'Mourir à Madrid': Um documentário clássico que mostra quais foram as causas da Guerra Civil Espanhola!
'Mourir à Madrid': Um documentário clássico que mostra quais foram as causas da Guerra Civil Espanhola! - Marcos Doniseti!
'Mourir à Madrid' é um excepcional documentário, dirigido por Frédéric Rossif. Ele mostra quais foram as causas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e explica porque as forças políticas e sociais espanholas mais reacionárias acabaram vitoriosas no conflito, no qual morreram cerca de 1 milhão de pessoas em dois anos e nove meses de guerra.
O documentário é muito esclarecedor a respeito dos conflitos políticos e sociais que provocaram essa que foi a 'Guerra Civil Espanhola' (1936-1939) e que se transformou na primeira grande batalha da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) no continente europeu.
Afinal, todas as principais potências europeias, mais os EUA, se envolveram, de uma forma ou de outra, no brutal conflito espanhol: Grã-Bretanha, Alemanha Nazista, Itália Fascista, França e a URSS. Destas, somente França e, principalmente, a URSS ajudaram ao governo democrático, plural e progressista da República Espanhola e que era liderado pela Frente Popular.
Mas, no caso francês esse apoio foi mais fraco, pois havia uma divisão muito forte dentro do governo (também de Frente Popular) e do país. Uma boa parte dos franceses (principalmente da Burguesia e da Classe Média mais conservadora) apoiou Franco e, ainda, pressionou o governo do país para que recusasse qualquer ajuda ao governo progressista da República democrática espanhola.
Na década de 1930 a França possuía muitos e fortes movimentos políticos de Direita e de Extrema-Direita que simpatizavam com Franco, Hitler e Mussolini, sendo que os mesmos contavam com significativo apoio popular.
Exemplo disso foi o movimento de Direita Radical chamado 'Croix de Feu', liderado por François de La Rocque, que possuía uma força paramilitar própria (chamada de 'Dispos'), defendia a instalação de uma Ditadura, atacava o Liberalismo e o Socialismo, bem como defendia o Corporativismo. Desta maneira, a 'Croix de Feu' reunia as principais características de um movimento tipicamente Fascista.
As causas da Guerra Civil Espanhola foram essencialmente internas, mas as questões envolvidas eram as mesmas que afetavam outros países da Europa neste período:
A) Luta de classes, com o fortalecimento das mobilizações promovidas por operários e camponeses, que lutavam por reforma agrária, melhores salários, leis trabalhistas e, até, por uma Revolução Social que destruísse o Capitalismo e criasse uma sociedade igualitária.
No caso espanhol, uma parte deste movimento era mais radical e queria também destruir o Estado, a Igreja e o Capitalismo: Eram os Anarquistas ou Anarcossindicalistas, representados pela CNT-FAI, e por uma minoria dos Socialistas, que eram representados pelo PSOE e pela UGT (seu principal líder era Francisco Largo Caballero, que foi o primeiro líder do governo Republicano, entre 1936-1937).
Uma outra ala do governo da Frente Popular era mais moderada, sendo que a mesma desejava reformar e modernizar a Espanha, mas sem promover uma Revolução Social, o que era o caso da maioria dos Socialistas, dos Comunistas, da Burguesia Liberal e da Classe Média;
B) Rejeição às mudanças sociais e à modernização econômica por parte das forças conservadoras (Igreja Católica, Exército, Latifundiários);
C) Crescente papel dos jovens e das mulheres na sociedade, o que era fortemente rejeitado pelos setores mais tradicionalistas, principalmente aqueles que eram muito influenciados pela Igreja Católica;
D) Industrialização e urbanização, que enfraquecia progressivamente os poderes da Igreja Católica e dos Latifundiários, que exercia uma influência bem pequena nas regiões mais industrializadas e nas maiores cidades (Barcelona, Madrid, Valência, Bilbao);
E) Expansão das classes médias instruídas e urbanas, que lutavam para participar do sistema político, o que era barrado pelas forças mais reacionárias e elitistas do país;
F) Lutas de algumas regiões por maior autonomia em relação ao governo central. Na Espanha, este era o caso do País Basco e da Catalunha, em especial. As forças Franquistas queriam o contrário, construindo um Estado totalmente centralizado.
Com isso, depois que venceu a Guerra Civil, Franco chegou até a proibir que as populações da Catalunha e da região Basca usassem as suas línguas, obrigando-as a falar apenas o Castelhano, o que gerou uma forte resistência por parte da população de ambas as regiões.
Também vemos, no documentário, quais eram as forças políticas e sociais que entraram em choque na Guerra e quais os motivos que as levaram a participar do conflito:
A) De um lado, as forças reacionárias, contrárias às mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais que ocorriam no país, pois as mesmas levavam a uma crescente perda do seu imenso poderio e dos seus privilégios econômicos, sociais, políticos e culturais.
Estes eram os casos dos Latifundiários, do Exército, da Monarquia e da Igreja Católica, cujo apoio vinha das regiões mais pobres e atrasadas do país (as áreas rurais, onde ainda vivia mais da metade da população espanhola);
B) Enquanto isso, outras forças políticas e sociais lutavam para aprofundar e acelerar as mudanças e promover a modernização da Espanha: Operários, Camponeses, Classe Média instruída, Industriais, Nacionalistas bascos e catalães, jovens e mulheres.
A base social destas forças se concentrava nas regiões mais ricas, industrializadas e urbanizadas do país: Catalunha, Valência e País Basco, em especial.
Os Anarquistas (ou Anarcossindicalistas) conseguiram, também, conquistar um grande apoio entre os camponeses e trabalhadores rurais miseráveis da região Sul da Espanha, pois estes eram brutalmente explorados pelos Latifundiários. Estes contavam com o apoio da Igreja e das forças policiais, motivos pelos quais os camponeses sulistas espanhóis repudiavam o Estado, o Capitalismo e a Religião.
Isso explica o grande apelo popular do discurso Anarcossindicalista na região sulista espanhola.
Os segmentos reacionários temiam os efeitos das mudanças realizadas pelo primeiro governo Republicano, que havia sido eleito em 1931 e que possuía um perfil progressista, modernizador e liberal.
Este governo Republicano durou de 1931 a 1933 e promoveu inúmeras e significativas mudanças no país, promovendo a reforma agrária, realizando investimentos maciços na educação pública, aumentando os salários, criando leis trabalhistas (jornada de 8 horas diárias, a licença-maternidade, as férias remuneradas,), reconhecendo o direito de voto para as mulheres, reformando o Exército e proibindo os cultos religiosos (devido ao caráter profundamente reacionário da Igreja Católica espanhola).
Este governo Republicano possuíam um perfil Iluminista, cuja principal fonte de inspiração era a Revolução Francesa de 1789-1799. Mas, entre 1935-1936, a divisão das forças progressistas, que entraram em choque entre si, enfraqueceu o governo Republicano.
Isso aconteceu porque alguns segmentos sociais dos Republicanos entendiam que as mudanças promovidas pelo governo eram insuficientes e queriam acelerar e radicalizar o processo de transformação do Estado, da sociedade e da economia espanhola. Este era o caso dos Anarquistas e de setores radicais dos Socialistas (cuja maioria era reformista, mas não revolucionária).
Com isso, as forças mais conservadoras venceram as eleições de 1934 e retomaram o controle do governo espanhol. A partir deste momento, elas procuraram reverter as principais mudanças que o governo Republicano progressista havia promovido nos anos anteriores (reforma agrária, aumentos de salários, criação de direitos trabalhistas).
Esse retrocesso fará com que as forças políticas e sociais mais progressistas (Anarquistas, Socialistas, Comunistas, Republicanos de Esquerda e Burguesia Liberal) se unam. E essa união as levará a criar a chamada 'Frente Popular', que venceu (por estreita margem) as eleições para o Parlamento espanhol em Fevereiro de 1936.
No caso dos Anarquistas/Anarcossindicalistas, embora estes fossem historicamente contrários à participação em eleições, em 1936 eles mudaram essa política e participaram da Frente Popular, pois o programa de governo desta previa a libertação dos prisioneiros políticos e havia milhares de anarquistas presos no país naquele momento, o que foi resultado da brutal promovida pelo governo da Direita entre 1934-1936.
Assim, a Espanha voltou a ter um governo Republicano e progressista novamente. E com isso, as mudanças do governo de 1931-1933 foram retomadas.
E foi isso que levou as forças mais retrógradas da Espanha a se unir para promover um Golpe de Estado que derrubasse o governo da Frente Popular. Mas a Frente Popular possuía uma substancial base popular organizada, que lhe dava sustentação: partidos políticos, sindicatos, centrais sindicais, movimentos de jovens e mulheres.
E tais segmentos progressistas resistiram ao Golpe das forças Reacionárias, que estourou em 17/07/1936, graças à esta base social organizada que possuía.
Com isso, o Golpe Reacionário foi apenas parcialmente vitorioso.
No início da Guerra Civil, os golpistas conseguiram assumir o controle apenas das regiões mais atrasadas do país: parte agrária do Sul (dominada pelos latifundiários) e o Norte, no qual a Igreja Católica predominava. Já nas áreas mais ricas e industrializadas, as forças progressistas da Frente Popular foram vitoriosas, conseguindo derrotar os golpistas.
Se dependesse apenas das forças políticas e sociais internas, é muito provável que a República fosse vitoriosa. Afinal, ela controlava as regiões mais ricas e tinha as reservas de ouro do país em suas mãos. Mas tal vitória não aconteceu, pois o fator que acabou decidindo o resultado final do conflito foi a atuação das grandes potências mundiais.
Assim, Franco contou com o apoio descarado e gigantesco da Itália Fascista e da Alemanha Nazista que, somadas, enviaram mais de 90 mil soldados (passam de 100 mil se somarmos os 10 mil soldados enviados pela Ditadura portuguesa de Salazar) e muitos armamentos modernos (aviões, blindados e artilharia), tais como os canhões de 88 mm e os aviões alemães Junker 52, Henkel 111 e Messerschmitt 109. Todos estes armamentos foram testados pelos nazifascistas na Guerra Civil Espanhola e acabaram largamente utilizados na Segunda Guerra Mundial.
Franco também contou com um significativo apoio dos setores privados dos EUA, da Grã-Bretanha e da França. Muitos industriais e banqueiros destes países ajudaram as forças franquistas com petróleo, empréstimos e veículos. A GM e a Ford forneceram milhares de veículos para os franquistas.
Enquanto isso, a República contava apenas com o apoio limitado da URSS que, no entanto, evitou um envolvimento maior no conflito espanhol para não alarmar a França, a Grã-Bretanha e os EUA, com quem Stalin desejava forjar uma ampla aliança a fim de conter a expansão do Nazi-Fascismo.
E tudo isso acontecia enquanto o governo da Grã-Bretanha promovia uma hipócrita, falsa e mentirosa política de 'não-intervenção', que foi inteiramente prejudicial apenas para o governo Republicano.
Afinal, tal política foi totalmente ignorada pela Itália Fascista e pela Alemanha Nazista, que controlavam o acesso dos espanhóis ao Mar Mediterrâneo (impedindo a chegada de produtos e armamentos para as forças Republicanas) e enviaram armamentos e soldados em grande quantidade para as forças Franquistas.
Logo, as forças franquistas sempre dispuseram de uma significativa vantagem em termos de forças militares, tanto no número de soldados (seus mortos e feridos eram repostos com mais facilidade e rapidez), quanto nos armamentos disponíveis (aviões, blindados, canhões).
E também nunca faltou, para o genocida Francisco Franco, acesso facilitado a empréstimos externos fornecidos por banqueiros Grã-Bretanha, França e dos EUA para que Franco e seus aliados pudessem comprar o petróleo, alimentos e veículos necessários a uma guerra que durou dois anos e nove meses.
Essa substancial ajuda externa que as forças Franquistas receberam, bem como o isolamento internacional da República Espanhola, foi o fator principal que levou à vitória das forças franquistas na Guerra Civil.
Sem o apoio decisivo de Hitler e Mussolini, e do apoio disfarçado, mas significativo, dos EUA e da Grã-Bretanha, Franco jamais teria vencido a Guerra Civil na Espanha.
E o povo espanhol pagou um alto preço por esta vitória de Franco, que impôs uma Ditadura brutal e sanguinária, que procurou aniquilar toda e qualquer oposição, real ou imaginária. Assim, Franco acabou criando um Estado Policial e Totalitário dos mais brutais e cruéis que já existiu na Europa, construindo campos de concentração, explorando trabalho escravo dos prisioneiros, eliminando fisicamente centenas de milhares de Republicanos.
Historiadores espanhóis e de outros países que estudaram a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a Ditadura Franquista (1939-1975) estimam que o regime assassino de Franco eliminou entre 2 e 5 milhões de pessoas entre 1939-1975, o que permite caracterizar o mesmo como o regime mais assassino e sanguinário da Europa no Pós-Guerra.
O número de mortos pela Ditadura Franquista é ainda mais significativo porque, quando terminou a Guerra Civil, em 1939, a população da Espanha era de apenas 25,6 milhões de habitantes.
Informações Adicionais!
Título: Mourir à Madrid (Morrer em Madrid);
Diretor: Frédéric Rossif;
Roteiro: Frédéric Rossif e Madeleine Chapsal;
Ano de Produção: 1963;
País de Produção: França;
Duração: 85 minutos;
Gênero: Documentário;
Fotografia: Georges Barsky;
Música: Maurice Jarre;
Narradores: Suzanne Flon; Germaine Montero; Pierre Vaneck; Roger Mollien e Jean Vilar;
Prêmios: BAFTA Awards de Documentário de 1968; Prêmio Jean Vigo, de 1963, de Melhor Produção.
Link:
A Guerra Civil Espanhola - Augusto Buonicore:
http://vermelho.org.br/noticia/283839-1
As 'Mujeres Libres' Anarquistas:
http://www.publico.es/politica/memoria-publica/80-anos-mujeres-libres-xxx-mujeres-libres-anarquistas-revolucionaron-clase-obrera.html
Documentário está disponível no YouTube, nos links abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=iMyT53vjw-o
https://www.youtube.com/watch?v=kI8mEjrtPqk&t=3327s
'Mourir à Madrid' é um excepcional documentário, dirigido por Frédéric Rossif. Ele mostra quais foram as causas da Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e explica porque as forças políticas e sociais espanholas mais reacionárias acabaram vitoriosas no conflito, no qual morreram cerca de 1 milhão de pessoas em dois anos e nove meses de guerra.
O documentário é muito esclarecedor a respeito dos conflitos políticos e sociais que provocaram essa que foi a 'Guerra Civil Espanhola' (1936-1939) e que se transformou na primeira grande batalha da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) no continente europeu.
Afinal, todas as principais potências europeias, mais os EUA, se envolveram, de uma forma ou de outra, no brutal conflito espanhol: Grã-Bretanha, Alemanha Nazista, Itália Fascista, França e a URSS. Destas, somente França e, principalmente, a URSS ajudaram ao governo democrático, plural e progressista da República Espanhola e que era liderado pela Frente Popular.
Mas, no caso francês esse apoio foi mais fraco, pois havia uma divisão muito forte dentro do governo (também de Frente Popular) e do país. Uma boa parte dos franceses (principalmente da Burguesia e da Classe Média mais conservadora) apoiou Franco e, ainda, pressionou o governo do país para que recusasse qualquer ajuda ao governo progressista da República democrática espanhola.
Exemplo disso foi o movimento de Direita Radical chamado 'Croix de Feu', liderado por François de La Rocque, que possuía uma força paramilitar própria (chamada de 'Dispos'), defendia a instalação de uma Ditadura, atacava o Liberalismo e o Socialismo, bem como defendia o Corporativismo. Desta maneira, a 'Croix de Feu' reunia as principais características de um movimento tipicamente Fascista.
As causas da Guerra Civil Espanhola foram essencialmente internas, mas as questões envolvidas eram as mesmas que afetavam outros países da Europa neste período:
A) Luta de classes, com o fortalecimento das mobilizações promovidas por operários e camponeses, que lutavam por reforma agrária, melhores salários, leis trabalhistas e, até, por uma Revolução Social que destruísse o Capitalismo e criasse uma sociedade igualitária.
Uma outra ala do governo da Frente Popular era mais moderada, sendo que a mesma desejava reformar e modernizar a Espanha, mas sem promover uma Revolução Social, o que era o caso da maioria dos Socialistas, dos Comunistas, da Burguesia Liberal e da Classe Média;
B) Rejeição às mudanças sociais e à modernização econômica por parte das forças conservadoras (Igreja Católica, Exército, Latifundiários);
C) Crescente papel dos jovens e das mulheres na sociedade, o que era fortemente rejeitado pelos setores mais tradicionalistas, principalmente aqueles que eram muito influenciados pela Igreja Católica;
Cartaz do PCE chamando os operários, camponeses, soldados e intelectuais a se unirem ao Partido e em defesa da República. |
E) Expansão das classes médias instruídas e urbanas, que lutavam para participar do sistema político, o que era barrado pelas forças mais reacionárias e elitistas do país;
F) Lutas de algumas regiões por maior autonomia em relação ao governo central. Na Espanha, este era o caso do País Basco e da Catalunha, em especial. As forças Franquistas queriam o contrário, construindo um Estado totalmente centralizado.
Com isso, depois que venceu a Guerra Civil, Franco chegou até a proibir que as populações da Catalunha e da região Basca usassem as suas línguas, obrigando-as a falar apenas o Castelhano, o que gerou uma forte resistência por parte da população de ambas as regiões.
Também vemos, no documentário, quais eram as forças políticas e sociais que entraram em choque na Guerra e quais os motivos que as levaram a participar do conflito:
A) De um lado, as forças reacionárias, contrárias às mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais que ocorriam no país, pois as mesmas levavam a uma crescente perda do seu imenso poderio e dos seus privilégios econômicos, sociais, políticos e culturais.
Estes eram os casos dos Latifundiários, do Exército, da Monarquia e da Igreja Católica, cujo apoio vinha das regiões mais pobres e atrasadas do país (as áreas rurais, onde ainda vivia mais da metade da população espanhola);
B) Enquanto isso, outras forças políticas e sociais lutavam para aprofundar e acelerar as mudanças e promover a modernização da Espanha: Operários, Camponeses, Classe Média instruída, Industriais, Nacionalistas bascos e catalães, jovens e mulheres.
A base social destas forças se concentrava nas regiões mais ricas, industrializadas e urbanizadas do país: Catalunha, Valência e País Basco, em especial.
Os Anarquistas (ou Anarcossindicalistas) conseguiram, também, conquistar um grande apoio entre os camponeses e trabalhadores rurais miseráveis da região Sul da Espanha, pois estes eram brutalmente explorados pelos Latifundiários. Estes contavam com o apoio da Igreja e das forças policiais, motivos pelos quais os camponeses sulistas espanhóis repudiavam o Estado, o Capitalismo e a Religião.
Isso explica o grande apelo popular do discurso Anarcossindicalista na região sulista espanhola.
Os segmentos reacionários temiam os efeitos das mudanças realizadas pelo primeiro governo Republicano, que havia sido eleito em 1931 e que possuía um perfil progressista, modernizador e liberal.
Este governo Republicano durou de 1931 a 1933 e promoveu inúmeras e significativas mudanças no país, promovendo a reforma agrária, realizando investimentos maciços na educação pública, aumentando os salários, criando leis trabalhistas (jornada de 8 horas diárias, a licença-maternidade, as férias remuneradas,), reconhecendo o direito de voto para as mulheres, reformando o Exército e proibindo os cultos religiosos (devido ao caráter profundamente reacionário da Igreja Católica espanhola).
Este governo Republicano possuíam um perfil Iluminista, cuja principal fonte de inspiração era a Revolução Francesa de 1789-1799. Mas, entre 1935-1936, a divisão das forças progressistas, que entraram em choque entre si, enfraqueceu o governo Republicano.
Isso aconteceu porque alguns segmentos sociais dos Republicanos entendiam que as mudanças promovidas pelo governo eram insuficientes e queriam acelerar e radicalizar o processo de transformação do Estado, da sociedade e da economia espanhola. Este era o caso dos Anarquistas e de setores radicais dos Socialistas (cuja maioria era reformista, mas não revolucionária).
Com isso, as forças mais conservadoras venceram as eleições de 1934 e retomaram o controle do governo espanhol. A partir deste momento, elas procuraram reverter as principais mudanças que o governo Republicano progressista havia promovido nos anos anteriores (reforma agrária, aumentos de salários, criação de direitos trabalhistas).
Esse retrocesso fará com que as forças políticas e sociais mais progressistas (Anarquistas, Socialistas, Comunistas, Republicanos de Esquerda e Burguesia Liberal) se unam. E essa união as levará a criar a chamada 'Frente Popular', que venceu (por estreita margem) as eleições para o Parlamento espanhol em Fevereiro de 1936.
No caso dos Anarquistas/Anarcossindicalistas, embora estes fossem historicamente contrários à participação em eleições, em 1936 eles mudaram essa política e participaram da Frente Popular, pois o programa de governo desta previa a libertação dos prisioneiros políticos e havia milhares de anarquistas presos no país naquele momento, o que foi resultado da brutal promovida pelo governo da Direita entre 1934-1936.
Assim, a Espanha voltou a ter um governo Republicano e progressista novamente. E com isso, as mudanças do governo de 1931-1933 foram retomadas.
E foi isso que levou as forças mais retrógradas da Espanha a se unir para promover um Golpe de Estado que derrubasse o governo da Frente Popular. Mas a Frente Popular possuía uma substancial base popular organizada, que lhe dava sustentação: partidos políticos, sindicatos, centrais sindicais, movimentos de jovens e mulheres.
E tais segmentos progressistas resistiram ao Golpe das forças Reacionárias, que estourou em 17/07/1936, graças à esta base social organizada que possuía.
Com isso, o Golpe Reacionário foi apenas parcialmente vitorioso.
No início da Guerra Civil, os golpistas conseguiram assumir o controle apenas das regiões mais atrasadas do país: parte agrária do Sul (dominada pelos latifundiários) e o Norte, no qual a Igreja Católica predominava. Já nas áreas mais ricas e industrializadas, as forças progressistas da Frente Popular foram vitoriosas, conseguindo derrotar os golpistas.
Se dependesse apenas das forças políticas e sociais internas, é muito provável que a República fosse vitoriosa. Afinal, ela controlava as regiões mais ricas e tinha as reservas de ouro do país em suas mãos. Mas tal vitória não aconteceu, pois o fator que acabou decidindo o resultado final do conflito foi a atuação das grandes potências mundiais.
Assim, Franco contou com o apoio descarado e gigantesco da Itália Fascista e da Alemanha Nazista que, somadas, enviaram mais de 90 mil soldados (passam de 100 mil se somarmos os 10 mil soldados enviados pela Ditadura portuguesa de Salazar) e muitos armamentos modernos (aviões, blindados e artilharia), tais como os canhões de 88 mm e os aviões alemães Junker 52, Henkel 111 e Messerschmitt 109. Todos estes armamentos foram testados pelos nazifascistas na Guerra Civil Espanhola e acabaram largamente utilizados na Segunda Guerra Mundial.
Franco também contou com um significativo apoio dos setores privados dos EUA, da Grã-Bretanha e da França. Muitos industriais e banqueiros destes países ajudaram as forças franquistas com petróleo, empréstimos e veículos. A GM e a Ford forneceram milhares de veículos para os franquistas.
Enquanto isso, a República contava apenas com o apoio limitado da URSS que, no entanto, evitou um envolvimento maior no conflito espanhol para não alarmar a França, a Grã-Bretanha e os EUA, com quem Stalin desejava forjar uma ampla aliança a fim de conter a expansão do Nazi-Fascismo.
E tudo isso acontecia enquanto o governo da Grã-Bretanha promovia uma hipócrita, falsa e mentirosa política de 'não-intervenção', que foi inteiramente prejudicial apenas para o governo Republicano.
Afinal, tal política foi totalmente ignorada pela Itália Fascista e pela Alemanha Nazista, que controlavam o acesso dos espanhóis ao Mar Mediterrâneo (impedindo a chegada de produtos e armamentos para as forças Republicanas) e enviaram armamentos e soldados em grande quantidade para as forças Franquistas.
Logo, as forças franquistas sempre dispuseram de uma significativa vantagem em termos de forças militares, tanto no número de soldados (seus mortos e feridos eram repostos com mais facilidade e rapidez), quanto nos armamentos disponíveis (aviões, blindados, canhões).
E também nunca faltou, para o genocida Francisco Franco, acesso facilitado a empréstimos externos fornecidos por banqueiros Grã-Bretanha, França e dos EUA para que Franco e seus aliados pudessem comprar o petróleo, alimentos e veículos necessários a uma guerra que durou dois anos e nove meses.
Essa substancial ajuda externa que as forças Franquistas receberam, bem como o isolamento internacional da República Espanhola, foi o fator principal que levou à vitória das forças franquistas na Guerra Civil.
Cartaz criado pelas forças Republicanas que mostram quais eram as forças políticas e sociais que apoiavam Franco: Nazistas, Fascistas, Exército, Latifundiários e Igreja Católica. |
Sem o apoio decisivo de Hitler e Mussolini, e do apoio disfarçado, mas significativo, dos EUA e da Grã-Bretanha, Franco jamais teria vencido a Guerra Civil na Espanha.
E o povo espanhol pagou um alto preço por esta vitória de Franco, que impôs uma Ditadura brutal e sanguinária, que procurou aniquilar toda e qualquer oposição, real ou imaginária. Assim, Franco acabou criando um Estado Policial e Totalitário dos mais brutais e cruéis que já existiu na Europa, construindo campos de concentração, explorando trabalho escravo dos prisioneiros, eliminando fisicamente centenas de milhares de Republicanos.
Historiadores espanhóis e de outros países que estudaram a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a Ditadura Franquista (1939-1975) estimam que o regime assassino de Franco eliminou entre 2 e 5 milhões de pessoas entre 1939-1975, o que permite caracterizar o mesmo como o regime mais assassino e sanguinário da Europa no Pós-Guerra.
O número de mortos pela Ditadura Franquista é ainda mais significativo porque, quando terminou a Guerra Civil, em 1939, a população da Espanha era de apenas 25,6 milhões de habitantes.
Informações Adicionais!
Título: Mourir à Madrid (Morrer em Madrid);
Diretor: Frédéric Rossif;
Roteiro: Frédéric Rossif e Madeleine Chapsal;
Ano de Produção: 1963;
País de Produção: França;
Duração: 85 minutos;
Gênero: Documentário;
Fotografia: Georges Barsky;
Música: Maurice Jarre;
Narradores: Suzanne Flon; Germaine Montero; Pierre Vaneck; Roger Mollien e Jean Vilar;
Prêmios: BAFTA Awards de Documentário de 1968; Prêmio Jean Vigo, de 1963, de Melhor Produção.
Helen Graham escreveu um excelente livro a respeito da Guerra Civil Espanhola. |
Link:
A Guerra Civil Espanhola - Augusto Buonicore:
http://vermelho.org.br/noticia/283839-1
As 'Mujeres Libres' Anarquistas:
http://www.publico.es/politica/memoria-publica/80-anos-mujeres-libres-xxx-mujeres-libres-anarquistas-revolucionaron-clase-obrera.html
Documentário está disponível no YouTube, nos links abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=iMyT53vjw-o
https://www.youtube.com/watch?v=kI8mEjrtPqk&t=3327s
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