Em 'Antes da Revolução', Bertolucci anteviu juventude revolucionária de 68 e o reformismo do proletariado!

Em 'Antes da Revolução', Bertolucci anteviu juventude revolucionária de 68 e o reformismo do proletariado! - Marcos Doniseti!
Bernardo Bertolucci filmou o ótimo 'Antes da Revolução' ('Prima della Rivoluzione'; 1964) com apenas 22 anos de idade. Nesta obra fundamental ele antecipou a juventude revolucionária dos anos 60 (Maio de 68, em especial). Nele, Bertolucci já mostrava que o proletariado não era mais a classe revolucionária do mundo capitalista, pois havia assimilado os valores e os comportamentos da burguesia. Mas, ao mesmo tempo, ele não mostrava muito otimismo com o comportamento revolucionário da juventude de classe média ou burguesa. 

A produção de 'Antes da Revolução!

Este clássico filme de Bernardo Bertolucci, que o realizou com apenas 22 anos, é um dos mais polêmicos de sua obra, sendo que o mesmo também reúne vários dos temas que foram desenvolvidos em seus filmes posteriores, envolvendo questões políticas, amorosas, sociais, culturais e comportamentais. 

No início do filme, há uma frase, de Talleyrand (político e diplomata francês, cuja frase se refere ao período anterior à Revolução Francesa), que introduz o tema que será desenvolvido na obra, que é a seguinte: 'Aquele que não viveu antes da Revolução, não conheceu a doçura de viver e não pode imaginar quanto é possível ter felicidade na vida'. 

Este será um tema fundamental deste belo filme de Bertolucci, que antecipa o nascimento de uma juventude revolucionária na Europa e nos países desenvolvidos, na década de 1960, mas cuja origem social não é o proletariado, mas a burguesia e a classe média. 

Neste sentido, o filme de Bertolucci acaba sendo muito importante para ajudar a entender os movimentos contestatórios da juventude dos anos 1960, principalmente na Europa e nos EUA. 

Este tema, o do fim dos sonhos revolucionários do Pós-Guerra e a crise política e ideológica que atingiu a Esquerda nos anos 1960, também será desenvolvido por outros cineastas italianos da época, todos de Esquerda, como Marco Bellocchio (em 'I Pugni in Tasca'; 1965), Florestano Vancini (em 'Le Stagioni del Nostro Amore'; 1966), Pier P. Pasolini (em 'Uccellacci e Uccellini'; 1966) e Paolo e Vittorio Taviani ('I Sovversivi'; 1967). 
A jovem Clelia, bela e burguesa (interpretada por Cristina Pariset), fascina Fabrizio, mas que a rejeita por ver nela a representação dos valores burgueses aos quais ele repudia e com os quais ele tenta romper. 

O filme também é uma adaptação, para a sociedade europeia e italiana dos anos 1960 (os acontecimentos do mesmo se passam em 1962), do livro 'A Cartuxa de Parma', de Stendhal, escrito em 1838, no qual um jovem de família nobre (Fabrízio) se envolve com sua tia (Gina).

A trama do filme!

No filme de Bertolucci, Fabrizio é um jovem de família burguesa, de Parma, e sua tia (Gina), também burguesa, vive entediada em Milão, levando uma vida totalmente desprovida de sentimentos ou de emoções mais fortes, que pudessem atender aos anseios da sua alma.

No início, vemos Fabrizio fazendo um discurso contra a Igreja Católica (o que é uma influência clara de Pasolini, com quem Bertolucci trabalhou, como assistente, em 'Accattone', filme de 1961), dizendo que a mesma é uma aliada dos ricos e poderosos, ou seja, da burguesia. 

Fabrizio vê a fé cristã como um sinal de privilégio, rendição e servidão, falando ainda que a Igreja é o coração do Estado e que ela sufoca a liberdade. Ele também fala da cidade de Parma, dividida em dois lados, um no qual vivem os ricos e outro no qual vivem os pobres, se apoiando numa visão tipicamente marxista da realidade. No entanto, muitas cidades europeias possuem, sim, essa característica, ocorrendo uma divisão física entre um lado mais rico e outro mais pobre da cidade. 

Inclusive, apesar de ser um burguês, ele procura repudiar os valores da burguesia e se filia ao Partido Comunista Italiano (PCI).
Agostino, o amigo burguês angustiado de Fabrizio, que tenta ajudá-lo, mas não consegue. Suicídio foi a causa provável da morte de Agostino.

Fabrizio também comenta sobre Clelia, sua noiva, que é jovem e bela, mas que representa, naquele momento, tudo o que ele rejeita, que é a vida alegre, fácil e feliz da burguesia. Ele diz que 'Clelia é a parte da cidade que eu rejeitei', ou seja, a parte burguesa. Ele a procura, para vê-la pela última vez, mas fica claro na cena que ela o fascina e que exerce um claro domínio sobre ele. E isso ficará ainda mais claro na sequência final desta obra clássica de Bertolucci. 

Fabrizio a encontra na Igreja, onde já estava Agostino (seu melhor amigo). Nesta cena, aliás, vemos se alternar a imagem da bela Clelia e a de esculturas nas quais aparecem a foice e o martelo (símbolos do comunismo, é claro), representando o conflito interior que existe dentro de Fabrizio, que olha, fascinado para a sua amada.

E o tema da "Revolução Comunista" voltará a ser debatido no filme. 

Na sequência, vemos Fabrizio e seu melhor amigo, Agostino, um jovem burguês desocupado e infeliz, de família problemática, que deseja fugir de casa e a quem ele tenta ajudar e influenciar, dizendo que o mesmo deveria se filiar ao Partido Comunista, pois assim ele encontrará um sentido em sua vida errática. 
Gina observa a cidade de Parma, onde ela tenta superar o vazio sentimental e o tédio que caracterizam a sua vida em Milão.

Fabrizio diz que Cesar (seu mentor político e ideológico) o ajudou e que ele gostaria de fazer o mesmo por Agostino e sugere que ele vá assistir ao filme 'Rio Vermelho'.

Obs1: Este filme, 'Rio Vermelho', é estrelado por John Wayne e mostra o processo de expansão territorial, tipicamente capitalista, que foi a conquista do Oeste, pelos colonos dos EUA, durante o século XIX, o que é uma forma de conectar tal fenômeno histórico com o que acontecia na Itália e na Europa dos anos 1960, quando tivemos um verdadeiro 'Milagre Econômico' em países como Alemanha, França e Itália.  

Uma das principais personagens do filme é Gina, uma tia burguesa de Fabrizio, que vive uma fase conturbada da sua vida depois que o pai morreu. Ela mora em Milão, mas vai passar alguns dias em Parma, a fim de fugir da vida entediada da rica cidade industrial do norte italiano. Apesar da sua origem social, ela se comporta de maneira mais livre e 'escandalosa' do que Fabrizio, seu sobrinho, bem mais jovem do que ela e que possui pretensões revolucionárias, chegando a ter um romance com o mesmo.

Várias das cenas do filme mostram que Gina possuía uma personalidade conturbada, angustiada e atormentada. E o mesmo pode ser dito de Agostino e de Fabrizio, mas por razões diferentes.
A atormentada Gina, de uma família burguesa de Milão, onde vive entediada, vai a Parma, onde desenvolve um romance com o sobrinho, Fabrizio.  

Até mesmo as contantes mudanças de expressão e repentinas mudanças de humor de Gina são uma demonstração clara disso, o que contrasta nitidamente com a jovem e controlada Clelia, que parece sempre estar no inteiro domínio das suas emoções e dos seus sentimentos, mostrando possuir uma segurança natural típica de uma burguesa que está perfeitamente integrada aos valores e costumes da classe social a que pertence. 

Se Fabrizio, Gina e Agostino repudiam os valores e comportamentos da burguesia, com Clelia ocorre exatamente o contrário. Ela não apenas acredita nestes valores, como os encarna e os representa de forma absolutamente convicta. 

Perturbada, Gina chega a fingir telefonar para Milão e simula uma conversa com o pai, já falecido, na qual fala a respeito das razões de sua angústia e do seu sofrimento. 

Em outro momento, no enterro de Agostino, ela começa a falar de vários assuntos (o enterro de seu pais, sonhos de morte) de forma um tanto quanto errática e quando uma garotinha começa a cantar uma canção infantil, ela começa a ficar angustiada, pede para que a menina pare com isso, sai correndo e começa a chorar. Fabrizio a abraça. 

Depois, vemos uma narração de Gina, onde ela diz que a solução para os seus problemas são os outros, é Fabrizio, e que este percebeu o que ela sentia sem que fosse necessário lhe dizer qualquer coisa, pedindo ainda que ele não a questione em função dos sentimentos que nutre por alguém que é, afinal, o seu sobrinho. 

O romance com Fabrizio é a forma que ela encontra de superar o seu vazio sentimental e de sair do tédio e do sofrimento no qual vive já há muitos anos. 
Fabrizio vai até o local da morte de Agostino e tenta descobrir qual foi a causa da mesma. Tudo indica que foi suicídio. A fotografia da cena lembra, claramente, os filmes de Michelangelo Antonioni. Também se nota a clara influência dos filmes de Godard, cineasta muito admirado por Bertolucci. 

Fabrizio leva Gina para a casa de seu mentor político, o professor Cesar e diz que ela é a primeira pessoa que ele levou para conhecê-lo, falando ainda que isso é um privilégio. Fabrizio e Gina começam a ler trechos de alguns livros da biblioteca de Cesar. 

Enquanto ela faz a leitura de trechos de um livro de Oscar Wilde, que afirma que liberdade significa justiça e democracia e que somente os homens de ação tem mais ilusões do que os sonhadores e que a melhoria material iria espiritualizar o mundo, Fabrizio lê um livro de autoria do próprio Cesar.

Os três começam um debate sobre se é possível mudar as pessoas e a sociedade. Fabrizio acredita na mudança, mas Gina não, dizendo que ela, por exemplo, nunca mudará. Na discussão, outro autor citado é Marcel Proust. Gina diz que 'a história é o tempo e que o tempo não existe', relembrando uma história de Proust que Cesar e Fabrizio também conheciam. 

Obs2: Bons tempos, esses, quando se faziam filmes nos quais citava-se Oscar Wilde, Marcel Proust, Cesare Pavese, Godard, Antonioni, Rossellini... 

Gina diz uma frase que mostra bem o tipo de pessoa que ela é: 'Sou uma camaleoa. As ideias dos outros me fazem mudar de cor' e Cesar completa, dizendo que 'Você deve ser tão segura de você mesma, que pode absover tudo sem se abalar'. Cesar diz para Fabrizio 'a maturidade é tudo', que é uma citação do escritor italiano Cesare Pavese, e conta que Agostino foi procurá-lo dias atrás. Fabrizio diz que Agostino viveu de forma solitária e que também morreu assim.
Cesar é um professor e, também, é o mentor político e ideológico de Fabrizio. Ambos são filiados ao PCI (Partido Comunista Italiano), mas divergem quanto ao papel revolucionário do proletariado nas sociedades capitalistas desenvolvidas. 

Em seu quarto, Gina telefona, de madrugada, para o pai já falecido, e mostra que não conseguiu superar a morte do mesmo, dizendo ao telefone que ninguém a conhece em Parma e que ele morreu porque não queria mais vê-la. Depois, ela sai, vai a uma banca de revistas, onde flerta com o dono, indo para um local onde, tudo indica, eles 'fizeram amor'. Fabrizio vai atrás dela, percebe o que aconteceu e vai embora. 

De certa maneira, Gina antecipa o comportamento mais liberado e 'escandaloso' da juventude revolucionária dos anos 1960, principalmente das mulheres, o que não deixa de ser uma forma desta continuar incorporando valores que são, no fim das contas, originários da burguesia. 

Mas ela age assim em função da sua incapacidade de amar e de ser feliz e não pelo desejo de transformar a sociedade. Seu desejo de mudança existe, mas é de natureza interior.

Portanto, Gina faz isso num plano puramente individual, sem a pretensão de se integrar a qualquer movimento social de caráter coletivo e, também, sem possuir a menor intenção de romper com os valores burgueses. 

Exemplo disso é quando ela fala para Fabrizio (durante o enterro de Agostino) que, para uma pessoa conseguir demonstrar que é um (a) rebelde, não é necessário sair de casa. Ela diz que basta ficar em casa quando os outros saírem.  

Agostino, o melhor amigo de Fabrizio, que também é de origem burguesa, vive fugindo de sua casa, insatisfeito que está com a sua vida familiar (pois tem um péssimo relacionamento com os seus pais), mas não encontra uma saída, nem na política, nem na poesia e tampouco em um comportamento individual caracterizado por algum tipo de ruptura. 

Assim, ele resolve a sua angústia existencial seguindo um caminho diferente, e que é claramente sugerido no filme, por meio do suicídio. 
Bernardo Bertolucci, Jean-Luc Godard e Pier Paolo Pasolini: Época de ouro do Cinema, quando verdadeiros artistas produziam obras clássicas e atemporais, que refletiam os grandes dilemas de seu tempo e ajudavam a mudar as consciências. 

A cena em que Fabrizio tenta descobrir a causa da morte do seu amigo, se foi acidental ou se ele cometeu suicídio, lembra claramente os filmes de outro genial cineasta italiano, Michelangelo Antonioni. 

No filme de Bertolucci, também fica clara a influência de outros dois geniais cineastas, que são Pasolini, já citado, e de Jean-Luc Godard. 

Inclusive, temos um diálogo de Fabrizio com um amigo, logo após sair do cinema, no qual este diz que Anna Karina (musa dos filmes de Godard) seria, naquela época (primeira metade dos anos 1960), um símbolo tão forte quando foi Louise Brooks, na época do cinema mudo. 

Obs3: Este comentário mostra o quanto Bertolucci admirava a obra cinematográfica de Godard, de quem se tornou amigo. Bertolucci dizia que Godard, com seus filmes, iluminava os caminhos que, depois, eram seguidos pelos demais cineastas. 

Este amigo também diz que não se pode viver sem assistir aos filmes de Roberto Rossellini e de Hitchcock, elogia Alan Resnais e Godard, cita Howard Hawks e Nicholas Ray. Mas Fabrizio não está tão interessado na conversa, pois diz que está apaixonado e que se encontra desnorteado. Seu interesse não pela Arte, mas por seus próprios dilemas e angústicas. 

Obs4: Bem, é difícil não ficar desnorteado quando se tem uma pessoas tão conturbada quanto Gina como namorada... 

Fabrizio discute com Gina, porque esta se relacionou com outro homem, mostrando que os seus sentimentos de amor e ciúmes são bem burgueses, ainda, mostrando que apesar da sua postura politicamente revolucionária ele não consegue, ainda, conviver com uma mulher que adota uma postura mais liberal. Gina conta várias histórias contraditórias a respeito do que aconteceu com o homem com o qual se relacionou. Apesar disso, eles fazem as pazes e voltam a se amar. 
O comportamento mais liberal de Gina (uma burguesa), que se envolve com outro homem enquanto tem um romance com Fabrizio, é uma forma de rebeldia individual, mas que se desenvolve dentro da burguesia, com a qual Gina não tem qualquer intenção de romper. 

Logo depois, vemos um velho amigo de Gina, um fazendeiro falido, chamado Puck, que em breve terá que entregar as suas terras para os credores, em função das dívidas que acumulou. Ele faz um discurso, à beira do rio Pó, no qual lamenta o fato de que, em pouco tempo, tudo ali estará diferente, com grandes obras sendo realizadas, mudando radicalmente a paisagem local. Ele se despede, assim, de uma realidade e de uma paisagem que estão prestes a desaparecer. 

É o Capitalismo modernizador e triunfante devastando e destruindo tudo à sua frente, incluindo aqueles setores da burguesia que não souberam ou não conseguiram se adaptar às contínuas mudanças que o próprio regime capitalista promove na economia, na sociedade, na cultura, e na tecnologia. 

E Fabrizio entende que essa fala de Puck também vale para ele e conclui que para os filhos da burguesia, como é o caso dele, também não havia saída. 

Assim, o romance entre Fabrizio e Gina chega ao fim e ela volta para Milão, com Cesar a acompanhando, a pé, pelas ruas de Parma, com a sua bela arquitetura. O clima é nublado, chuvoso e frio, apontando para um futuro incerto, algo que está relacionado ao fim do relacionamento de Gina e Fabrizio. 

Fabrizio tem em Cesar, um professor de ensino fundamental, um mentor político, que é um marxista que ainda acredita no papel revolucionário do proletariado, do qual Fabrizio é um descrente, afirmando que os operários passaram a adotar as ideias, valores e atitudes da burguesia. 
Puck é um fazendeiro falido e que representa um tipo de burguês que está sendo dizimado pelo processo de modernização capitalista que atinge a Itália, e a Europa, durante as décadas de 1950 e 1960. 

Fabrizio, no início do filme, ainda pensava que a ideologia comunista poderia ajudar ao seu amigo, Agostino, mas depois, quando discute com Cesar durante a preparação para uma manifestação do PCI (do jornal "L'Unità"), ele demonstra que não acredita mais que a Revolução proletária irá triunfar, pois entende que o proletariado adotou os valores e comportamentos da burguesia e, assim, jamais irá desenvolver uma consciência de classe revolucionária, que gere a criação de um homem novo. Mas o seu mentor Cesar discorda disso e continua acreditando na Revolução, citando as inúmeras greves que os operários realizavam. 

Obs5: De fato, por volta de 1963 a Itália viveu um período de muitas mobilizações e greves operárias. Isso explica o comentário de Cesar. 

Assim, a sua descrença na revolução proletária, bem como com a sua incapacidade de romper com os valores e comportamentos da sua classe social, acaba levando a que Fabrizio retorne para os braços da sua noiva, a bela e burguesa Clelia, que em nenhum momento desconfiou que ele e Gina haviam tido um caso. 

A incapacidade de romper com os valores da Burguesia!

Logo, neste belo filme de Bertolucci, temos vários personagens de origem burguesa (Fabrízio, Gina, Agostino), que estão inteiramente insatisfeitos com os valores da burguesia, e com a vida que levam, mas que não conseguem transcender e nem romper definitivamente com este modo de vida. 

E cada um deles irá resolver esse dilema de uma forma diferente: Agostino comete suicídio, Gina continua com o seu comportamento errático, mesmo depois que o seu romance com o sobrinho termina (e o irmão mais novo deste, ainda criança, será o seu novo alvo, como se percebe na cena final do filme) e Fabrizio retornará ao seio da burguesia, casando-se com a jovem, bela, e inocente Clelia, que em nenhum momento sequer desconfia da traição do seu noivo, que teve um romance com a tia, a atormentada, solitária e infeliz Gina. 
Durante uma manifestação do PCI, Fabrizio discorda de Cesar, o intelectual: Enquanto este último continua acreditar no potencial revolucionário do proletariado, o jovem burguês pensa que o mesmo se tornou conservador, pois já assimilou os valores burgueses.

Afinal, esta juventude também vinha da classe média e da burguesia, e não do proletariado que, tal como diz Fabrizio, tinha assimilado os valores e os comportamentos da burguesia, deixando de possuir qualquer pretensão de promover uma transformação revolucionária da sociedade. 

Obs6: Essa visão do proletariado como sendo uma força política e social conservadora também, estava presente na clássica canção 'Street Fighting Man', dos The Rolling Stones, de 1968. Ela foi composta quando as agitações de Maio de 1968 estavam no auge, na Europa e nos EUA, enquanto que na Grã-Bretanha reinava uma grande calmaria. Na canção, a dupla Jagger/Richards critica a passividade e o conservadorismo do proletariado britânico, dizendo que o mesmo tinha abandonado qualquer pretensão de promover uma transformação radical da sociedade. 

Portanto, não foi à toa que Fabrizio disse que 'O meu futuro de burguês está no meu passado de burguês' e conclui dizendo que pessoas como ele estão sempre à frente das Revoluções, vivendo os anos anteriores a ela. Emocionado, chorando, Fabrizio cita trechos do 'Manifesto Comunista', justamente aqueles que falam sobre o triunfo da revolução comunista, terminando com o famoso 'Proletários de todo o mundo, uni-vos'!.

Esse foi o discurso de despedida de Fabrizio dos seus anos revolucionários. Depois, ele voltou para Clelia, com quem ele acaba se casando, rendendo-se aos encantos da bela jovem, bem como aos valores burgueses que, inicialmente, havia rejeitado. 
Fabrizio sofre com o fim de seu relacionamento com Gina e também por ter que voltar a viver com a jovem e bela Clelia, que representa os valores burgueses com os quais ele tentou romper, mas cuja tentativa fracassou. 

Antes de casar, Fabrizio teve um último encontro com Gina, na ópera ('Macbeth'), no qual ele diz que sua vida com Clelia será mais simples (e menos conturbada, é claro), mas que é isso que ele deseja neste momento. Ele diz que sabe que a fez sofrer, mas que a separação deles foi melhor para ambos. Mas fica claro, pelas reações deles, que as palavras não correspondem aos seus sentimentos, e que eles ainda se amam. 

Cesar vai à escola, lecionar, onde lê, para os alunos, a história de Moby Dick, que perseguiu a baleia branca pelo mundo todo, da mesma forma que ele continuará lutando pelo triunfo da "Revolução Comunista", reafirmando a sua crença, à qual Fabrizio abandonou. 

E Gina chora copiosamente, afinal Fabrizio (a quem ela continua amando) se casou com Clelia, enquanto beija o irmão mais novo do seu amado. Ela, claramente, o vê como um futuro substituto de Fabrizio. 

No filme, Bertolucci mostra que Fabrizio, Gina e Agostino sentem-se mal ao pertencer ao seio de uma classe social, a burguesia, a cujos valores, atitudes e comportamentos eles rejeitam inteiramente e, cada um a sua própria maneira, com os quais eles tentarão romper. Mas nenhum dos três conseguirá. 

Assim, os três acabarão por ter um final trágico. De fato, eles acabam morrendo, seja literalmente (Agostino) ou espiritualmente (Fabrizio e Gina). 
'Antes da Revolução' fez muito sucesso quando foi exibido na França, em 1968. 

Consta que este belo e clássico filme de Bertolucci fez muito sucesso na França, quatro anos depois, chegando até a influenciar os acontecimento de Maio de 68, tal como aconteceu com outro clássico do Cinema político dos anos 1960, que foi 'A Chinesa', de Godard. 

Basta assisti-lo, mesmo depois de tantos anos, para se notar o motivo disso, pois '`Prima della Rivoluzione' é uma obra bela e atemporal, pois além de refletir sobre questões essenciais de sua época ele também é Cinema feito por gente grande, mesmo que o diretor do filme fosse um jovem cineasta de apenas 22 anos de idade. 

Cotação: Imperdível. 

Informações Adicionais!

Título: Prima della Rivoluzione (Antes da Revolução; 1964);
Diretor: Bernardo Bertolucci;
Roteiro: Bernardo Bertolucci e Gianni Amico;
Gênero: Drama Político;
Ano de Produção: 1964; 
País de Produção: Itália;
Duração: 107 minutos;
Música: Ennio Morricone;
Fotografia: Aldo Scavarda;
Elenco: Adriana Asti (Gina); Francesco Barilli (Fabrizio); Allen Midgette (Agostino); Cristina Pariset (Clelia); Morando Morandini (Cesare); Cecro Barilli (Puck); Guido Fanti (Enore); Evelina Alpi (menina cantora); Gianni Amico (fã de Godard/Rossellini).

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