'Belle de Jour' (A Bela da Tarde): Sonhos, Pesadelos, Imaginação ou Realidade? - Marcos Doniseti!
'Belle de Jour' (Luis Buñuel; 1967): Afinal, tudo o que Séverine viveu no filme aconteceu mesmo ou foram sonhos, pesadelos ou simplesmente a imaginação dela, que dá vazão aos seus desejos e fantasias reprimidos?
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Este é um belo e polêmico filme do grande cineasta espanhol Luis Buñuel, um dos criadores, junto com Salvador Dali, do Surrealismo no Cinema, e que foi baseado na obra de mesmo nome do escritor francês Joseph Kessel.
A trama do filme gira em torno de Séverine, interpretada pela belíssima Catherine Deneuve (no auge da beleza e em uma grande atuação), que é uma jovem esposa de um cirurgião bem sucedido e rico e que leva uma típica vida de dona de casa burguesa, chata e monótona, sem nenhuma emoção.
E para piorar ainda mais a situação, ela também é frígida, não sentindo qualquer tipo de desejo pelo marido (Pierre), embora este demonstre ter carinho e ame a esposa, chegando até a compreender o comportamento dela, inteiramente assexuado (eles até dormem em camas separadas).
Entediada com tudo, Séverine começa a imaginar uma outra vida, bem mais excitante e emocionante, na qual ela começa a trabalhar como prostituta em um bordel parisiense, que pertence à Madame Anais.
Na aparência, Pierre e Séverine formam um casal bem sucedido e feliz, mas não é bem assim...
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Nesta vida imaginária, ela somente consegue ter o seu desejo sexual despertado depois de ser dominada e, até, agredida fisicamente pelos seus clientes, algo que o seu primeiro cliente, um milionário, percebe imediatamente, após esbofeteá-la pelo fato de que ela resistia a ter relações sexuais com ele.
Em sua imaginação, ela procurar aumentar ainda mais a emoção e a excitação de sua vida, que são ainda maiores porque Séverine faz tudo às escondidas, frequentando o bordel apenas no período da tarde, entre as 14 e as 17 horas. Por isso, Anais passa a chamá-la de 'Bela da Tarde' (Belle de Jour).
Séverine faz tudo isso sem que ninguém saiba (marido, amigas, etc) e, com isso, acaba levando duas vidas radicalmente diferentes: durante a maior parte do tempo ela vive como uma honrada, submissa e bem comportada dona de casa burguesa e a tarde, ela é prostituta.
O bordel que ela frequenta, no entanto, é discreto, sem nada que diferencie a aparência do local de uma residência comum, tal como acontecia antes da Segunda Guerra Mundial, em Paris, quando luzes vermelhas eram usadas para identificar os bordéis da Cidade Luz.
Quem vê o bordel do lado de fora pensa que ali é apenas uma casa de família e não um lugar onde se pratica 'a mais antiga das profissões', como é dito no filme por Husson, amigo de Pierre que não esconde seu imenso desejo por Séverine.
Séverine parece estar pensando: 'O que eu faço para sair dessa vida triste, chata e mortalmente entediante, meu Deus?'.
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Aliás, foi justamente o comentário feito por Husson a respeito de uma amiga comum, Henriette (que havia se tornado uma prostituta de luxo), e de que ele estava habituado a frequentar tais bordéis, que levou Séverine a imaginar essa vida dupla.
Husson comenta a respeito de um bordel famoso e discreto, de Madame Anais, que costuma frequentar, e é nele que Séverine vai começar a 'trabalhar' e viver as aventuras sexuais que tanto deseja.
No início, Séverine resiste a ter relações com os clientes e sente-se muito mal em seu novo trabalho, no bordel. Até para tirar a roupa ela necessita da ajuda das profissionais veteranas, Mathilde e Charlotte.
E quando aparece um cliente, um professor, que tem um comportamento que, para Séverine, é muito estranho, Madame Anais a substitui por Charlotte, e mostra, por uma espécie de 'olho mágico' na parece, como ela deve se comportar com aquele cliente em especial.
No filme, aliás, fica claro que o bordel de Madame Anais possui uma clientela fixa, endinheirada e que as profissionais que ali trabalham não podem se dar ao luxo de se recusar em satisfazer os desejos, por mais estranhos que sejam, destes ricos clientes.
Mas com o passar do tempo, e com a ajuda e o estímulo de Madame Anais, ela passa a encarar o seu novo trabalho com mais naturalidade e isso acaba influenciando até no seu relacionamento com o marido, que se torna muito mais 'quente'.
Séverine: Bela, elegante e infeliz, acaba se destacando na profissão mais antiga da humanidade devido à sua classe, sensualidade e beleza, algo que é destacado pela própria Madame Anais.
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Inclusive, o filme de Bunuel chega a insinuar um relacionamento entre Séverine e Madame Anais em dois momentos.
Quando a aristocrática esposa de Pierre começa a trabalhar no discreto bordel de Madame Anais, esta deu um selinho em Séverine, mas esta se afastou, parecendo ficar espantada com a surpreendente iniciativa da proprietária do local e adotando uma postura totalmente fria e desprovida de qualquer emoção.
Mas a sua vida toma um rumo diferente quando Husson aparece no bordel e, é claro, acaba por reconhecê-la. Ela se recusa a ter relações com ele e pede que ele não conte que ela trabalha ali, muito menos ao seu marido e às suas amigas. Ele diz que fará isso.
Séverine também chega a confessar para Husson que ela não consegue mais abandonar aquela vida, da qual se tornou dependente. Afinal, somente ali, no bordel, ela consegue abandonar a vida mortalmente entediante que tem com o marido, Pierre, e passa realizar as suas fantasias e os seus desejos mais profundos.
Inclusive, quando se despede de Madame Anais, dizendo que não irá mais trabalhar ali, ela agradece à proprietária e tenta beijá-la, mas a mesma vira o rosto, fazendo isso para expressar a sua profunda insatisfação com a saída de Séverine. Estaria a Madame Anais demonstrando, com isso, que também teria se apaixonado por Séverine?
Séverine tenta beijar Madame Anais, ao se despedir, mas não é correspondida, com Anais demonstrando claramente que não queria que a jovem, bela e sensual esposa de Pierre fosse embora.
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Estaria Bunuel insinuando, com essa cena, que teria ocorrido um relacionamento entre essas duas belas e sensuais mulheres, mas que isso não foi mostrado no filme em função de alguma censura que teria sido imposta ao mesmo?
Porém, a situação começa a fugir ao controle quando Séverine conhece Marcel, um criminoso e que se torna um cliente frequente, sendo que ela sempre fica feliz quando ele vai ao bordel, falando até que não irá cobrar nada dele.
Marcel chega a ficar obcecado por ela e lhe diz que deseja encontrá-la não apenas entre as 14 e as 17 horas, mas que também quer passar as noites com ela, o que ela diz ser impossível (afinal isso destruiria a sua vida burguesa distinta e bem comportada).
E é claro que essa recusa de Séverine irá provocar uma tragédia.
Catherine Deneuve interpreta Séverine em 'Belle de Jour': Beleza, juventude, sensualidade...
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Mas, no final, fica claro que tudo isso aconteceu apenas na imaginação de Séverine, onde ela consegue romper com as convenções sociais, com a repressão sexual e com aquela vida triste e melancólica, mas que não tem coragem de fazer isso no mundo real, deixando que tudo isso aconteça apenas em sua imaginação.
Ou será que não?
Obs1: A se destacar no filme as inúmeras vezes em que vemos os belos pés de Catherine Deneuve.
Obs2: Você achou que a bela e sensual Catherine Deneuve esteve muito elegante durante todo o filme? Bem, é claro que o fato dela interpretar uma mulher rica e sofisticada, esposa de um cirurgião bem sucedido, ajuda a entender isso. Mas a bela atriz francesa também usou peças de um amigo, o estilista Yves Saint Laurent, o que ajuda explicar o motivo de tanta elegância e sofisticação por parte de Séverine. Por isso, até hoje o filme de Bunuel é elogiado até mesmo por revistas de moda e se fazem editorias de moda em revistas como 'Vogue' inspirados nos modelos mostrados no filme.
Obs3: 'Belle de Jour': foi o maior sucesso de público da carreira de Bunuel. E a crítica especializada em Cinema e o público de cinéfilos é virtualmente unânime em apontá-lo como um filme clássico.
Séverine envolve-se com Marcel, um cliente que fica obcecado pela bela, aristocrática e sexy prostituta, e que não aceita a rejeição dela.
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Informações Adicionais!
Título: Belle de Jour (A Bela da Tarde);
Diretor: Luis Bunuel;
País de Produção: França;
Ano de Produção 1967;
Duração: 101 minutos;
Gênero: Drama;
Elenco: Catherine Deneuve (Séverine Serizy/Belle de Jour), Jean Sorel (Pierre Serizy), Michel Piccoli (Henri Husson), Geneviève Page (Madame Anais), Pierre Clémenti (Marcel), Macha Meril (Renee), Francoise Fabian (Charlotte), Maria Latour (Mathilde);
Prêmio Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1967.
Obs4: Neste filme clássico e atemporal de Luis Bunuel, há duas maneiras de se descobrir quando Séverine está imaginando uma situação (ou sonhando ou tendo algum pesadelo) e quando ela está no mundo real.
Se não quiser descobrir isso, não leia o trecho abaixo.
1) Isso acontece quando ela fica com o olhar fixo, perdido. E logo na sequência ela começa a imaginar ou sonhar as situações que vivencia.
2) E no DVD também vemos uma frase ou palavra com a legenda em itálico quando Séverine olha desta forma. Na sequência, vemos os sonhos, pesadelos ou a imaginação dela em ação.
Link:
O filme 'Belle de Jour' e a sua influência sobre a moda:
Ótimo post, mto bem escrito e informativo. Ainda não assisti esse filme, mas entrou na fila.
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