"Fahrenheit 451": Truffaut faz declaração de amor à Literatura, condena o Totalitarismo e defende a liberdade de criação do artista!
"Fahrenheit 451": Truffaut faz declaração de amor à Literatura, condena o Totalitarismo e defende a liberdade de criação do artista! – Marcos Doniseti!
Truffaut e a Nouvelle Vague!
Em 1966, um dos mais talentosos cineastas franceses, François Truffaut, dirigiu ‘Fahrenheit 451’, que foi a única ficção científica de sua prolífica carreira e que, talvez, seja um dos seus filmes mais subestimados, mas que a passagem do tempo comprovou que possui inúmeras qualidades.
‘Fahrenheit 451’ foi o seu quinto longa-metragem e também foi o primeiro filme que Truffaut dirigiu e que não era falado em francês, mas em inglês.
Isso aconteceu porque o filme é uma produção britânica, que foi filmado nos ‘Pinewood Studios’, localizados nas proximidades de Londres, e a quase totalidade do seu elenco era constituído por atores e atrizes britânicos. Apenas as cenas do monotrilho é que foram filmadas na França.
A protagonista do filme, inclusive, é Julie Christie, uma das principais atrizes britânicas daquele período, ao lado de Vanessa Redgrave. Aliás, naquele mesmo ano (1966) da produção de ‘Fahrenheit 451’ ela ganhou o Oscar de melhor atriz pela sua atuação no filme ‘Darling’ (de John Schlesinger).
Neste filme de Truffaut ela interpreta duas personagens (Clarisse, uma revolucionária, e Linda Montag, a esposa conformista de Guy Montag) e que possuem características muito diferentes, comprovando a sua versatilidade.
Na sequência de abertura, Truffaut faz um uso brilhante das cores e os créditos são narrados. Godard também narrou os créditos de abertura em 'Le Mépris' ('O Desprezo', 1963). |
Truffaut foi um dos criadores da ‘Nouvelle Vague’ francesa, um movimento cinematográfico que foi, essencialmente, criação de uma equipe de críticos da revista francesa ‘Cahiers du Cinéma’ (os chamados 'Jovens Turcos') e que preconizava a defesa do chamado "Cinema Autoral".
O ‘Cinema Autoral’ da ‘Nouvelle Vague’ já era defendido desde o final dos anos 1940, quando o crítico Alexandre Astruc propôs a sua criação em um texto publicado na revista "L’Écran Français" (edição 144, de 30/03/1948): "O Nascimento de uma nova vanguarda: A Camera-Stylo".
A ‘Nouvelle Vague’ surgiu como uma forma de se rebelar contra a hegemonia dos produtores, no cinema dos EUA, e dos roteiristas, no caso do cinema francês na fase anterior à ‘Nouvelle Vague’.
Truffaut chegou a escrever um texto extremamente crítico em relação aos filmes franceses realizados no período (década de 1950) e que foi intitulado 'Uma certa tendência do cinema francês', aos quais ele chamou de 'Realismo Psicológico'. Esse texto de Truffaut foi publicado na edição de número 31 da 'Cahiers du Cinéma' (de Janeiro de 1954).
Neste texto, Truffaut afirmou que tais filmes eram todos feitos de uma maneira padronizada e, assim, o cinema francês do período se encontrava estagnado no aspecto criativo, embora os filmes fizessem muito sucesso comercial e até ganhassem prêmios nos principais festivais internacionais (Cannes, Berlim, Veneza).
Truffaut chegou a escrever um texto extremamente crítico em relação aos filmes franceses realizados no período (década de 1950) e que foi intitulado 'Uma certa tendência do cinema francês', aos quais ele chamou de 'Realismo Psicológico'. Esse texto de Truffaut foi publicado na edição de número 31 da 'Cahiers du Cinéma' (de Janeiro de 1954).
Neste texto, Truffaut afirmou que tais filmes eram todos feitos de uma maneira padronizada e, assim, o cinema francês do período se encontrava estagnado no aspecto criativo, embora os filmes fizessem muito sucesso comercial e até ganhassem prêmios nos principais festivais internacionais (Cannes, Berlim, Veneza).
Truffaut também afirmou que estes filmes eram sempre realizados pelos mesmos diretores (Claude Autant-Lara, René Clément, Jean Delannoy, Yves Allégret e Marcel Pagliero) e também eram escritos pelos mesmos roteiristas, concluindo que, essencialmente, eles eram 'filmes de roteiristas'. Truffaut, porém, dizia que os roteiros eram ruins e uniformes.
Um filme que mostra, de forma bem clara, a defesa do ‘Cinema Autoral’ e que possui uma visão extremamente crítica, da parte dos cineastas do movimento, em relação aos produtores dos EUA e roteiristas franceses é a obra-prima ‘Le Mépris’ (‘O Desprezo’, de Godard; 1963).
Outros nomes que faziam parte da "Nouvelle Vague" eram Jean-Luc Godard (o Gênio do movimento, segundo Truffaut), Claude Chabrol, Jacques Rivette e Éric Rohmer, que também eram críticos da ‘Cahiers du cinéma'.
Outros nomes que faziam parte da "Nouvelle Vague" eram Jean-Luc Godard (o Gênio do movimento, segundo Truffaut), Claude Chabrol, Jacques Rivette e Éric Rohmer, que também eram críticos da ‘Cahiers du cinéma'.
É bom ressaltar que a imensa maioria dos estudiosos franceses que se dedicaram a pesquisar a respeito da ‘Nouvelle Vague’ dizem, claramente, que ela foi criação do grupo de críticos da ‘Cahiers du Cinéma’, ou seja, da ‘Gangue Schérer’ ou, como também eram chamados por André Bazin, dos 'Jovens Turcos' da 'Cahiers du cinéma'.
Obs1: Para saber mais a respeito deste assunto sugiro a leitura do livro 'Godard, Cinema, Literatura', de Mário Alves Coutinho, que é uma coletânea de entrevistas com alguns dos principais estudiosos franceses da 'Nouvelle Vague": Jacques Aumont, Jean Collet, Michel Marie, Philippe Dubois, Alain Bergala, entre outros.
Obs1: Para saber mais a respeito deste assunto sugiro a leitura do livro 'Godard, Cinema, Literatura', de Mário Alves Coutinho, que é uma coletânea de entrevistas com alguns dos principais estudiosos franceses da 'Nouvelle Vague": Jacques Aumont, Jean Collet, Michel Marie, Philippe Dubois, Alain Bergala, entre outros.
Não se pode esquecer que outros cineastas da época também estavam procurando criar uma obra de perfil autoral, como foram os casos de Jean-Pierre Melville, Alain Resnais, Agnès Varda , Louis Malle e Robert Bresson. Porém, eles não são considerados membros da ‘Nouvelle Vague’ por estes estudiosos.
O nome verdadeiro de Eric Rohmer era Maurice Schérer, sendo que o mesmo era cerca de 10 anos mais velho do que os outros quatro. Rohmer era uma espécie de líder e mentor do grupo, que foi apelidado por André Bazin (editor da ‘Cahiers’ e principal crítico francês da época) de ‘Gangue Schérer’.
Aliás, Andre Bazin foi o principal responsável por estimular o grupo de críticos da revista os 'Jovens Turcos', a começar a fazer os seus próprios filmes. O grupo dizia que o cinema francês da época (anos 50) era muito ruim e de tanto ver a ‘Gangue Schérer’ dizer isso, Bazin cobrou que eles começassem a fazer os seus próprios filmes.
E foi exatamente isso que os cinco fizeram, dando início à ‘Nouvelle Vague’, o mais revolucionário movimento da história do Cinema e que foi decisivo para desenvolver o ‘Cinema Moderno’, que começou com o 'Neorrealismo Italiano', que exerceu uma importante influência sobre o movimento francês de Truffaut, Godard e companhia.
Obs2: A expressão 'Nouvelle Vague' foi usada, pela primeira vez, pela revista semanal francesa "L'Express" em sua edição de 03/10/1957, em uma matéria assinada por Françoise Giroud, mas a reportagem não se aplicava ao Cinema. A revista fez uma matéria de capa baseada em uma pesquisa realizada pelo instituto 'Ifop' com pessoas que tinham entre 15 e 29 anos. Assim, a matéria se referia às mudanças que estavam acontecendo e que iriam ocorrer, em breve, na sociedade francesa em função da emergência de uma nova geração em vários segmentos.
Obs2: A expressão 'Nouvelle Vague' foi usada, pela primeira vez, pela revista semanal francesa "L'Express" em sua edição de 03/10/1957, em uma matéria assinada por Françoise Giroud, mas a reportagem não se aplicava ao Cinema. A revista fez uma matéria de capa baseada em uma pesquisa realizada pelo instituto 'Ifop' com pessoas que tinham entre 15 e 29 anos. Assim, a matéria se referia às mudanças que estavam acontecendo e que iriam ocorrer, em breve, na sociedade francesa em função da emergência de uma nova geração em vários segmentos.
Assim, tal como os cineastas do Neorrealismo Italiano, os integrantes da 'Nouvelle Vague' também procuravam fazer filmes de baixo orçamento, usavam atores desconhecidos ou que não eram profissionais (pessoas comuns), priorizavam as filmagens em paisagens naturais (nas cidades, no campo...), desprezando os estúdios.
Outro elemento em comum refere-se aos temas dos seus filmes, que eram aqueles que preocupavam as pessoas em suas respectivas épocas: a pobreza e a miséria do povo e da nação italiana no caso do Neorrealismo (vide ''Ladrões de Bicicleta", de Vittorio De Sica e "A Terra Treme", de Luchino Visconti).
Enquanto isso, os filmes da 'Nouvelle Vague' priorizavam as questões de mudanças de valores e de comportamento, relacionadas à modernização dos costumes e da sociedade, no caso da 'Nouvelle Vague' (vide 'Acossado' e 'Jules et Jim').
Em seus clássicos filmes dos anos 1960, Godard também abordou inúmeras questões políticas e sociais relevantes do período, tais como a Guerra do Vietnã, os Panteras Negras, a Revolução Cultural Chinesa, o Movimento Estudantil e o Rock (ele chegou fazer um filme com os The Rolling Stones, que foi o 'Sympathy for the Devil').
Inicialmente, os integrantes da ''Nouvelle Vague" fizeram alguns curtas-metragens: Éric Rohmer dirigiu 'Berénice' (1953),Truffaut dirigiu o curta 'Une Visite' (1950) e 'Les Mistons' ('Os Pivetes', 1957); Godard dirigiu o curta 'Une Femme Coquette' (1955) e Jacques Rivette fez 'Le Coup du Berger' (1956).
A influência da ‘Nouvelle Vague’ se fez sentir pelo mundo todo, chegando até o Brasil, contribuindo para a gestação do ‘Cinema Novo’, do qual Glauber Rocha foi o principal nome, sendo que em 1970 ele chegou a participar de um filme da dupla Jean-Luc Godard/Jean-Pierre Gorin ('Vento do Leste') na época em que estes dois criaram o Grupo Dziga Vertov.
Nos EUA, a 'Nouvelle Vague' também influenciou uma nova geração de cineastas que iria revolucionar a estagnada e decadente produção de Hollywood: Brian de Palma, Steven Spielberg, Martin Scorsese, George Lucas, Francis Ford Coppola, William Friedkin, Arthur Penn, entre muitos outros.
Nos EUA, a 'Nouvelle Vague' também influenciou uma nova geração de cineastas que iria revolucionar a estagnada e decadente produção de Hollywood: Brian de Palma, Steven Spielberg, Martin Scorsese, George Lucas, Francis Ford Coppola, William Friedkin, Arthur Penn, entre muitos outros.
Clarisse toma a iniciativa de conversar com Montag durante uma viagem no monotrilho. Nesta sociedade, as pessoas não possuem carros particulares. Somente o Estado é proprietário de veículos. |
Truffaut e a Literatura!
‘Fahrenheit 451’ é uma adaptação de um clássico da literatura de Ficção Científica, de livro escrito por Ray Bradbury, com título semelhante, que é um dos principais autores do gênero.
A vasta e fantástica obra de Truffaut, e que poderia ser ainda maior se ele não tivesse falecido com apenas 52 anos (em 1984), é marcada por inúmeras adaptações literárias, pois o grande cineasta francês era um apaixonado pela Literatura que, junto com o Cinema, o salvaram de se transformar em um criminoso, fato este que ele mesmo admitiu em entrevistas.
Truffaut chegou a dizer que desde 1961 ele sabia que, em algum momento, acabaria filmando 'Fahrenheit 451'.
Entre os filmes de Truffaut que se estão nessa categoria (adaptações literárias) nós temos ‘Atirem no Pianista’ (de David Goodis; 1960), ‘Jules et Jim’ (de Henri-Pierre Roché; 1962), ‘A Noiva Estava de Preto’ (1968) e ‘A Sereia do Mississipi' (1969). Estes dois últimos livros são de autoria de Cornell Woolrich, escritor que também é autor da obra que gerou ‘Janela Indiscreta’, de Alfred Hitchcock, o grande ídolo cinematográfico de Truffaut.
A TV é controlada pelo Estado e, junto com a Educação, é usada para moldar a maneira de pensar e de agir das pessoas, mantendo a população sob controle. |
Já a trilha sonora de 'Fahrenheit 451' ficou a cargo de Bernard Hermann, que trabalhou em inúmeros filmes de Alfred Hitchcock ('O Terceiro Tiro', 'O Homem que Sabia Demais', 'Um Corpo que Cai', 'Psicose') e, também, de Orson Welles ('Cidadão Kane'; 'Soberba') e de Nicholas Ray ('Cinzas que Queimam') cineastas cuja obra Truffaut admirava. Bernard Hermann voltou a trabalhar com Truffaut em "A Noiva Estava de Preto" (1968).
A bela trilha sonora de Hermann é marcada por fortes tons percussivos e reforça as cenas de ação do filme, como nos momentos em que os bombeiros fascistas saem para as suas missões incendiárias. Um outro aspecto muito interessante do filme é o uso que Truffaut faz das cores, que possuem um caráter simbólico em muitas cenas.
Assim, quando Guy e Clarisse se encontram vemos o uso do vermelho, que é associado à energia e a paixão por algo, o que é o caso da paixão deles pela Literatura. Quando Guy começa a ler em sua residência ele está usando roupas brancas, que transmite paz e tranquilidade. E quando a esposa (Linda) encontra os livros que ele escondia em sua casa a cor que aparece, que simboliza a ansiedade e o desgosto dela por ter encontrado os livros e dele porque a esposa descobriu o seu segredo.
Depois de conversar com Clarisse, o comportamento de Montag mudou radicalmente e ele começou a guardar e ler muitos dos livros que apreendia nas operações dos bombeiros. |
A trama de ‘Fahrenheit 451’!
A forma como o filme começa está fortemente relacionada com a história que será desenvolvida, pois os créditos da abertura são apresentados sob a forma de narração (não aparecem créditos na tela) e nela vemos inúmeras antenas de TV.
Quem também fez a mesma coisa foi Jean-Luc Godard, no seu clássico filme 'Le Mépris' ('O Desprezo', de 1963). Nestes momentos iniciais as cenas também são aceleradas, com o uso de cortes rápidos (jump cuts), algo que Godard também havia feito exaustivamente em 'À Bout De Souffle' ('Acossado', 1960). Aliás, Truffaut foi o responsável por escrever a sinopse inicial de 'Acossado'.
Assim, não é nenhuma surpresa, também, que o corte de cabelo de Clarisse (personagem de Julie Christie), em "Fahrenheit 451", seja muito semelhante ao de Patricia Franchini (personagem de Jean Seberg) em 'Acossado'.
Nesta época, Godard e Truffaut eram muito amigos e viviam citando os filmes do outro. Assim, em "Vivre Sa Vie' ('Viver a Vida', de 1962), de Godard, em um determinado momento do filme vemos as pessoas fazendo fila para assistir ao filme 'Jules et Jim' (1962), de Truffaut.
A história do filme é relativamente simples e a mesma se desenvolve em um futuro distópico, no qual um Estado totalitário e de perfil tipicamente fascista impõem uma forma semelhante de pensar e de se comportar, para todas as pessoas.
Quem também fez a mesma coisa foi Jean-Luc Godard, no seu clássico filme 'Le Mépris' ('O Desprezo', de 1963). Nestes momentos iniciais as cenas também são aceleradas, com o uso de cortes rápidos (jump cuts), algo que Godard também havia feito exaustivamente em 'À Bout De Souffle' ('Acossado', 1960). Aliás, Truffaut foi o responsável por escrever a sinopse inicial de 'Acossado'.
Assim, não é nenhuma surpresa, também, que o corte de cabelo de Clarisse (personagem de Julie Christie), em "Fahrenheit 451", seja muito semelhante ao de Patricia Franchini (personagem de Jean Seberg) em 'Acossado'.
Nesta época, Godard e Truffaut eram muito amigos e viviam citando os filmes do outro. Assim, em "Vivre Sa Vie' ('Viver a Vida', de 1962), de Godard, em um determinado momento do filme vemos as pessoas fazendo fila para assistir ao filme 'Jules et Jim' (1962), de Truffaut.
A história do filme é relativamente simples e a mesma se desenvolve em um futuro distópico, no qual um Estado totalitário e de perfil tipicamente fascista impõem uma forma semelhante de pensar e de se comportar, para todas as pessoas.
Nesta sociedade, extremamente autoritária e rigidamente hierarquizada, os principais instrumentos usados para se atingir esse objetivo, de se criar uma sociedade uniformizada e padronizada, são a Televisão e a Educação.
A TV está presente em todas as residências, com a exceção das casas de uns poucos e corajosos dissidentes. Os aparelhos de TV mostrados no filme são uma 'tela de parede' que, em tudo, são semelhantes aos atuais que vemos afixados nas paredes das residências de bilhões de pessoas pelo mundo afora.
A programação também é a mesma para todos e se dirige de maneira individual para as pessoas, tratando-as pelo nome. Os programas procuram apresentar tramas bem simples e testam qual é o grau de fidelidade das pessoas às políticas do Estado.
Logo, a TV é um instrumento de controle do pensamento e da maneira de agir da população.
Obs3: Qualquer semelhança com a TV aberta brasileira não é mera coincidência. Nesta, as novelas, programas jornalísticos, esportivos, religiosos e de auditório são rigorosamente iguais, em todos os canais. Assistir a um canal é o mesmo que assistir a todos.
E nesta sociedade a educação também faz com que as pessoas apenas decorem e memorizem o que lhes ensinam, impedindo que qualquer tipo de pensamento crítico venha a ser desenvolvido. Aliás, esse elemento acabará sendo usado pelos membros da Resistência com o objetivo de manter a Literatura viva.
E a memória histórica foi apagada pelo Estado, para que as pessoas não tenham qualquer informação a respeito do passado. Assim, praticamente ninguém mais sabe que, antigamente, as casas e edifícios não eram a prova de fogo e que o trabalho dos bombeiros era justamente o de apagar incêndios.
E nesta sociedade a educação também faz com que as pessoas apenas decorem e memorizem o que lhes ensinam, impedindo que qualquer tipo de pensamento crítico venha a ser desenvolvido. Aliás, esse elemento acabará sendo usado pelos membros da Resistência com o objetivo de manter a Literatura viva.
E a memória histórica foi apagada pelo Estado, para que as pessoas não tenham qualquer informação a respeito do passado. Assim, praticamente ninguém mais sabe que, antigamente, as casas e edifícios não eram a prova de fogo e que o trabalho dos bombeiros era justamente o de apagar incêndios.
Os protagonistas da história são Guy Montag e Clarisse.
Montag é um bombeiro, mas nesta sociedade os bombeiros tem uma função muito diferente daquela que conhecemos, pois em vez de apagar incêndios, eles o provocam, incendiando todo e qualquer livro que encontram. Os livros são proibidos e aqueles que os possuem acabam sendo presos e, até, mortos pelos 'bombeiros fascistas'.
E o título (do livro e do filme), 'Fahrenheit 451', é uma referência ao fato de que o papel queima a essa temperatura. Esta queima dos livros é uma referência direta ao Nazismo alemão, pois essa política foi adotada durante o governo de Hitler (1933-1945).
Montag é um bombeiro, mas nesta sociedade os bombeiros tem uma função muito diferente daquela que conhecemos, pois em vez de apagar incêndios, eles o provocam, incendiando todo e qualquer livro que encontram. Os livros são proibidos e aqueles que os possuem acabam sendo presos e, até, mortos pelos 'bombeiros fascistas'.
E o título (do livro e do filme), 'Fahrenheit 451', é uma referência ao fato de que o papel queima a essa temperatura. Esta queima dos livros é uma referência direta ao Nazismo alemão, pois essa política foi adotada durante o governo de Hitler (1933-1945).
Guy Montag foi interpretado por Oskar Werner, com quem Truffaut já havia trabalhado em 'Jules et Jim', mas com quem ele se desentendeu seriamente durante as filmagens de 'Fahrenheit 451', tanto que jamais voltaram a ter qualquer contato.
Montag é um dos principais e mais competentes e disciplinados bombeiros que são encarregados de queimar os livros e prender os seus proprietários. E o seu trabalho é tão bom que ele está sendo cogitado para receber uma promoção, o que lhe permitirá comprar uma segunda 'Tela de Parede', o que é uma forma clara de ascensão social e de aumento de prestígio naquela sociedade.
Montag é um dos principais e mais competentes e disciplinados bombeiros que são encarregados de queimar os livros e prender os seus proprietários. E o seu trabalho é tão bom que ele está sendo cogitado para receber uma promoção, o que lhe permitirá comprar uma segunda 'Tela de Parede', o que é uma forma clara de ascensão social e de aumento de prestígio naquela sociedade.
O uniforme dos bombeiros de 'Fahrenheit 451' é inteiramente preto, o que é uma clara referência aos chamados 'Camisas Negras' dos 'Fasci di Combattimento' que foram criados por Mussolini em 1919 e que se dedicavam a espancar e assassinar membros dos movimentos de Esquerda italianos (socialistas, anarquistas, comunistas). E os uniformes dos alunos também são muito semelhantes ao da Juventude Hitlerista.
Guy Montag leva um vida monótona e entediante, sendo casado com a bonita, jovem e comportada Linda, que é a típica cidadã que o Estado procura criar: disciplinada, obediente, que procura sempre pensar e agir de acordo com a vontade dos que detém o poder.
Nesta sociedade, os sentimentos (de amor, paixão, compaixão) pelas outras pessoas são substituídos por um narcisismo sem limites. As pessoas são ensinadas para que gostem apenas delas mesmas. Em vários momentos do filmes vemos as pessoas abraçando e fazendo carinho nelas mesmas.
Desta maneira, em nenhum momento do filme vemos o casal Guy e Linda demonstrarem qualquer tipo de afeto ou de sentimento pelo outro, pois isso vai totalmente contra a vontade do Estado. Somente depois que Linda teve um colapso e o sangue do seu corpo foi inteiramente trocado é que ela passou a ter um comportamento mais romântico. E isso aconteceu logo depois que ela respondeu a algumas perguntas que foram feitas por um programa de TV.
Nesta sociedade, a Literatura também é considerada como sendo uma atividade que faz com que as pessoas se tornem críticas, infelizes e adotem comportamentos antissociais, sendo que o Estado procura convencer as pessoas de que a leitura deve ser combatida, evitada e denunciada.
As pessoas são estimuladas a delatar qualquer um que elas saibam que está lendo algum livro e existem inúmeros locais (semelhantes a caixas de correios) nos quais as pessoas podem depositar as suas denúncias escritas contra qualquer um que esteja lendo ou guardando um livro.
Afinal, a Literatura, nas palavras do chefe de Guy Montag, que é o Capitão Beatty, não serve para nada e não ensina nada de útil. Clarisse é uma resistente, pois junto com outras pessoas (principalmente a 'Mulher dos Livros', que se sacrifica pelos livros e que mantinha uma verdadeira biblioteca particular em sua residência) ela procura manter acesa a paixão e o interesse pela Literatura.
Clarisse mora junto com o seu tio e a sua casa é uma das poucas que não é à prova de incêndio e que não possui 'Tela de Parede' (ou seja, uma TV), deixando claro que eles fazem parte de um segmento dissidente da sociedade que repudia e luta contra as políticas fascistas do Estado.
Os livros sendo queimados. Para as Ditaduras a informação e o conhecimento devem ser rigidamente controlados, impedindo que as pessoas pensem de forma independente. |
E acaba partindo de Clarisse a atitude que irá mudar inteiramente a vida de Guy Montag, quando puxa conversa com ele no monotrilho e, no caminho de volta para casa (suas residências são próximas) ela o questiona se ele já chegou a ler alguns dos livros que apreendeu em seu trabalho ou se queimou todos.
A partir deste momento a vida de Guy muda completamente, pois ele passou a fazer exatamente o que ela perguntou: ele passou a levar uma parte dos livros para a sua casa e passou a ler o máximo possível. Essa atitude gera uma grande transformação na sua personalidade, que passa a ser muito mais crítica em relação aos valores e políticas dominantes e que são impostas pelo Estado.
Portanto, Truffaut apresenta a Literatura como um elemento que propicia a libertação do indivíduo em relação ao Estado de perfil Fascista.
Guy Montag também começa a agir de maneira que começa a gerar suspeitas em seu chefe (o capitão Beatty), em colegas de unidade (Fabian) e em sua esposa (Linda), que passam a estranhar cada vez mais o seu comportamento. Fabian viu Montag esconder um livro em seu uniforme e descobriu que ele estava se encontrando com Clarisse (embora não soubesse o nome desta) e que ele mentiu para a sua unidade, dizendo que estava doente e acamado em sua casa no momento em que estava com Clarisse.
O relacionamento de Guy com a sua esposa (Linda) também começa a se modificar radicalmente. Ele passa a discutir com Linda e com amigas dela quando as mesmas se reúnem em sua residência.
Montag chega ao local em que vivem os fugitivos que amam e preservam a Literatura e entre os moradores temos a Clarisse. |
Essa radical mudança de comportamento levou Linda a desconfiar cada vez mais de Guy, o que terminou por fazer com que ela descobrisse que ele estava lendo e que havia escondido inúmeros livros em sua casa. Com isso, ela toma a decisão de fazer uma denúncia anônima contra o marido. Montag também entra em conflito com o capitão Beatty durante uma operação de queima de livros e acaba por matar o mesmo.
A denúncia de Linda, o envolvimento de Guy com Clarisse e a morte do capitão fizeram com que ele fosse perseguido pelas forças policiais, que forjaram uma mentira, dizendo para a população que Montag havia sido eliminado.
Porém, Montag conseguiu fugir e se refugiou em um local isolado, em meio à natureza e distante das cidades, no qual vivem inúmeras pessoas que eram amantes da Literatura e que conseguiram memorizar, cada uma, um livro inteiro, sendo verdadeiros 'homens ou mulheres-livro.'.
Assim, alguém decorou 'O Príncipe' (de Maquiavel), outra memorizou 'As Crônicas Marcianas' (de Ray Bradbury) e uma dupla de gêmeos memorizou 'Orgulho e Preconceito', cuja história se divide em dois volumes. Desta maneira, cada um dos gêmeos memorizou um dos volumes do livro de Jane Austen.
E cada um dos 'homens e mulheres-livro' transmite oralmente o conteúdo da obra que memorizaram para os mais jovens (seus filhos, sobrinhos, netos). Com isso, as pessoas conseguem preservar a Literatura mesmo que não exista nenhum livro ali, pois eles são queimados para evitar prisões daqueles que vivem no local.
Portanto, pode-se perfeitamente afirmar que, em "Fahrenreit 451", Truffaut fez umas das mais belas declarações de amor à Literatura da história do Cinema.
Montag, Clarisse e outros moradores memorizaram os livros e garantem, assim, a sobrevivência da Literatura, que era uma das grandes paixões de Truffaut, junto com Cinema e as mulheres. |
Informações Adicionais!
Título: Fahrenheit 451;
Diretor: François Truffaut;
Roteiro: François Truffaut e Jean-Louis Richard, baseado em livro de mesmo título de Ray Bradbury;
Ano de Produção: 1966; País de Produção: Grã-Bretanha;
Língua: Inglês; Duração: 112 minutos;
Gênero: Drama; Ficção Científica;
Música: Bernard Hermann;
Fotografia: Nicolas Roeg;
Elenco: Julie Christie (Clarisse; Linda Montag); Oskar Werner (Guy Montag); Cyril Cusack (Capitão Beatty); Anton Diffring (Fabian); Bee Duffell (Mulher dos Livros).
Trailer do filme (legendas em português):
Obra prima!
ResponderExcluirAdorei ó mesmo!