou nada. Não havia nada lá. Assim, a sua busca espiritual tem um resultado final decepcionante. Ele diz que "A verdade final de todas as coisas é que não há verdade final. A verdade é o que é transitório. A vida humana é que é real". 

Eddie Jessup passa por um radical processo de transformação física durante a sua última experiência no tanque de privação sensorial.

Obs: O trecho abaixo conta o fim do filme!

Logo, Eddie percebe que a vida com Emily e as filhas é o mais importante de tudo. A sua busca o trouxe de volta para a vida ao lado das pessoas que ama e que o amam também. Depois, Eddie volta a sofrer os efeitos dos recentes experimentos e começa um processo de transformação física, contra o qual ele luta de forma desesperada. 

Apavorada com a possibilidade de que Eddie mude para uma forma da qual não haverá retorno, ela se conecta com ele e também se transforma, tornando-se um tipo de manifestação energética. Eles se abraçam fortemente e, assim, conseguem retomar a forma humana.

Alguns criticam a maneira como o filme foi finalizado, mas entendo que ele reflete o colapso dos sonhos da juventude dos anos 1960, que ansiava por mudar o mundo, mas no fim o que tivemos foi a volta do conservadorismo. 

Esse retorno do conservadorismo foi confirmado com a vitória de Ronald Reagan na eleição presidencial de 1980, que adotou um discurso de recuperação dos valores tradicionais. Logo, o final do filme reflete o triunfo do conservadorismo sobre os jovens libertários dos anos 1960/1970.

Além disso, em função do contrato assinado, o cineasta Ken Russell foi proibido de mexer em uma palavra sequer do roteiro, mesmo sem gostar do mesmo, o que o levou a ter entrado em conflito com o autor. Se tivesse autoridade para mexer na história, não é de se duvidar que Russell teria modificado o final.

Obs1: A sequência final em que Eddie ameaça se transformar fisicamente e luta intensamente contra isso, dando murros na parede e no chão, foi usada no videoclip da música 'Take on Me', do A-ha, com o vocalista Morten Harket fazendo o mesmo que Eddie Jessup, esmurrando a parede e o chão. O vídeo tornou-se um dos mais assistidos da história, com mais de 1,6 bilhão de visualizações no Youtube.

Eddie Jessup volta a ter alucinações durante a sua última experiência no tanque de privação sensorial. Efeitos visuais remetem a '2001 - Uma Odisseia no Espaço'. Além dos efeitos visuais, o filme também conta com uma excepcional trilha sonora, composta por John Corigliano.

Informações Adicionais!

Título: Altered States (Viagens Alucinantes);

Diretor: Ken Russell;

Roteiro:  Paddy Chayefsky, baseado em seu próprio livro (foi traduzido e lançado no Brasil com o título 'Mergulho no Subconsciente');

Ano de Produção: 1980; País de Produção: EUA;

Gêneros: Ficção Científica; Mistério; Horror; Psicológico;

Fotografia: Jordan Cronenweth;

Duração: 103 minutos; Música: John Corigliano;

Edição: Eric Jenkins; 

Produção e Distribuição: Warner Bros Pictures;

Orçamento: US$ 15 milhões (US$ 57,7 milhões em valores atuais); 

Renda Mundial: US$ 19,8 milhões (US$ 76,1 milhões em valores atuais);

Efeitos Especiais: David Domeyer e Chuck Gaspar;

Elenco: William Hurt (Edward Jessup); Blair Brown (Emily Jessup); Bob Balaban (Arthur Rosenberg); Charles Haid (Mason Parrish); Thaao Penghlis (Echeverria); Miguel Godreau (Primata); Dori Brenner (Sylvia Rosenberg); Peter Brandon (Alan Hobart); Charles White-Eagle (Xamã mexicano; o Bruxo); Drew Barrymore (Margaret Jessup); Megan Jeffers (Grace Jessup).

Indicações ao Oscar de Melhor Som e de Melhor Trilha Sonora de 1981. 

Emily consegue se conectar com Eddie Jessup e, assim, o traz de volta para a vida real.

Links:

Informações sobre o filme no IMDB: 

https://www.imdb.com/title/tt0080360/?ref_=ttawd_awd_tt

Vídeo - "With a Little Help From My Friends' - Joe Cocker em Woodstock:

https://www.youtube.com/watch?v=rUVEFkjqiEE

The Doors - 'Gloria' (versão ao vivo):

https://www.youtube.com/watch?v=sf_TiLFD43I

The Doors - 'Gloria' (versão mais curta):

https://www.youtube.com/watch?v=j7BwNQ8n5tE

Trilha sonora do filme:

https://www.youtube.com/watch?v=leWRpTl8Wys&list=PLy5kryT0xrJPiuaBs5yiqhPXlF6UcGAXe&index=3

No final, Eddie Jessup luta contra a sua transformação física. Ele foi até a origem de tudo e não encontrou nada, chegando à conclusão de que a vida verdadeira é aquela que desfruta junto com Emily e as duas filhas. Esta sequência foi usada no videoclip 'Take on Me', do grupo de Pop norueguês A-ha.

Vídeo do A-ha - 'Take on Me':

https://www.youtube.com/watch?v=djV11Xbc914

Trailer do filme em HD:


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