‘Il Bandito’ mostra o desencanto dos italianos com as perspectivas de uma vida melhor no Pós-Guerra!
‘Il Bandito’ mostra o desencanto dos italianos com as perspectivas de uma vida melhor no Pós-Guerra! – Marcos Doniseti!
Alberto Lattuada e o Neorrealismo Italiano!
Alberto Lattuada foi um dos diretores pioneiros do Neo-Realismo, sendo que o seu trabalho anterior, como fotógrafo, contribuiu para a gênese deste que foi um dos mais importantes ‘movimentos’ da história do Cinema mundial.
A respeito do seu trabalho como fotógrafo, realizado no final da década de 1930, ele disse o seguinte:
“Ao fotografar, procurei manter sempre viva a relação do homem com as coisas. A presença do homem é contínua; e mesmo lá onde são representados objetos materiais, o ponto de vista não é o da pura forma, do jogo de luz e sombra, mas é o da memória assídua de nossa vida e das marcas que o cansaço de viver deixa nos objetos que são nossos companheiros. Calçamentos de tranquilas pracinhas, casas possuídas e abandonadas, velhos muros, morrinhos urbanos sufocados pelas pedras, homens nas ruas, homens trabalhando, homens suspensos pela voz da poesia, homens derrotados e, em todo lugar, em qualquer condição, a firme vontade de viver e a necessidade de amar e de esperar”.
Obs1: Essa afirmação feita por Alberto Lattuada foi retirada do capítulo ‘Neo-Realismo Italiano’, de Mariarosaria Fabris, que integra o livro ‘História do Cinema Mundial' (Fernando Mascarello, org.).
E fica claro que essa concepção que Lattuada em seu trabalho fotográfico acabou exercendo influência sobre a sua produção cinematográfica.
Afinal, os filmes de Lattuada trataram de vários dos aspectos que afetaram o povo italiano no Pós-Guerra: As consequências da Guerra (‘O Bandido’, de 1946, e ‘Sem Piedade’, de 1948); Os problemas sociais na área rural (‘O Moinho do Pó’, de 1948); O abandono dos jovens e idosos (‘Il Cappotto’, de 1952) e a condição da mulher (‘La Spiaggia’, de 1954)
Portanto, ‘Il Bandito’ é um filme que está inserido dentro do contexto em que se desenvolveu as produções Neo-Realistas. Ele foi produzido em 1946, logo após o final da Segunda Guerra Mundial (que na Europa terminou em Maio de 1945) e, naquele ano, ele foi o quarto filme de maior bilheteria na Itália.
Também fica claro que o filme de Lattuada sofre a nítida influência do 'Policial Noir' americano, do Expressionismo Alemão e possui elementos melodramáticos, promovendo uma mistura que deu um ótimo resultado. Com isso, o filme acaba sendo marcado por uma atmosfera nitidamente sombria.
E a trama do filme é tipicamente Neorrealista, pois mostrava a pobreza, o desespero e a destruição que caracterizavam a Itália nesta época. Esta era uma época em que a vida do povo foi levada às telas do Cinema, sendo que muitos dos protagonistas dos filmes eram pessoas comuns, sendo atores não profissionais.
E como se percebe por este ótimo filme de Lattuada, a destruição que o Nazifascismo e a Guerra provocaram não foi apenas material (devastando cidades, indústrias, fazendas, ferrovias, etc), mas também moral e espiritual.
Ambas as devastações tiveram nas pessoas comuns as suas maiores vítimas. E foi justamente isso que os filmes Neorrealistas mostraram naquela época, fato que incomodaram muito o governo italiano conservador a partir de 1948. O líder do governo democrata-cristão Giulio Andreotti criticava os filmes Neorrealistas, dizendo que os mesmos prejudicavam a imagem da Itália no mundo e chegou a dizer que 'roupa suja se lava em casa'.
‘O Bandido’ mostra a destruição que as cidades italianas sofreram, mas o seu tema principal é de que maneira as pessoas comuns foram afetadas pela Guerra desencadeada pelo Nazifascismo. A vida daqueles que ficaram em casa e não daqueles que lutaram na Guerra é o tema dominante do filme.
O filme começa no exato instante em que os soldados italianos estão voltando para o seu país, depois de terem sido feitos prisioneiros pelos alemães, após a Itália ter passado para o lado dos Aliados, o que aconteceu em Setembro de 1943, depois que o governo de Mussolini foi derrubado pelo 'Grande Conselho Fascista' (em 25 de Julho de 1943).
A partir deste momento, a Alemanha Nazista passou a tratar o novo governo italiano (liderado pelo Marechal Badoglio) como um inimigo e um grande número de soldados italianos foi feito prisioneiro pelos nazistas. Com a derrota do Nazi-Fascismo, eles retornaram para casa.
A trama do filme!
A história do filme gira em torno de dois amigos que lutaram juntos na Segunda Guerra Mundial, que são Carlo e Ernesto. Quando o conflito mais sangrento da história terminou (foram 50 milhões de mortos apenas na Europa) eles tomaram rumos diferentes.
Entre estes soldados italianos, vemos dois que ficaram muito amigos durante a Guerra, Ernesto e Carlos. Um diálogo entre os dois amigos mostra que, inicialmente, havia uma expectativa otimista deles quanto ao futuro, pois o segundo diz que a destruição provocada pela Guerra irá gerar empregos para todos, em função da necessidade de se reconstruir a Itália, que foi devastada pelo conflito, principalmente a região norte do país, onde se localiza Turim, cidade na qual se desenvolve a trama do filme.
E como haveria empregos para todos, conclui Carlo, a vida dos italianos iria melhorar. No entanto, a primeira década do Pós-Guerra foi muito mais difícil do que se pensava e a tão esperada melhoria nas condições de vida da população demorou vários anos para começar a se tornar realidade. No momento em que o filme foi produzido (1946) isso ainda estava um pouco longe de acontecer e a Itália ainda era marcada por muita fome, miséria, desemprego, falta de moradias, prostituição, crime.
As cidades italianas estavam devastadas, como se percebe pelas imagens (reais) de Turim que aparecem no início do filme. E foram aquelas pessoas que ficaram que sofreram com a destruição, com o desemprego, a fome, a miséria, o crime e a falta absoluta de perspectiva para se construir uma vida melhor.
Enquanto Carlo voltou para o campo, para viver com a sua família (filha, mãe, tios), Ernesto ficou na cidade (Turim), que estava devastada, devido à destruição provocada pela Guerra. Apesar disso, eles prometeram que continuariam sendo amigos e entrariam em contato.
Carlo tem uma vida pacata e tranquila no campo, em condições modestas, mas Ernesto toma outro rumo, que é o da vida na cidade e o do crime. Inicialmente, ele tentou trabalhar e viver honestamente, mas alguns fatos imprevistos irão modificar a sua vida radicalmente.
Ernesto foi atrás de sua família, mas descobriu que mãe está morta, que a sua casa foi destruída e que a sua irmã (Maria) desapareceu após a fábrica em que ela trabalhava ter sido destruída por um bombardeio. Durante um passeio noturno, Ernesto viu que uma rica mulher (Lidia, interpretada pela sempre brilhante Anna Magnani) deixou cair a sua carteira no chão. Ele a recolhe e guarda.
Ernesto decide devolver a carteira para Lidia, o que terá grandes implicações para o seu futuro. Ela o recebe muito bem, é claro, pois há uma grande quantia de dinheiro e um cheque de valor elevado guardados na carteira.
Lidia vive junto com Mirko e comanda um grupo de criminosos que promove furtos, roubos e contrabando, aproveitando-se do caos gerado pela Guerra para ganhar dinheiro por meio de atividades ilegais. Ela chega a beijar Ernesto e Mirko lhe dá uma parte do dinheiro, como forma de recompensá-lo pela devolução da carteira. Ernesto volta para as ruas.
Nesta mesma noite ele viu uma bonita jovem andando pela rua e a seguiu até a casa na qual ela entrou, que era um bordel. Ele entra no local e pede, para a gerente do estabelecimento, especificamente pela garota que havia acabado de entrar (Iris, que é um nome falso, é claro).
Ernesto vai até o quarto e leva um choque quando vê que a prostituta pela qual ele se sentiu atraído e com quem ele desejava ter relações sexuais era a sua irmã Maria (interpretada pela bela Carla Del Poggio).
Envergonhado e arrasado, ele vira o rosto, enquanto Maria chora. Ela tenta explicar o motivo pelo qual havia tomado a decisão de se tornar uma prostituta. Ernesto decide tirar a irmã do local e leva-la embora, junto com ele, mas o proprietário do local (cafetão) não quer permitir, pois é claro que a jovem e bela Maria lhe proporciona muitos lucros.
Assim, Ernesto e o cafetão entram em conflito. O cafetão tenta atirar em Ernesto, mas durante a briga a bala desvia e acaba atingindo Maria, que termina por morrer no local. Ernesto parte para cima do cafetão e termina por mata-lo. Ele foge.
Fugindo da Polícia, Ernesto decide procurar pela ajuda da mulher (Lidia) cuja carteira ele havia encontrado, indo até a casa da mesma. Lidia percebe que Ernesto fez algo errado, mas nota que ele é uma pessoa de grande energia e coragem e acaba se envolvendo com ele.
Desta maneira, Ernesto acabará tomando o lugar de Mirko como o amante preferido dela, embora ela fosse uma mulher de espírito livre e que se envolvia com inúmeros homens. Ela também estava sempre envolvida em algum plano criminoso e negociava com os homens de igual para igual.
Obs2: Nos filmes identificados com o Neo-Realismo temos muitas mulheres que vivem de forma independente, não se submetendo à autoridade masculina. Elas bebem, fumam, se envolvem com vários homens, participam da Resistência, tomam a iniciativa, praticam crimes, traem, conspiram, exercem papel de liderança. Não é à toa que a Igreja Católica, extremamente conservadora, condenava os filmes Neo-Realistas, dizendo que eles eram imorais.
Assim, o enérgico e ambicioso Ernesto acaba assumindo um papel de liderança entre a quadrilha de criminosos que é comandada por Lídia.
Porém, ele tem um perfil diferente dos demais criminosos. Ele não tolera exploração ou qualquer tipo de violência contra as mulheres (em função do que aconteceu com a sua irmã, é claro) e decide fazer justiça com as próprias mãos quando fica sabendo que um dos criminosos com quem Lidia costuma fazer ‘negócios’ ficou milionário traficando mulheres.
Ernesto e os membros da quadrilha vão até uma festa na qual Lídia se encontra, roubam todos os presentes, mas o que ele quer, mesmo, é tirar o traficante de mulheres do local e executar o mesmo. E é exatamente isso que ele faz.
Ernesto, por sua origem pobre, também sente compaixão pelos miseráveis e vai até um cortiço onde eles vivem em grande número e joga dinheiro para os mesmos. E um homem (Stefano) que foi sequestrado pela quadrilha de Lidia por engano acabou sendo executado pelos criminosos, o que contrariou Ernesto, que queria libertá-lo, mas Lidia e os outros bandidos foram contra tal atitude, pois Stefano já sabia muito a respeito deles e poderia acabar entregando-os para a Polícia. Por isso é que Stefano acaba sendo morto pelos membros da quadrilha.
Essas atitudes de Ernesto acabam por colocar os demais integrantes do grupo contra ele, que passa a ser visto como sendo muito tolerante.
Esse caráter humanitário de Ernesto fica evidente, também, quando ele toma a iniciativa de enviar um grande pacote com inúmeros presentes para Carlo, seu velho amigo dos tempos de Guerra. Carlo havia contado para os seus familiares que Ernesto era um grande amigo. A filha de Carlo acabou gostando de Ernesto a tal ponto que o chamava de ‘Tio Ernesto’, mesmo que jamais o tivesse visto.
Essa postura mais humana por parte de Ernesto acaba sendo motivo de riso para Lidia, o que leva Ernesto a jogar bebida em seu rosto, deixando-a furiosa com isso.
Ernesto é um 'bandido com um coração'.
Depois disso vemos uma pessoa não identificada colocando um envelope endereçado à Polícia. Logo depois vemos inúmeros policiais se dirigindo ao esconderijo onde os integrantes da quadrilha se encontravam, mas os criminosos já haviam indo embora do local. Na sequência, Lidia telefona para o Comissário a fim de informá-lo sobre o local em que Ernesto e os demais criminosos estariam no dia seguinte.
Logo, o grande roubo que a quadrilha cometeu e as informações que Lidia passou a Polícia acabou colocando esta atrás da mesma. Os membros do bando acabarão sendo seguidos e cercados. Para conseguir escapar, eles roubam um carro em uma rodovia, matando o proprietário do mesmo.
Ernesto vai até o local e descobre que há uma menina no veículo, que desmaiou, e que esta é Rosetta, a filha de Carlo, seu velho amigo. Ernesto manda os outros membros da quadrilha embora e decide levar a filha de Carlo até a casa do mesmo.
Ele conta para Rosetta que é amigo do 'Tio Ernesto', como era chamado pela menina e que leu muitas vezes o cartão, decorando o que estava escrito no mesmo. Ernesto diz para a filha de seu amigo que gostaria de ter tido uma vida honesta, mas os acontecimentos o impediram.
Mas ele acaba sendo seguido pelos policiais. E quando Rosetta volta para casa, o pai (Carlo) quer saber como ela chegou até ali sozinha. Ela diz que um homem a ajudou. Nisso, eles ouvem alguns tiros. Carlo vai até o lugar de onde vieram os tiros e vê o corpo do velho amigo Ernesto estendido no chão, já sem vida.
Carlo chora.
Fim.
Informações Adicionais!
Título: ‘Il Bandito’ (O Bandido);
Diretor: Alberto Lattuada;
Roteiro: Oreste Biancoli; Mino Caudana; Ettore Maria Margadonna; Alberto Lattuada; Tulio Pinelli; Piero Tellini;
Ano de Produção: 1946;
País de Produção: Itália;
Duração: 80 minutos;
Gênero: Drama; Policial;
Fotografia: Aldo Tonti;
Música: Felice Lattuada;
Elenco: Anna Magnani (Lidia); Amedeo Nazzari (Ernesto); Carla Del Poggio (Maria); Carlo Campanini (Carlo); Eliana Banducci (Rosetta); Mino Doro (Mirko); Folco Lulli (Andrea);
Prêmio: Melhor Ator para Amedeo Nazzari em 1947 – Sindicato Nacional dos Críticos de Cinema da Itália.
'Il Bandito' (Alberto Lattuada; 1946) é um dos principais filmes da era do Neorrealismo. O filme fez muito sucesso e mostra o pessimismo e o desencanto dos italianos no Pós-Guerra. |
Alberto Lattuada foi um dos diretores pioneiros do Neo-Realismo, sendo que o seu trabalho anterior, como fotógrafo, contribuiu para a gênese deste que foi um dos mais importantes ‘movimentos’ da história do Cinema mundial.
A respeito do seu trabalho como fotógrafo, realizado no final da década de 1930, ele disse o seguinte:
“Ao fotografar, procurei manter sempre viva a relação do homem com as coisas. A presença do homem é contínua; e mesmo lá onde são representados objetos materiais, o ponto de vista não é o da pura forma, do jogo de luz e sombra, mas é o da memória assídua de nossa vida e das marcas que o cansaço de viver deixa nos objetos que são nossos companheiros. Calçamentos de tranquilas pracinhas, casas possuídas e abandonadas, velhos muros, morrinhos urbanos sufocados pelas pedras, homens nas ruas, homens trabalhando, homens suspensos pela voz da poesia, homens derrotados e, em todo lugar, em qualquer condição, a firme vontade de viver e a necessidade de amar e de esperar”.
Obs1: Essa afirmação feita por Alberto Lattuada foi retirada do capítulo ‘Neo-Realismo Italiano’, de Mariarosaria Fabris, que integra o livro ‘História do Cinema Mundial' (Fernando Mascarello, org.).
Soldados italianos retornando da Guerra. Entre eles estão dois grandes amigos: Carlo e Ernesto. |
Afinal, os filmes de Lattuada trataram de vários dos aspectos que afetaram o povo italiano no Pós-Guerra: As consequências da Guerra (‘O Bandido’, de 1946, e ‘Sem Piedade’, de 1948); Os problemas sociais na área rural (‘O Moinho do Pó’, de 1948); O abandono dos jovens e idosos (‘Il Cappotto’, de 1952) e a condição da mulher (‘La Spiaggia’, de 1954)
Portanto, ‘Il Bandito’ é um filme que está inserido dentro do contexto em que se desenvolveu as produções Neo-Realistas. Ele foi produzido em 1946, logo após o final da Segunda Guerra Mundial (que na Europa terminou em Maio de 1945) e, naquele ano, ele foi o quarto filme de maior bilheteria na Itália.
Também fica claro que o filme de Lattuada sofre a nítida influência do 'Policial Noir' americano, do Expressionismo Alemão e possui elementos melodramáticos, promovendo uma mistura que deu um ótimo resultado. Com isso, o filme acaba sendo marcado por uma atmosfera nitidamente sombria.
E a trama do filme é tipicamente Neorrealista, pois mostrava a pobreza, o desespero e a destruição que caracterizavam a Itália nesta época. Esta era uma época em que a vida do povo foi levada às telas do Cinema, sendo que muitos dos protagonistas dos filmes eram pessoas comuns, sendo atores não profissionais.
Ernesto e Carlo tornaram-se grandes amigos durante a Guerra, mas depois do fim do conflito as suas vidas tomaram rumos totalmente distintos. |
Ambas as devastações tiveram nas pessoas comuns as suas maiores vítimas. E foi justamente isso que os filmes Neorrealistas mostraram naquela época, fato que incomodaram muito o governo italiano conservador a partir de 1948. O líder do governo democrata-cristão Giulio Andreotti criticava os filmes Neorrealistas, dizendo que os mesmos prejudicavam a imagem da Itália no mundo e chegou a dizer que 'roupa suja se lava em casa'.
‘O Bandido’ mostra a destruição que as cidades italianas sofreram, mas o seu tema principal é de que maneira as pessoas comuns foram afetadas pela Guerra desencadeada pelo Nazifascismo. A vida daqueles que ficaram em casa e não daqueles que lutaram na Guerra é o tema dominante do filme.
O filme começa no exato instante em que os soldados italianos estão voltando para o seu país, depois de terem sido feitos prisioneiros pelos alemães, após a Itália ter passado para o lado dos Aliados, o que aconteceu em Setembro de 1943, depois que o governo de Mussolini foi derrubado pelo 'Grande Conselho Fascista' (em 25 de Julho de 1943).
A partir deste momento, a Alemanha Nazista passou a tratar o novo governo italiano (liderado pelo Marechal Badoglio) como um inimigo e um grande número de soldados italianos foi feito prisioneiro pelos nazistas. Com a derrota do Nazi-Fascismo, eles retornaram para casa.
Depois que a Guerra terminou, Ernesto procurou por sua família, mas descobriu que a sua mãe morrera e que a sua irmã desaparecera. |
A história do filme gira em torno de dois amigos que lutaram juntos na Segunda Guerra Mundial, que são Carlo e Ernesto. Quando o conflito mais sangrento da história terminou (foram 50 milhões de mortos apenas na Europa) eles tomaram rumos diferentes.
Entre estes soldados italianos, vemos dois que ficaram muito amigos durante a Guerra, Ernesto e Carlos. Um diálogo entre os dois amigos mostra que, inicialmente, havia uma expectativa otimista deles quanto ao futuro, pois o segundo diz que a destruição provocada pela Guerra irá gerar empregos para todos, em função da necessidade de se reconstruir a Itália, que foi devastada pelo conflito, principalmente a região norte do país, onde se localiza Turim, cidade na qual se desenvolve a trama do filme.
E como haveria empregos para todos, conclui Carlo, a vida dos italianos iria melhorar. No entanto, a primeira década do Pós-Guerra foi muito mais difícil do que se pensava e a tão esperada melhoria nas condições de vida da população demorou vários anos para começar a se tornar realidade. No momento em que o filme foi produzido (1946) isso ainda estava um pouco longe de acontecer e a Itália ainda era marcada por muita fome, miséria, desemprego, falta de moradias, prostituição, crime.
As cidades italianas estavam devastadas, como se percebe pelas imagens (reais) de Turim que aparecem no início do filme. E foram aquelas pessoas que ficaram que sofreram com a destruição, com o desemprego, a fome, a miséria, o crime e a falta absoluta de perspectiva para se construir uma vida melhor.
Depois da Guerra, Ernesto tentou conseguir um trabalho honesto, mas não conseguiu. |
Carlo tem uma vida pacata e tranquila no campo, em condições modestas, mas Ernesto toma outro rumo, que é o da vida na cidade e o do crime. Inicialmente, ele tentou trabalhar e viver honestamente, mas alguns fatos imprevistos irão modificar a sua vida radicalmente.
Ernesto foi atrás de sua família, mas descobriu que mãe está morta, que a sua casa foi destruída e que a sua irmã (Maria) desapareceu após a fábrica em que ela trabalhava ter sido destruída por um bombardeio. Durante um passeio noturno, Ernesto viu que uma rica mulher (Lidia, interpretada pela sempre brilhante Anna Magnani) deixou cair a sua carteira no chão. Ele a recolhe e guarda.
Ernesto decide devolver a carteira para Lidia, o que terá grandes implicações para o seu futuro. Ela o recebe muito bem, é claro, pois há uma grande quantia de dinheiro e um cheque de valor elevado guardados na carteira.
Lidia recebe de volta, de Ernesto, a carteira que havia perdido. Este será o início de uma relação que envolverá crimes, mortes e romance. |
Nesta mesma noite ele viu uma bonita jovem andando pela rua e a seguiu até a casa na qual ela entrou, que era um bordel. Ele entra no local e pede, para a gerente do estabelecimento, especificamente pela garota que havia acabado de entrar (Iris, que é um nome falso, é claro).
Ernesto vai até o quarto e leva um choque quando vê que a prostituta pela qual ele se sentiu atraído e com quem ele desejava ter relações sexuais era a sua irmã Maria (interpretada pela bela Carla Del Poggio).
Envergonhado e arrasado, ele vira o rosto, enquanto Maria chora. Ela tenta explicar o motivo pelo qual havia tomado a decisão de se tornar uma prostituta. Ernesto decide tirar a irmã do local e leva-la embora, junto com ele, mas o proprietário do local (cafetão) não quer permitir, pois é claro que a jovem e bela Maria lhe proporciona muitos lucros.
Ernesto vai atrás de uma bela prostituta que viu caminhando pela rua e descobre, horrorizado, que ela é a sua irmã desaparecida (Maria). Ele decide tirá-la desta vida. |
Fugindo da Polícia, Ernesto decide procurar pela ajuda da mulher (Lidia) cuja carteira ele havia encontrado, indo até a casa da mesma. Lidia percebe que Ernesto fez algo errado, mas nota que ele é uma pessoa de grande energia e coragem e acaba se envolvendo com ele.
Desta maneira, Ernesto acabará tomando o lugar de Mirko como o amante preferido dela, embora ela fosse uma mulher de espírito livre e que se envolvia com inúmeros homens. Ela também estava sempre envolvida em algum plano criminoso e negociava com os homens de igual para igual.
Obs2: Nos filmes identificados com o Neo-Realismo temos muitas mulheres que vivem de forma independente, não se submetendo à autoridade masculina. Elas bebem, fumam, se envolvem com vários homens, participam da Resistência, tomam a iniciativa, praticam crimes, traem, conspiram, exercem papel de liderança. Não é à toa que a Igreja Católica, extremamente conservadora, condenava os filmes Neo-Realistas, dizendo que eles eram imorais.
Assim, o enérgico e ambicioso Ernesto acaba assumindo um papel de liderança entre a quadrilha de criminosos que é comandada por Lídia.
Ernesto chora ao ver que a sua adorada irmã (Maria, interpretada pela bela e sensual Carla Del Poggio) morreu. |
Ernesto e os membros da quadrilha vão até uma festa na qual Lídia se encontra, roubam todos os presentes, mas o que ele quer, mesmo, é tirar o traficante de mulheres do local e executar o mesmo. E é exatamente isso que ele faz.
Ernesto, por sua origem pobre, também sente compaixão pelos miseráveis e vai até um cortiço onde eles vivem em grande número e joga dinheiro para os mesmos. E um homem (Stefano) que foi sequestrado pela quadrilha de Lidia por engano acabou sendo executado pelos criminosos, o que contrariou Ernesto, que queria libertá-lo, mas Lidia e os outros bandidos foram contra tal atitude, pois Stefano já sabia muito a respeito deles e poderia acabar entregando-os para a Polícia. Por isso é que Stefano acaba sendo morto pelos membros da quadrilha.
Essas atitudes de Ernesto acabam por colocar os demais integrantes do grupo contra ele, que passa a ser visto como sendo muito tolerante.
Cena de Turim, à noite, com suas luzes e ruas vazias, é o tipo de cena que está sempre presente em filmes do estilo 'Noir'. |
Essa postura mais humana por parte de Ernesto acaba sendo motivo de riso para Lidia, o que leva Ernesto a jogar bebida em seu rosto, deixando-a furiosa com isso.
Ernesto é um 'bandido com um coração'.
Depois disso vemos uma pessoa não identificada colocando um envelope endereçado à Polícia. Logo depois vemos inúmeros policiais se dirigindo ao esconderijo onde os integrantes da quadrilha se encontravam, mas os criminosos já haviam indo embora do local. Na sequência, Lidia telefona para o Comissário a fim de informá-lo sobre o local em que Ernesto e os demais criminosos estariam no dia seguinte.
Logo, o grande roubo que a quadrilha cometeu e as informações que Lidia passou a Polícia acabou colocando esta atrás da mesma. Os membros do bando acabarão sendo seguidos e cercados. Para conseguir escapar, eles roubam um carro em uma rodovia, matando o proprietário do mesmo.
Ernesto vai até o local e descobre que há uma menina no veículo, que desmaiou, e que esta é Rosetta, a filha de Carlo, seu velho amigo. Ernesto manda os outros membros da quadrilha embora e decide levar a filha de Carlo até a casa do mesmo.
Ele conta para Rosetta que é amigo do 'Tio Ernesto', como era chamado pela menina e que leu muitas vezes o cartão, decorando o que estava escrito no mesmo. Ernesto diz para a filha de seu amigo que gostaria de ter tido uma vida honesta, mas os acontecimentos o impediram.
Mas ele acaba sendo seguido pelos policiais. E quando Rosetta volta para casa, o pai (Carlo) quer saber como ela chegou até ali sozinha. Ela diz que um homem a ajudou. Nisso, eles ouvem alguns tiros. Carlo vai até o lugar de onde vieram os tiros e vê o corpo do velho amigo Ernesto estendido no chão, já sem vida.
Carlo chora.
Fim.
Carlo chora ao ver o corpo do amigo que salvou a sua vida durante a Guerra. |
Informações Adicionais!
Título: ‘Il Bandito’ (O Bandido);
Diretor: Alberto Lattuada;
Roteiro: Oreste Biancoli; Mino Caudana; Ettore Maria Margadonna; Alberto Lattuada; Tulio Pinelli; Piero Tellini;
Ano de Produção: 1946;
País de Produção: Itália;
Duração: 80 minutos;
Gênero: Drama; Policial;
Fotografia: Aldo Tonti;
Música: Felice Lattuada;
Elenco: Anna Magnani (Lidia); Amedeo Nazzari (Ernesto); Carla Del Poggio (Maria); Carlo Campanini (Carlo); Eliana Banducci (Rosetta); Mino Doro (Mirko); Folco Lulli (Andrea);
Prêmio: Melhor Ator para Amedeo Nazzari em 1947 – Sindicato Nacional dos Críticos de Cinema da Itália.
Comentários
Postar um comentário