'Gli Anni Ruggenti': Luigi Zampa fez sátira política na qual ridiculariza e expõem as mentiras do regime Fascista de Mussolini!
'Gli Anni Ruggenti': Luigi Zampa fez sátira política na qual ridiculariza e expõem as mentiras do regime Fascista de Mussolini! - Marcos Doniseti!
A produção de 'Gli Anni Ruggenti' e a carreira de Luigi Zampa!
Em 'Gli Anni Ruggenti' (‘Os Anos Felizes’; 1962) Luigi Zampa faz uma brilhante sátira política ao Fascismo, mostrando que o regime vivia muito em função da propaganda e que o governo liderado por Mussollini não resolveu nenhum dos principais problemas da Itália: pobreza, atraso econômico, incompetência, corrupção, ineficiência.
Luigi Zampa foi um dos muitos diretores italianos que estiveram, em algum momento de suas trajetórias cinematográficas, ligados ao Neo-Realismo italiano. Ele era filho de um operário e o seu primeiro filme como diretor foi realizado em 1933.
Zampa estudou no 'Centro Experimental de Cinematografia' (que foi criado em 1935), que foi responsável pela formação profissional de inúmeros atores e atrizes e cineastas italianos, como foi o caso de Michelangelo Antonioni.
Sua obra é marcada pela produção de inúmeras sátiras políticas e de costumes que mostravam uma visão bastante crítica da sociedade e do regime fascista. E 'Gli Anni Ruggenti' é um dos melhores exemplos disso.
Outro filme importante de Zampa foi 'Angelina, a Honorável', com Anna Magnani, que foi o seu nono longa-metragem e fez um grande sucesso, tendo sido o quarto filme mais assistido nos cinemas italianos em 1947. E um outro filme realizado no mesmo ano por Zampa ('Vivere in Pace'; 1947) conquistou vários prêmios, incluindo o de Melhor Roteiro no Festival de Locarno de 1947 e o de Melhor Filme Estrangeiro dos críticos de Cinema de Nova York.
A época em que este ótimo filme de Luigi Zampa foi produzido (início dos anos 1960) foi marcada por inúmeras produções que, de certa maneira, retomavam os temas da era de ouro do Neorrealismo Italiano, que se deu entre 1943-1952. Assim, os temas da Segunda Guerra Mundial, da luta da Resistência Partigiana contra o Fascismo, o governo ditatorial de Mussolini voltaram a ser explorados e desenvolvidos por inúmeros diretores.
Com isso, tivemos a produção de excelentes filmes, tais como 'Gli Sbandati' (Francesco Maselli; 1955), que antecipou essa tendência em alguns anos, 'La Ciociara' (Vittorio De Sica; 1960), 'Era Notte a Roma' (Roberto Rossellini; 1960), "La Lunga Notte del'43" (Florestano Vancini; 1960), "L'Oro di Roma" (Carlos Lizzani; 1961), "Tiro al Piccione" (Giuliano Montaldo; 1962), "La Marcia su Roma" (Dino Risi; 1963).
A trama do filme!
A trama de ‘Gli Anni Ruggenti’ gira em torno de uma viagem ‘imaginária’ de um hierarca fascista a uma pequena cidade da região de Puglia, no Sul da Itália, em Outubro de 1937.
O filme começa com a população da cidade assistindo (no cinema, é claro) a um filme de propaganda fascista, que mostrava Mussolini ajudando os agricultores e usando picaretas em obras públicas, passando para a população italiana a ideia de que seu governo era atuante e que procurava resolver os principais problemas do país, incluindo a agricultura e a construção civil.
Mas é justamente este mito que Luigi Zampa irá procurar desmontar em seu filme.
Tudo começa quando o PNF (Partido Nacional Fascista) enviou um telegrama avisando aos governantes desta pequena cidade sulista de que um líder fascista (um hierarca) irá fazer uma visita de forma anônima à mesma com o objetivo de investigar as ações dos líderes fascistas locais e descobrir eventuais irregularidades que estivessem acontecendo.
Isso deixa os líderes fascistas locais em estado de pânico, pois todos eles têm ‘culpa no cartório’, ou seja, estão envolvidos com algum tipo de prática ilegal ou criminosa.
Entre os principais líderes da cidade estão Salvatore Acquamano (pai da bela Elvira), Carmine Passante (secretário político local do PNF) e Nicola De Bellis. Estes ficam apavorados com a possibilidade de que o hierarca descubra as inúmeras irregularidades e falcatruas que eles cometeram na região, e que inclui o desvio de recursos públicos, contrabando, entre outros.
Além disso, os líderes da cidade também guardam outros segredos, ligados às suas vidas pessoais, como a prática do adultério. Um deles (Nicola) é frequentemente traído pela esposa (Rosa), o que apenas ele ignora, e acaba se tornando motivo de chacota por parte dos demais, que o chamam de 'cornudo'.
Como os líderes da cidade desconhecem quem seja o tal do hierarca, eles tentam descobrir a identidade do mesmo, enviando uma pessoa para ir até o principal hotel da cidade, onde o mesmo se hospedou, a fim de saber quem é esse misterioso investigador.
Eles ficam convencidos de que o nome deste hierarca é Omero Battifiori que acabou de chegar de Roma e que, no entanto, é apenas um simples corretor de seguros que foi para a cidade a fim de conseguir novos clientes.
Para isso, Omero pede a ajuda de um funcionário do hotel, que fornece o nome de algumas das pessoas mais importantes da cidade.
Mas os líderes locais, convencidos de que ele é o hierarca fascista, passam a acreditar que Omero pediu o nome deles a fim de fazer uma investigação que teria sido determinada pelo governo nacional.
Quando Omero vai procurar por eles, o mesmo se apresenta como um simples corretor de seguros, mas os líderes fascistas acreditam que isso é apenas uma fachada da qual o ‘hierarca’ se utiliza para investigá-los.
Salvatore chega a suar abundantemente quando Omero começa a lhe fazer perguntas sobre as suas atividades profissionais e a respeito da sua renda pessoal. O seu ‘calcanhar de Aquiles’ são as obras do aeroporto local, que não saíram do papel, mesmo tendo recebido verbas para realizá-las.
Na ânsia de agradar ao falso hierarca (Omero), os líderes da cidade procuram demonstrar que são verdadeiros fascistas, colocando fotografias imensas de Mussolini na parede, por exemplo. Eles também fazem de tudo para ‘maquiar’ a cidade.
Assim, eles mandam esconder do ‘hierarca’ os bairros onde vive a população mais pobre, e também ordenam que a Polícia recolha os bêbados e mendigos da cidade para a prisão, enfim, procuram promover uma espécie de ‘embelezamento artificial’ da cidade.
Os pobres reclamam que o bloqueio erguido pelos governantes da cidade para escondê-los do ‘hierarca’ irá dificultar a locomoção deles, pois terão que andar muito mais para poder sair e chegar às suas paupérrimas moradias, mas os líderes locais não ligam a mínima para isso.
Os líderes fascistas também fazem de tudo para agradar ao falso hierarca, Omero, e imitam tudo o que ele faz e concordam com tudo o que ele diz, adotando comportamentos patéticos e ridículos.
Eles aplaudem quando Omero faz isso, usam de picaretas quando ele faz o mesmo, o que gera várias situações cômicas. Eles também procuram obter informações, com o ‘hierarca’ Omero, a respeito de Mussolini, querendo saber se ele o vê com frequência.
Os líderes da cidade também criam situações ridículas com o objetivo de convencer Omero de que a cidade está progredindo. Assim, eles levam dezenas de cabeças de gado (bois e vacas) de caminhão, de uma fazenda a outra da região, falando para o suposto hierarca que eram todas vacas leiteiras.
A população também acaba sendo convocada para participar, de forma obrigatória, das manifestações e desfiles do dia 28 de Outubro (um feriado nacional criado por Mussolini), data em que se comemorava, na Itália fascista, a chamada 'Marcha Sobre Roma', que ocorreu em 28/10/1922, mas os camponeses recusam-se a deixar de trabalhar em função disso, gerando conflitos com a Polícia.
Alguns moradores da cidade também são mobilizados para lutar na 'Guerra Civil Espanhola', na qual o regime Fascista de Mussolini desempenhou um importante papel no apoio a um general golpista e reacionário, Francisco Franco, que promoveu um Golpe de Estado e iniciou uma Guerra Civil, em Julho de 1936, com o objetivo de derrubar o governo Republicano da 'Frente Popular' e que havia sido eleito democraticamente.
Obs1: A participação italiana na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi bastante significativa, sendo fundamental para a vitória alcançada por Franco. Mussolini enviou cerca de 70 mil soldados, 2 mil canhões, 10 mil metralhadoras, 250 mil fuzis e 90 navios de guerra para lutar ao lado dos golpistas reacionários liderados por Franco, que acabaram vitoriosos.
Na cidade, no entanto, também existem muitas pessoas que são de oposição ao regime fascista, mas que não atuam politicamente. E por isso elas não são incomodadas pelos líderes locais, que os conhecem e que frequentam os mesmos locais que esses antifascistas. Um dos principais antifascistas é um médico, que também pensa que Omero é um hierarca fascista.
Além disso, algumas pessoas fazem críticas abertas a Mussolini, como é o caso de uma mulher pobre e idosa, que diz que o ditador é um assassino e que o mesmo matou muitas pessoas.
Até mesmo a miserável população local também tenta obter de Omero alguns favores e benefícios, imaginando que ele poderá resolver os seus problemas de alimentação, moradia, entre outros.
Omero, durante quase todo o tempo em que permanece na cidade, não se dá conta de que os líderes fascistas estão fazendo uma brutal confusão, acreditando que ele é um hierarca do PNF. Afinal, ele falou a verdade quando lhes disse, ao chegar à cidade, de que ele estava ali para vender seguros.
Mas o que ocorre é que todas as iniciativas dos líderes locais, para o falso hierarca, se destinam a esconder o fato de que eles são pessoas meramente oportunistas, desonestas e corruptas, e de que não acreditam, de fato, nem no Fascismo e nem em Mussolini. Eles querem apenas ocupar os cargos mais importantes e utilizar os mesmos em proveito próprio.
Desenvolver o país? Melhorar as condições de vida da população? Transformar a Itália em um país rico e poderoso, até mesmo em um Império, como defendia Mussolini? Nada disso importa para os incompetentes, desonestos e oportunistas líderes da cidade.
Enquanto tudo isso acontece, Omero acaba se envolvendo romanticamente com
Elvira, a bonita filha do desonesto interventor Salvatore. Ela também pensa que ele é um influente hierarca fascista e sonha em se casar com o mesmo, pois vê nisso uma possibilidade de ascensão econômica e social, bem como de ir viver na capital do país (Roma, é claro).
Elvira lhe diz que sonha em casar com um homem cheio de medalhas e que seja um herói da pátria. Por isso, Omero lhe pergunta, ironicamente, se ela deseja ter um marido ou um monumento à memória...
Omero também é levado para instalações esportivas onde crianças e adolescentes são treinadas em várias modalidades. Em uma delas, Omero mostra que era um talentoso ginasta, o que deixa a todos impressionados, incluindo a bela Elvira.
Somente no final dessa ótima sátira é que Omero irá perceber que o confundiram com um hierarca fascista e, naquela que deveria ser uma alegre e animada festa, que reúne a elite local, para comemorar o noivado dele com Elvira, o mesmo irá expor a desonestidade dos líderes da cidade, bem como deixará claro que ele é, sim, um mero corretor de seguros e não um poderoso hierarca fascista.
Omero acaba falando tudo isso (sob o efeito do álcool) para todos, resumindo tudo o que ele havia percebido enquanto permaneceu no local: corrupção, desonestidade, traição, mentiras, atraso, manipulação, miséria, oportunismo.
Os líderes fascistas ficam furiosos com o funcionário (Salvério) que havia lhes dito que Omero era o hierarca fascista, mas eles ficam aliviados quando o verdadeiro hierarca aparece na cidade e os trata muito bem, dizendo que eles representam o que a Itália possui de melhor, sendo as 'forças vivas da Nação'.
E Omero volta para Roma, de trem, levando junto uma carta de um miserável morador da cidade, que insiste com o falso hierarca para que ele entregue a mesma para Mussolini. Na carta, o morador pede para que Mussolini lhe dê uma casa decente para morar, demonstrando confiança de que o ditador irá atender ao seu pedido.
E é claro que isso não irá acontecer.
Assim, Luigi Zampa usa da comédia e da sátira para traçar um painel devastador a respeito da Itália Fascista, mostrando claramente que a mesma em nada se parecia com a propaganda maciça que Mussolini e seu governo faziam, pois o país era marcado por muita pobreza, atraso econômico, ineficiência, incompetência, oportunismo e corrupção.
Informações Adicionais!
Título: 'Gli Anni Ruggenti' ('Os Anos Felizes')
Diretor: Luigi Zampa;
Roteiro: Luigi Zampa, Ettore Scola, Sergio Amidei, Vincenzo Talarico, Ruggero Maccari;
Ano de Produção: 1962;
País de Produção: Itália;
Duração: 102 minutos;
Gênero: Comédia Satírica;
Música: Piero Piccioni;
Fotografia: Carlo Carlini;
Elenco: Nino Manfredi (Omero Battifiori); Gino Cervi (Salvatore Acquamano); Michèle Mercier (Elvira Acquamano); Gastone Moschin (Carmine Passante); Salvo Randone (Médico Antifascista); Angela Luce (Rosa De Bellis); Rosalia Maggio (Nunzia Acquamano); Giuseppe Ianigro (Nicola De Bellis); Linda Sini (Elsa); Mario Passante (comerciante fascista).
Prêmio: Melhor Filme no Festival de Locarno (Suíça) de 1962.
A produção de 'Gli Anni Ruggenti' e a carreira de Luigi Zampa!
Em 'Gli Anni Ruggenti' (‘Os Anos Felizes’; 1962) Luigi Zampa faz uma brilhante sátira política ao Fascismo, mostrando que o regime vivia muito em função da propaganda e que o governo liderado por Mussollini não resolveu nenhum dos principais problemas da Itália: pobreza, atraso econômico, incompetência, corrupção, ineficiência.
Luigi Zampa foi um dos muitos diretores italianos que estiveram, em algum momento de suas trajetórias cinematográficas, ligados ao Neo-Realismo italiano. Ele era filho de um operário e o seu primeiro filme como diretor foi realizado em 1933.
Zampa estudou no 'Centro Experimental de Cinematografia' (que foi criado em 1935), que foi responsável pela formação profissional de inúmeros atores e atrizes e cineastas italianos, como foi o caso de Michelangelo Antonioni.
Sua obra é marcada pela produção de inúmeras sátiras políticas e de costumes que mostravam uma visão bastante crítica da sociedade e do regime fascista. E 'Gli Anni Ruggenti' é um dos melhores exemplos disso.
Outro filme importante de Zampa foi 'Angelina, a Honorável', com Anna Magnani, que foi o seu nono longa-metragem e fez um grande sucesso, tendo sido o quarto filme mais assistido nos cinemas italianos em 1947. E um outro filme realizado no mesmo ano por Zampa ('Vivere in Pace'; 1947) conquistou vários prêmios, incluindo o de Melhor Roteiro no Festival de Locarno de 1947 e o de Melhor Filme Estrangeiro dos críticos de Cinema de Nova York.
A época em que este ótimo filme de Luigi Zampa foi produzido (início dos anos 1960) foi marcada por inúmeras produções que, de certa maneira, retomavam os temas da era de ouro do Neorrealismo Italiano, que se deu entre 1943-1952. Assim, os temas da Segunda Guerra Mundial, da luta da Resistência Partigiana contra o Fascismo, o governo ditatorial de Mussolini voltaram a ser explorados e desenvolvidos por inúmeros diretores.
Com isso, tivemos a produção de excelentes filmes, tais como 'Gli Sbandati' (Francesco Maselli; 1955), que antecipou essa tendência em alguns anos, 'La Ciociara' (Vittorio De Sica; 1960), 'Era Notte a Roma' (Roberto Rossellini; 1960), "La Lunga Notte del'43" (Florestano Vancini; 1960), "L'Oro di Roma" (Carlos Lizzani; 1961), "Tiro al Piccione" (Giuliano Montaldo; 1962), "La Marcia su Roma" (Dino Risi; 1963).
A trama do filme!
A trama de ‘Gli Anni Ruggenti’ gira em torno de uma viagem ‘imaginária’ de um hierarca fascista a uma pequena cidade da região de Puglia, no Sul da Itália, em Outubro de 1937.
O filme começa com a população da cidade assistindo (no cinema, é claro) a um filme de propaganda fascista, que mostrava Mussolini ajudando os agricultores e usando picaretas em obras públicas, passando para a população italiana a ideia de que seu governo era atuante e que procurava resolver os principais problemas do país, incluindo a agricultura e a construção civil.
Mas é justamente este mito que Luigi Zampa irá procurar desmontar em seu filme.
Tudo começa quando o PNF (Partido Nacional Fascista) enviou um telegrama avisando aos governantes desta pequena cidade sulista de que um líder fascista (um hierarca) irá fazer uma visita de forma anônima à mesma com o objetivo de investigar as ações dos líderes fascistas locais e descobrir eventuais irregularidades que estivessem acontecendo.
Isso deixa os líderes fascistas locais em estado de pânico, pois todos eles têm ‘culpa no cartório’, ou seja, estão envolvidos com algum tipo de prática ilegal ou criminosa.
Entre os principais líderes da cidade estão Salvatore Acquamano (pai da bela Elvira), Carmine Passante (secretário político local do PNF) e Nicola De Bellis. Estes ficam apavorados com a possibilidade de que o hierarca descubra as inúmeras irregularidades e falcatruas que eles cometeram na região, e que inclui o desvio de recursos públicos, contrabando, entre outros.
Além disso, os líderes da cidade também guardam outros segredos, ligados às suas vidas pessoais, como a prática do adultério. Um deles (Nicola) é frequentemente traído pela esposa (Rosa), o que apenas ele ignora, e acaba se tornando motivo de chacota por parte dos demais, que o chamam de 'cornudo'.
Na ânsia de agradar ao suposto 'hierarca' fascista (Omero), o secretário político fascista (Carmine) irá espalhar frases e fotografias que exaltam Mussolini e o regime Fascista. |
Eles ficam convencidos de que o nome deste hierarca é Omero Battifiori que acabou de chegar de Roma e que, no entanto, é apenas um simples corretor de seguros que foi para a cidade a fim de conseguir novos clientes.
Para isso, Omero pede a ajuda de um funcionário do hotel, que fornece o nome de algumas das pessoas mais importantes da cidade.
Mas os líderes locais, convencidos de que ele é o hierarca fascista, passam a acreditar que Omero pediu o nome deles a fim de fazer uma investigação que teria sido determinada pelo governo nacional.
Quando Omero vai procurar por eles, o mesmo se apresenta como um simples corretor de seguros, mas os líderes fascistas acreditam que isso é apenas uma fachada da qual o ‘hierarca’ se utiliza para investigá-los.
Salvatore chega a suar abundantemente quando Omero começa a lhe fazer perguntas sobre as suas atividades profissionais e a respeito da sua renda pessoal. O seu ‘calcanhar de Aquiles’ são as obras do aeroporto local, que não saíram do papel, mesmo tendo recebido verbas para realizá-las.
Na ânsia de agradar ao falso hierarca (Omero), os líderes da cidade procuram demonstrar que são verdadeiros fascistas, colocando fotografias imensas de Mussolini na parede, por exemplo. Eles também fazem de tudo para ‘maquiar’ a cidade.
Assim, eles mandam esconder do ‘hierarca’ os bairros onde vive a população mais pobre, e também ordenam que a Polícia recolha os bêbados e mendigos da cidade para a prisão, enfim, procuram promover uma espécie de ‘embelezamento artificial’ da cidade.
Os pobres reclamam que o bloqueio erguido pelos governantes da cidade para escondê-los do ‘hierarca’ irá dificultar a locomoção deles, pois terão que andar muito mais para poder sair e chegar às suas paupérrimas moradias, mas os líderes locais não ligam a mínima para isso.
Elvira e Omero se envolvem romanticamente. Mas ela tem grandes ambições e não sabe que Omero é um simples corretor de seguros e não um poderoso 'hierarca' fascista. |
Eles aplaudem quando Omero faz isso, usam de picaretas quando ele faz o mesmo, o que gera várias situações cômicas. Eles também procuram obter informações, com o ‘hierarca’ Omero, a respeito de Mussolini, querendo saber se ele o vê com frequência.
Os líderes da cidade também criam situações ridículas com o objetivo de convencer Omero de que a cidade está progredindo. Assim, eles levam dezenas de cabeças de gado (bois e vacas) de caminhão, de uma fazenda a outra da região, falando para o suposto hierarca que eram todas vacas leiteiras.
A população também acaba sendo convocada para participar, de forma obrigatória, das manifestações e desfiles do dia 28 de Outubro (um feriado nacional criado por Mussolini), data em que se comemorava, na Itália fascista, a chamada 'Marcha Sobre Roma', que ocorreu em 28/10/1922, mas os camponeses recusam-se a deixar de trabalhar em função disso, gerando conflitos com a Polícia.
O médico antifascista local descobre que Omero não é nenhum 'hierarca' fascista enviado pelo PNF para fiscalizar os governantes locais, mas um simples corretor de seguros. |
Obs1: A participação italiana na Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi bastante significativa, sendo fundamental para a vitória alcançada por Franco. Mussolini enviou cerca de 70 mil soldados, 2 mil canhões, 10 mil metralhadoras, 250 mil fuzis e 90 navios de guerra para lutar ao lado dos golpistas reacionários liderados por Franco, que acabaram vitoriosos.
Na cidade, no entanto, também existem muitas pessoas que são de oposição ao regime fascista, mas que não atuam politicamente. E por isso elas não são incomodadas pelos líderes locais, que os conhecem e que frequentam os mesmos locais que esses antifascistas. Um dos principais antifascistas é um médico, que também pensa que Omero é um hierarca fascista.
Além disso, algumas pessoas fazem críticas abertas a Mussolini, como é o caso de uma mulher pobre e idosa, que diz que o ditador é um assassino e que o mesmo matou muitas pessoas.
Elvira fica triste e chora ao saber que Omero não era o rico e poderoso 'hierarca' fascista que ela imaginava. |
Omero, durante quase todo o tempo em que permanece na cidade, não se dá conta de que os líderes fascistas estão fazendo uma brutal confusão, acreditando que ele é um hierarca do PNF. Afinal, ele falou a verdade quando lhes disse, ao chegar à cidade, de que ele estava ali para vender seguros.
Mas o que ocorre é que todas as iniciativas dos líderes locais, para o falso hierarca, se destinam a esconder o fato de que eles são pessoas meramente oportunistas, desonestas e corruptas, e de que não acreditam, de fato, nem no Fascismo e nem em Mussolini. Eles querem apenas ocupar os cargos mais importantes e utilizar os mesmos em proveito próprio.
Desenvolver o país? Melhorar as condições de vida da população? Transformar a Itália em um país rico e poderoso, até mesmo em um Império, como defendia Mussolini? Nada disso importa para os incompetentes, desonestos e oportunistas líderes da cidade.
Omero tenta convencer a bela Elvira a se casar com ele, mas ela deseja ter um marido rico e poderoso, um 'herói da pátria'. E Omero é um simples corretor de seguros... |
Elvira, a bonita filha do desonesto interventor Salvatore. Ela também pensa que ele é um influente hierarca fascista e sonha em se casar com o mesmo, pois vê nisso uma possibilidade de ascensão econômica e social, bem como de ir viver na capital do país (Roma, é claro).
Elvira lhe diz que sonha em casar com um homem cheio de medalhas e que seja um herói da pátria. Por isso, Omero lhe pergunta, ironicamente, se ela deseja ter um marido ou um monumento à memória...
Omero também é levado para instalações esportivas onde crianças e adolescentes são treinadas em várias modalidades. Em uma delas, Omero mostra que era um talentoso ginasta, o que deixa a todos impressionados, incluindo a bela Elvira.
Somente no final dessa ótima sátira é que Omero irá perceber que o confundiram com um hierarca fascista e, naquela que deveria ser uma alegre e animada festa, que reúne a elite local, para comemorar o noivado dele com Elvira, o mesmo irá expor a desonestidade dos líderes da cidade, bem como deixará claro que ele é, sim, um mero corretor de seguros e não um poderoso hierarca fascista.
Omero acaba falando tudo isso (sob o efeito do álcool) para todos, resumindo tudo o que ele havia percebido enquanto permaneceu no local: corrupção, desonestidade, traição, mentiras, atraso, manipulação, miséria, oportunismo.
O verdadeiro 'hierarca' (líder) fascista chega à cidade e exalta as oportunistas e corruptas lideranças da cidade. |
E Omero volta para Roma, de trem, levando junto uma carta de um miserável morador da cidade, que insiste com o falso hierarca para que ele entregue a mesma para Mussolini. Na carta, o morador pede para que Mussolini lhe dê uma casa decente para morar, demonstrando confiança de que o ditador irá atender ao seu pedido.
E é claro que isso não irá acontecer.
Assim, Luigi Zampa usa da comédia e da sátira para traçar um painel devastador a respeito da Itália Fascista, mostrando claramente que a mesma em nada se parecia com a propaganda maciça que Mussolini e seu governo faziam, pois o país era marcado por muita pobreza, atraso econômico, ineficiência, incompetência, oportunismo e corrupção.
Omero lê a carta de um pobre morador da região de Puglia, que ingenuamente acredita que o 'Duce' irá lhe dar uma casa decente para morar. |
Informações Adicionais!
Título: 'Gli Anni Ruggenti' ('Os Anos Felizes')
Diretor: Luigi Zampa;
Roteiro: Luigi Zampa, Ettore Scola, Sergio Amidei, Vincenzo Talarico, Ruggero Maccari;
Ano de Produção: 1962;
País de Produção: Itália;
Duração: 102 minutos;
Gênero: Comédia Satírica;
Música: Piero Piccioni;
Fotografia: Carlo Carlini;
Elenco: Nino Manfredi (Omero Battifiori); Gino Cervi (Salvatore Acquamano); Michèle Mercier (Elvira Acquamano); Gastone Moschin (Carmine Passante); Salvo Randone (Médico Antifascista); Angela Luce (Rosa De Bellis); Rosalia Maggio (Nunzia Acquamano); Giuseppe Ianigro (Nicola De Bellis); Linda Sini (Elsa); Mario Passante (comerciante fascista).
Prêmio: Melhor Filme no Festival de Locarno (Suíça) de 1962.
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