"Achtung! Banditi!": Clássico do Neorrealismo mostra a luta da Resistência e dos operários italianos contra o Nazifascismo!
A produção de "Achtung! Banditi!"
'Achtung! Banditi!' é, sem dúvida alguma, um dos melhores e mais significativos filmes Neorrealistas, bem como de toda a história do cinema italiano, até pelo assunto que é tratado no mesmo. Ele foi dirigido por Carlo Lizzani, que fez a sua estreia na direção com este belíssimo filme quando ainda tinha apenas 29 anos e que sempre foi um dos principais nomes do Neorrealismo cinematográfico italiano.
Carlo Lizzani foi, marcadamente, um cineasta com posições esquerdistas, tendo sido ligado ao PCI (Partido Comunista Italiano), que era o mais independente partido comunista do Ocidente e que se manteve como uma força política e eleitoral bastante significativa até o final de sua existência (1991, quando foi dissolvido). Antes de dirigir este belíssimo filme, ele havia trabalhado como roteirista em 'Riso Amaro' ('Arroz Amargo', de Giuseppe De Santis, de 1949).
Lizzani disse, em entrevista que está no DVD lançado no Brasil (onde ganhou o título de 'A Rebelde', devido à presença da bela e talentosa Gina Lollobrigida), que o governo italiano (conservador) recusou-se a financiar o filme, pois não queria mais saber de filmes a respeito da Resistência, pois naquele momento a Itália estava se aproximando, política e economicamente, da Alemanha Ocidental.
E justamente em função disso, os governantes direitistas italianos (comandados pelos Democratas Cristãos), preferiam que os cineastas italianos esquecessem a época da Resistência, a respeito da qual, eles diziam, já haviam sido realizados muitos filmes.
Obs: O filme está disponível no Youtube, com legendas em Espanhol (ver link ao final do texto).
Nesta época, o governo direitista da Itália estava, de fato, perseguindo os cineastas Neorrealistas, que tinham os seus filmes censurados e que não eram mais exibidos nas salas comerciais italianas, que estavam reservadas para as grandes produções de Hollywood. Esta foi, inclusive, uma exigência do governo dos EUA para que a Itália tivesse acesso aos recursos do Plano Marshall, que foi criado em 1947 e começou a ser adotado em 1948.
Desta maneira, a solução para que 'Achtung! Banditi!' pudesse ser realizado veio sob a forma de um financiamento feito por cooperativas, fato para o qual um produtor de Gênova (Giuliani G. de Negri) exerceu um papel fundamental.
O filme foi realizado em cenários naturais (na Ligúria) e conta com a participação de atores não-profissionais, da região em que o filme foi rodado, o que eram duas das principais características do Neorrealismo italiano, embora isso não fosse uma regra.
Tanto isso é verdade que no filme nós temos a participação de Andrea Checchi, excelente e veterano ator (sua carreira começou em 1934), de Vittorio Duse, que já tinha dez anos de carreira como ator, e de uma jovem atriz em ascensão, que é Gina Lollobrigida.
Outro ator conhecido que participou do filme, e que já era famoso em 1951, foi Lamberto Maggiorani, o trabalhador romano que ficou conhecido mundialmente com 'Ladrões de Bicicleta', clássico imortal do Neorrealismo e do Cinema mundial (já comentei o filme aqui no blog). E o trabalhador Maggiorani interpreta um trabalhador neste clássico filme de Carlo Lizzani.
O contexto histórico!
Embora tenham sido feitos inúmeros filmes tendo a Resistência Italiana (Resistenza Partigiana) ao Nazifascismo como tema, este é um dos poucos, se não for o único, que mostra como se deu a aliança entre os operários do Norte da Itália e o movimento da Resistência Antifascista na época da Segunda Guerra Mundial.
A respeito do assunto, e para ajudar na compreensão do assunto, reproduzo um trecho do livro 'O Alfaiate de Ulm', de Lucio Magri (pág. 155), que foi jornalista e dirigente do PCI (Partido Comunista Italiano):
"A resistência ao fascismo começou com as greves de 1943 e 1944, que, apesar de se destinar à conquista do pão de cada dia, ofereciam-lhe um apoio de massa nas grandes cidades: lutas econômicas e políticas misturavam-se e formavam uma nova consciência de classe. Os operários defenderam com armas as grandes plantas industriais que os alemães tentaram desmantelar em sua fuga e, no vazio de poder criado nas fábricas, pelo colaboracionismo e pelo exílio dos patrões, procuraram construir uma experiência de conselhos que foi efêmera, mas não esquecida. Ainda no pós-guerra, continuaram em campo com lutas sociais que, no meio da pobreza generalizada, obtiveram resultados salariais limitados, mas conquistaram direitos que não seriam mais abolidos: negociação de demissões coletivas, formas parciais de escala móvel, comissões internas como órgãos reconhecidos e regulados. Nasceu daí um tipo de particular de organização sindical. Um sindicato que nos primeiros anos uniu, com base em um pacto assinado por todo o arco de forças antifascistas, uma grande organização que conservou para sempre a forma de uma confederação, tantos em seus órgãos centrais quanto em suas ramificações territoriais, que serviu para barrar os impulsos corporativos de setor, ou das profissões, e permitir lutar unidos nos grandes temas de proteção social ou em defesa da democracia constitucional. Em seu primeiro congresso, em 1947, esse sindicato contava com 5,7 milhões de filiados: na prática, mais da metade dos trabalhadores da indústria eram sindicalizados.".
Portanto, esse união entre os operários e a Resistência continuou no Pós-Guerra e deu origem a um organizado e poderoso movimento operário, que foi responsável por importantes conquistas para os trabalhadores italianos.
A jovem e bonita camponesa Lucia ajuda e protege os Partigiani. O irmão dela também luta na Resistência. Na época, grande parte dos combatentes era de origem camponesa. |
A Resistência italiana ao Nazifascismo teve um grande impulso em função de alguns acontecimentos, tais como:
A) As sucessivas e humilhantes derrotas sofridas pelas Forças Armadas italianas (que eram muito mal comandadas e também mal treinadas e mal equipadas) durante a Segunda Guerra Mundial (na Grécia, Norte da África);
B) O rápido empobrecimento da população italiana, reduzida à fome e à miséria pelo envolvimento do país na Guerra;
C) O envio de 200 mil trabalhadores italianos para a Alemanha, onde foram brutalmente tratados pelos aliados germânicos e que, quando regressavam à Itália, contavam o que haviam sofrido;
D) A invasão do país pelos Aliados (em 10 de Julho de 1943), que começou pela Sicília;
E) A derrubada do governo de Mussolini em 25 Julho de 1943;
F) A explosão de inúmeras greves na região norte, a mais industrializada do país, a partir de 1943, tal como comenta Lucio Magri em seu livro.
Em Março de 1943, por exemplo, quatro meses antes da invasão da Sicília pelos Aliados e da queda de Mussolini, um forte movimento grevista envolveu 300 mil operários na região de Turim e Milão, as duas cidades mais industrializadas do país. Tal movimento foi liderado pelos Comunistas, que substituíram os Fascistas no controle do movimento operário do industrializado norte do país.
Aliás, foi esse forte crescimento da influência dos Comunistas entre os trabalhadores italianos na região norte da Itália que levou a própria liderança Fascista a promover um Golpe de Estado e a derrubar Mussolini do poder em 25/07/1943, pois os líderes Fascistas temiam o fortalecimento das Esquerdas.
Em 08/09/1943, o Marechal Badoglio, que havia assumido o comando do governo italiano após a derrubada de Mussolini, permitiu que as tropas Aliadas se estabelecessem no Sul do país. E depois, em 13/10/1943, ele também declarou guerra à Alemanha Nazista.
Enquanto isso, em Setembro, Hitler mandou invadir e ocupar o Norte da Itália, onde criou um regime Fascista fantoche, controlado pelos nazistas alemães, que foi a República Social Italiana (ou República de Saló) e que foi derrubada no final de Abril de 1945, poucos dias antes das mortes de Mussolini (28/04/1945) e de Hitler (30/04/1945).
Estes acontecimentos deram início a uma Guerra Civil na Itália, que se confundiu com a Segunda Guerra Mundial, e que se deu entre a Resistência (com o apoio dos Aliados) e os Nazifascistas, e que terminou apenas no final de Abril de 1945, com a derrota final do Nazifascismo.
Com isso, criou-se na Itália um governo de Unidade Nacional Antifascista, que reunia todas as forças políticas e sociais do país que lutavam contra os nazifascistas, tais como: comunistas, socialistas, liberais, católicos, monarquistas, anarquistas.
Tal governo de Unidade Nacional irá durar de 1943 até 1947 e foi justamente durante esse período em que a vida cultural na Itália pôde ser desenvolvida com ampla liberdade de criação, o que permitiu que jornalistas, escritores, cineastas pudessem se manifestar livremente.
Foi nesse contexto que se tornou possível o desenvolvimento do chamado Neorrealismo, cujos cineastas procuravam mostrar a realidade da Itália, devastada pela Guerra, e do seu povo, que vivia em profunda miséria.
Para ser ter uma ideia dessa miséria, basta dizer que o próprio general Patton disse que as condições de vida que havia encontrado na Sicília eram piores que no norte da África.
No livro do historiador militar britânico Antony Beevor ('A Segunda Guerra Mundial', pág. 555), lemos que "Civis semifamintos mendigavam comida às tropas e houve alguns distúrbios por alimentos nas cidades, resolvidos pelos policiais militares que dispararam as submetralhadoras Thompsons para o alto e até nos civis que protestavam".
No mesmo livro e páginas, temos o seguinte relato feito por Patton: "Pode-se comprar qualquer mulher na cidade por uma lata de feijão", referindo-se à disseminação da prostituição. Os soldados dos dois exércitos invasores (dos EUA e da Grã-Bretanha) fizeram uso dos serviços prestados por estas 'profissionais do sexo' e os casos de doenças venéreas se multiplicaram entre as tropas aliadas.
O Neorrealismo e a Resistência Italiana!
Apesar da importância e da imensa participação dos operários italianos na Resistenza e da ligação deles com o PCI, um fato que é um tanto quanto estranho é que nos anos em que o Neorrealismo esteve em evidência (principalmente entre 1943-1952), os cineastas ligados ao 'movimento' (que nunca se caracterizou como tal, na verdade) deram muito mais destaques aos problemas sociais das áreas rurais (camponeses, trabalhadores rurais, pescadores) e de alguns segmentos das cidades (aposentados, desempregados, menores abandonados, mulheres) do que aos da classe operária urbana.
Embora uma grande parte da população italiana ainda vivesse na área rural, o fato é que os operários tiveram uma atuação significativa na Resistência, sendo que as imensas greves que eles realizaram no norte da Itália foram fundamentais para a derrubada de Mussolini e contribuíram decisivamente para o fortalecimento da Resistência armada.
Obs1: A Resistenza Partigiana contou com uma imensa participação popular. No outono de 1943 (Setembro a Dezembro) foi criado o Comitê de Libertação Nacional, que organizava essa luta. E nela tivemos representantes de todos os segmentos da sociedade italiana (operários, camponeses, classe média, burguesia), bem como de todas as tendências ideológicas: comunistas, socialistas, liberais, católicos, azionistas.
Obs2: Os azionistas eram membros do Partido d'Azione (Partido de Ação), que misturava a defesa de propostas socialistas e liberais e que contava com milhares de militantes nessa época, sendo que teve uma importante participação na luta antifascista. Em 1946 o Partido d'Azione se dissolveu, sendo que a ala majoritária do partido entrou no Partido Socialista Italiano e outra entrou no Partido Republicano Italiano.
Daí que se reveste de grande importância a produção de uma obra tão notável quanto é 'Achtung! Banditi!', que é um excelente filme e que retrata brilhantemente a conexão que existiu entre as lutas operárias e a Resistência ao Nazifascismo durante o período que vai de 1943 a 1945.
Os acontecimentos mostrados no filme foram baseados em fatos reais e retratam as lutas operárias e da Resistência que se desenvolveram na região de Gênova, cidade localizada no Norte da Itália, principalmente nas áreas montanhosas, sendo que tais acontecimentos se desenvolvem durante os últimos meses do ano de 1944.
Inclusive, em determinado momento do filme é feito um comentário, por um dos líderes da Resistência (Comandante Vento), a respeito da chamada 'Proclama Alexander', que é de Novembro de 1944.
A 'Proclama Alexander' foi uma ordem por meio da qual o líder das Forças Aliadas na Itália (o general britânico Harold Alexander) determinou que a Resistência italiana não deveria mais lutar contra as forças Nazifascistas e que a partir daquele momento deveriam ser realizadas apenas operações defensivas e que as forças militares dos Aliados não fariam mais qualquer operação militar de natureza ofensiva até o fim do Inverno de 1944/1945.
Durante o ano de 1944 as forças militares dos Aliados e da Resistência italiana promoveram uma série de ações de combate conjuntas, o permitiu obter inúmeras vitórias sobre as forças nazifascistas, que foram perdendo o controle da região onde os Nazistas impuseram um governo Fascista fantoche (a República Social Italiana ou a República de Saló) e que acabou sendo derrubado no final de Abril de 1945.
A trama do filme!
A história de 'Achtung! Banditi!' se desenvolve na região de Gênova (na Ligúria), cidade do norte da Itália, durante os últimos meses do ano de 1944 (já é inverno, como vemos pela cena inicial).
O filme trata fundamentalmente, dos combates travados pela Resistência na região dos Alpes contra os Nazifascistas, bem como da luta dos operários de uma indústria da cidade que se rebelam contra os planos dos militares alemães que desejam desmontar a fábrica.
Eles querem fazer isso para levar todas as suas máquinas e equipamentos para a Alemanha, que sofria com os cada vez mais intensos bombardeios dos Aliados sobre as suas indústrias e cidades. O filme também mostra de que maneira o povo italiano (do campo e das cidades) apoiou e participou de ambas lutas, da Resistência e dos Operários.
Obs3: Nesta época, a Alemanha enfrentava uma situação cada vez pior na Guerra, em função das inúmeras derrotas que estava sofrendo, tanto na Frente Ocidental, quanto contra o Exército Vermelho, na Frente Oriental. É por isso que os alemães estavam desmontando fábricas na Itália e levando-as para a Alemanha, onde havia cerca de 7 milhões de trabalhadores estrangeiros (sendo que 1,5 milhão eram franceses e 200 mil eram italianos; também havia muitos russos e poloneses) e que foram levados para o Reich a fim de substituir os homens alemães que foram enviados para as frentes de batalha. As condições de trabalho deles eram terríveis, sendo virtuais escravos dos nazistas.
Simultaneamente, vemos a luta dos membros da Resistenza Partigiana, cujos guerrilheiros travam uma série de combates nas montanhas da região de Gênova. Uma das unidades da Resistência, que é liderada por Lorenzo e Vento, recebe uma missão, que é a de ir até Gênova para pegar uma certa quantidade de armas que pertence aos alemães.
Mas, antes disso, eles acabam passando por uma aldeia e na qual eles convivem com os camponeses da área, onde há uma unidade militar alemã. Os camponeses ajudam e protegem os Partigiani, impedindo que eles sejam descobertos pelos alemães. A ajuda parte principalmente de uma bonita jovem chamada Lucia, pela qual um dos guerrilheiros (Gatto) irá demonstrar interesse.
Quando eles saem da aldeia, acabam encontrando um diplomata que mora na região com a sua amante e que mantém um bom relacionamento com os militares alemães estacionados ali, recebendo o tenente alemão todas as noites em sua residência para conversar.
O diplomata é um típico oportunista que procura agradar aos dois lados em conflito e que acabará se dando mal em função disso. Quando ele disse, para o comandante Vento, que era adido em uma Embaixada, Vento perguntou 'De qual governo?' e o diplomata respondeu 'no momento, descansando'.
Obs4: A pergunta de Vento se justifica, pois naquele momento (nos meses finais de 1944) a Itália estava dividida entre um governo nazifascista (República Social Italiana), que controlava parte da região Norte do país, e um governo comandado pela Resistência e que lutava contra o Nazifascismo, que controlava o Sul, o Centro e uma parte da região Norte italiana.
Os partigiani acabam se estabelecendo, de forma temporária, na residência do diplomata, o que deixa a amante do mesmo bastante irritada. Ela diz que já é mal vista pelos habitantes da região em função de ter um diplomata vivendo em sua casa e ainda é obrigada a aceitar a presença dos Partigiani.
O enraizamento dos Partigiani na sociedade italiana é também demonstrado pelo apoio que eles recebem na cidade, onde a proprietária de um bar passa informações para um dos integrantes da Resistência.
Logo, o filme deixa claro que a Resistência era extremamente popular e que a mesma contava com o apoio das populações das áreas urbanas e rurais, o que foi fundamental para a sua vitória. Segundo algumas fontes, a Resistência chegou a contar com 300 mil combatentes, sendo que 50 mil deles morreram.
Além disso, o clássico filme de Carlo Lizzani também se concentra mais no contexto político, histórico e social em que a luta da Resistência e dos operários se desenvolve. Assim, não temos grandes cenas de batalha. O medo, a fome, a perseguição que sofrem os partigiani, a luta dos operários e a repressão que sofrem por parte dos nazistas e a ajuda da população é que são o mais importante no filme.
Portanto, o filme de Lizzani promove uma integração entre os diferentes aspectos dessa luta, mostrando a guerra dos italianos e dos Aliados contra os nazifascistas, a luta da Resistência e a participação popular nesse processo.
Lorenzo e mais um outro partigiano (Biondo, que está sendo procurado pela Polícia e pelo qual há uma recompensa de 100.000 Liras) vão até a fábrica de Gênova, onde desconfiados operários os recebem pensando que eles poderiam ser espiões, mas o mal entendido é corrigido rapidamente. A partir desse momento a Resistência e os operários irão agir e lutar de maneira conjunta.
Durante a conversa com os partigiani Lorenzo e Bruno, um dos operários falou a respeito dos GAP (Gruppo d'Azione Partigiani) e dos SAP (Squadre d'Azione Patriottica).
O GAP foi uma organização criada pelo Partido Comunista Italiano, em Setembro de 1943, que atuava nas cidades e que promovia guerrilha urbana contra os nazifascistas.
Os operários italianos da fábrica se rebelaram contra os planos dos nazistas de levar a mesma para a Alemanha, promovendo uma greve, que foi reprimida pelos militares alemães. |
Além do GAP, existia também o SAP (Squadre d'Azione Patriottica), que foi criado em 1944 e cuja orientação ideológica era variada, incluindo católicos, liberais, comunistas, socialistas e anarquistas.
A atuação do SAP era diferente do GAP, pois não privilegiava as ações armadas, mas atividades de comunicações e transportes entre os diferentes grupos da Resistência, descobrir espiões. O SAP também procurava desenvolver um trabalho de conscientização política junto à população, obtendo apoio para a Resistência.
Obs5: A fonte das informações sobre a criação dos GAP é o livro 'Mussolini', de Pierre Milza, pág. 440. Já sobre os SAP a fonte foi um site italiano (ver link abaixo).
Em Gênova eles ficam sabendo dos planos dos alemães para desmontar a fábrica e levá-la para a Alemanha. Desta maneira, os membros da Resistência decidem se aliar aos operários e ajudá-los na luta para impedir que os nazistas levem os seus planos adiante.
A fábrica é comandada por um Engenheiro (interpretado pelo excelente Andrea Checchi) e que tem Marco como assistente (este é interpretado por Lamberto Maggiorani, o operário de 'Ladrões de Bicicleta'). Os dois participam da luta dos operários para impedir o desmonte da fábrica.
Uma das secretárias do Engenheiro é Anna (que é interpretada pela belíssima Gina Lollobrigida, que é coadjuvante, mas que tem uma participação importante e significativa no filme) e cujo irmão (Domenico) é um soldado do Exército italiano, mas que acabará se aliando aos Partigiani no final, quando estourar o conflito dos operários e dos membros da Resistência contra os soldados alemães.
Obs6: Na época isso realmente aconteceu. Muitos oficiais e soldados italianos abandonaram a luta ou passaram para o lado da Resistência depois que o governo italiano mudou de lado e passou a apoiar os Aliados, declarando guerra à Alemanha Nazista (isso aconteceu em Outubro de 1943), até porque à medida que iam sendo derrotados pelos Aliados e pela Resistência os soldados alemães passaram a tratar o povo italiano com extrema violência e brutalidade, promovendo roubos, estupros e fuzilamentos. Um dos casos mais famosos foi o do Massacre das Fossas Ardeatinas, que ocorreu em Roma, quando a SS assassinou 335 italianos (que eram da Resistência) em represália pela morte de 33 soldados alemães pelos partigiani. O Alto Comando Alemão na Itália decidiu que para cada alemão morto fossem assassinados dez italianos. E assim foi feito.
E justamente pelo fato de que seu irmão é do Exército italiano, inicialmente os membros da Resistência pensam que Anna trabalha como espiã para os Fascistas, mas a ajuda dela para os Partigiani comprova que isso não é verdade.
Em meio aos combates e à vida difícil, os Partigiani encontravam tempo para debater os problemas que enfrentavam de forma democrática, embora um dos líderes (Vento) diga que se ficarem fazendo isso eles acabariam deixando de lutar. Mas isso já mostrava o anseio popular por participação política, algo que foi vetado pela Ditadura Fascista durante 21 anos (1922-1943).
Obs7: O diretor Carlo Lizzani disse que, além de financiarem o filme, foram os próprios trabalhadores de Gênova que escolheram o tema do mesmo.
Os trabalhadores da fábrica de Gênova passam a atuar conjuntamente com a Resistência e, com amplo apoio popular, iniciam uma greve, com o objetivo de impedir que os alemães desmontem a fábrica e a levem para a Alemanha. Os operários contaram com o apoio da população local, principalmente dos seus familiares, mas é claro que a SS irá reprimir duramente o movimento, prendendo os operários dentro da fábrica e atirando nas mulheres, que fogem, desesperadas.
Mas os operários se rebelaram e conseguiram assumir o controle da fábrica, iniciando o desmonte das máquinas, com o objetivo de esconder as mesmas a fim de impedir que os alemães levassem tudo embora.
Isso vai desencadear uma verdadeira batalha entre os nazistas e a Resistência, cujos integrantes conseguiram fugir (com a exceção de dois que morreram combatendo). Depois disso, o Engenheiro e o operário Marco foram enforcados pelos nazistas por terem participado da sabotagem realizado pelos operários.
Os membros da Resistência que sobreviveram acabaram retornando para a aldeia por onde haviam chegado e na qual voltaram a receber o apoio dos moradores locais, principalmente da jovem Lucia. Depois disso, eles foram para Gênova, onde prosseguiram a luta contra os nazistas, sendo que nesta oportunidade contaram com o apoio de soldados que desertaram do Exército fascista.
No final, os membros da Resistência se dividem em dois grupos, que tomam rumos distintos.
E vemos o belo sorriso de Anna, como que a demonstrar um sinal de esperança para a construção de uma Itália melhor para o seu povo no Pós-Guerra. Mas isso iria demorar e os italianos ainda passariam por vários anos de sofrimento antes que a vida melhorasse, de fato, o que somente irá acontecer na segunda metade da década de 1950, quando teve início o chamado 'Milagre Econômico' italiano, que irá durar cerca de uma década.
Obs8: A cidade de Gênova foi libertada da dominação nazifascista pela Resistência, sem a necessidade da participação de tropas dos Aliados, em uma batalha que foi travada entre os dias 23 e 25 de Abril de 1945. A luta da Resistência na região da Ligúria contou com a participação de 20 mil Partigiani, sendo que 2500 deles morreram combatendo e outros 2800 ficaram mutilados ou inválidos.
Viva a Resistenza Italiana!
Informações Adicionais!
Título: Achtung! Banditi! ('Atenção! Bandidos!; A Rebelde);
Roteiro: Carlo Lizzani; Giuliani G. de Negri; Rodolfo Sonego; Ugo Pirro; Giuseppe Dagnino; Mario Socrate; Enrico Ribulsi; Massimo Mida.
Ano de Produção: 1951; País de Produção: Itália;
Duração: 98 minutos; Gênero: Drama; Guerra;
Música: Mario Zafred; Fotografia: Gianni di Venanzo;
Elenco: Gina Lollobrigida (Anna); Andrea Checchi (Engenheiro); Lamberto Maggiorani (Marco); Vittorio Duse (Domenico); Giuseppe Taffarel (Vento); Giuliano Montaldo (Lorenzo); Pietro Tordi (diplomata); Franco Bologna (Gatto); Maria Laura Rocca (amante do diplomata); Bruno Berellini (Andrea, o Biondo); Lucia Feltrin (Lucia).
Prêmio: Melhor Diretor (Carlo Lizzani) no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary (República Tcheca) em 1952.
Links:
A luta dos Partiani contra o Nazi-Fascismo na Itália:
https://operamundi.uol.com.br/noticia/14967/hoje-na-historia-1944-partigiani-avisam-que-seguirao-lutando-contra-o-nazifascismo
O Massacre das Fossas Ardeatinas:
http://www.andreagaddini.it/Fosse%20Ardeatine_pt.html
Os SAP e a sua atuação fundamental na Resistência italiana:
http://www.isrlaspezia.it/strumenti/lessico-della-resistenza/s-a-p-squadre-azione-patriottica/
A libertação de Gênova pela Resistência:
http://anpimirano.it/2014/23-aprile-1945-i-partigiani-liberano-genova/
'Achtung! Banditi!' - Filme no Youtube (legendas em Espanhol; na íntegra):
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