'O Trem de Lenin' mostra a histórica viagem que levou Lenin e os Bolcheviques de volta à Rússia em 1917! - Marcos Doniseti!
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'O
Trem de Lenin' (Damiano Damiani; 1988): Uma caprichada produção, feita
para a TV, que conta a histórica viagem que levou Lenin e os
Bolcheviques exilados de volta para a Rússia. O filme conta com um
elenco de ótimo nível, incluindo Ben Kingsley (impecável como Lenin),
Leslie Caron (Nadia Krupskaia) e Dominique Sanda (Inessa Armand). |
A produção do filme e o contexto histórico!
Este filme foi dirigido pelo cineasta italiano Damiano Damiani, que foi um dos principais diretores do 'Cinema Político Italiano'
dos anos 1960 e 1970 e que tem, entre os seus principais filmes, 'La
Noia' (Vidas Vazias; 1963), ''Il Giorno dellla Civetta" (O Dia da
Coruja; 1968) e 'Confissões de um Comissário de Polícia ao Procurador da
República" (1971).
O
filme foi produzido por vários canais de TV europeus (Alemanha,
Áustria, Itália e Espanha) e foi exibido como uma minissérie de TV em
1990.
'O Trem de Lenin' mostra a importante viagem do trem que, em 1917, foi realizada pelos Bolcheviques
que estavam exilados em vários países da Europa (Suíça, França) e que
decidiram retornar para a Rússia em função do contexto revolucionário
que o país vivia. O grupo de exilados incluía Lenin, Nadia Krupskaia, Inessa Armand, Karl Radek e Zinoviev.
A vontade de Lenin e dos líderes Bolcheviques de voltar para a Rússia era imensa, afinal eles lutaram a vida toda para promover uma Revolução Socialista. E
como em 1917 o país enfrentava um contexto claramente revolucionário, é
claro que eles desejavam retornar o quanto antes para a terra natal,
com o objetivo de levar adiante o projeto revolucionário pelo qual
haviam lutado por tanto tempo, com todos eles sacrificando sua vidas
pessoais por este projeto.
E graças a um acordo feito pelos Bolcheviques com o governo da Alemanha Imperial, que era governada pelo Kaiser (Imperador) Guilherme II, eles tiveram todas as condições para que este retorno se tornasse possível.
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Alto-Comando do Exército alemão reunido para debater com Parvus o projeto de levar Lenin de volta para a Rússia. |
O governo alemão forneceu aos Bolcheviques
as garantias e a segurança necessárias para que pudessem sair da Suíça
(no dia 9 de Abril; calendário gregoriano), entrassem em território
alemão, atravessassem o mesmo em direção à Suécia (aonde chegaram no dia
13 de Abril), de onde foram para a Finlândia que, naquela época, era
parte integrante do Império Russo.
E da Finlândia eles rumaram para a cidade de Petrogrado,
que após a vitória da Revolução Bolchevique passou a se chamar
Leningrado e que, atualmente, voltou ao seu nome original, que é São Petersburgo,
onde Lenin chegou, na noite de 03 de Abril de 1917 (calendário juliano)
ou 16 de Abril (calendário gregoriano), sendo saudado por milhares de
pessoas (soldados e operários) na Estação Finlândia.
É claro que o governo da Alemanha Imperial,
que era profundamente reacionário e autoritário, não simpatizava nenhum
pouco com as ideias e tampouco com o projeto Socialista e
Revolucionário de Lenin e dos Bolcheviques,
tanto que o governo germânico reprimia de maneira dura e implacável aos
socialistas alemães, que eram essencialmente membros da classe operária
do país e que votavam maciçamente no SPD (Partido Social-Democrata).
Obs1: O SPD foi o partido mais votado da Alemanha, nas eleições disputadas para o Reichstag
(Parlamento) por 40 anos seguidos, entre 1890 e 1930, tendo vencido 12
eleições consecutivas, mas somente passou a governar o país a partir da
proclamação da República, em Novembro de 1918, quando a Alemanha perdeu a guerra e o Kaiser foi embora do país. Em Fevereiro de 1919 o SPD conquistou 37,9% dos votos nacionais, o maior percentual alcançado por qualquer partido até a ascensão de Hitler ao poder, em 30/01/1933.
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Martov
(Menchevique) e Lenin (Bolchevique) conversam sobre a possibilidade de
voltarem juntos para a Rússia, mas os Mencheviques rejeitariam a
proposta de Lenin. |
Mas, neste momento, Lenin e os Bolcheviques defendiam a retirada da Rússia da Primeira Guerra Mundial,
devido à situação catastrófica que o país e a população russa
enfrentavam, com fome e miséria em larga escala, além de sofrer
sucessivas e humilhantes derrotas militares na Guerra.
Lenin também dizia que a paz em separado com a Alemanha era a melhor maneira de derrubar o 'Governo Provisório'. A Rússia mobilizou 13 milhões de soldados e cerca de 1,5 milhão deles já estavam mortos em 1917, sem falar dos feridos.
O
povo russo demonstrava a sua imensa insatisfação com essa situação
catastrófica promovendo greves e gigantescas manifestações populares,
que contavam com a participação de centenas de milhares de trabalhadores
(as).
Com isso, o governo da Alemanha Imperial vê em Lenin e nos Bolcheviques a chance de tirar a Rússia
do conflito, o que permitiria que ela concentrasse os seus esforços
militares exclusivamente na Frente Ocidental, onde enfrentava as tropas
de dois poderosos Impérios Coloniais, que eram a França e a
Grã-Bretanha, bem como a Itália, mais fraca militarmente.
A insistência do regime czarista em manter a Rússia na
Guerra, mesmo na situação catastrófica em que o país se encontrava, foi
decisivo para que, em 1917 a Rússia vivesse uma fase revolucionária.
Com isso, o Czar Nicolau II acabou sendo derrubado pela 'Revolução de Fevereiro', abdicando em favor do príncipe Lvov, e um novo governo, de tendência Liberal, assumiu o comando do país.
Obs2: Na época do Czarismo a Rússia usava o calendário juliano. Somente após a ascensão dos Bolcheviques ao poder é que o calendário gregoriano passou a ser utilizado no país. Com base neste novo calendário, a Revolução Liberal de Fevereiro de 1917 ocorreu em Março e a Revolução Socialista de Outubro ocorreu em Novembro.
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O major von Planetz e o capitão von Buhring se encarregaram de supervisionar a viagem de Lenin e dos Bolcheviques. |
Porém, este novo governo Liberal era ligado, essencialmente, aos interesses da Burguesia russa e dos governos Imperialistas da França e Grã-Bretanha, e cometeu o grave erro de manter a Rússia lutando na Primeira Guerra Mundial, contra a Alemanha e o Império Austro-Húngaro.
Esta decisão equivocada do governo Liberal
vai acabar custando muito caro e levará a uma piora ainda maior das
condições de vida da população russa. Foi neste contexto que Lenin e os
Bolcheviques conseguem retornar à Rússia, chegando em Petrogrado em 03/04/1917 (calendário juliano).
Logo, depois, já no dia seguinte à sua chegada, Lenin divulgou as famosas 'Teses de Abril', nas quais defendia a transferência do poder de governar das mãos da Burguesia Liberal para o Proletariado e para os Camponeses.
Assim, ele defendia uma ruptura com o 'Governo Provisório', controlado pelos capitalistas, e a transferência do poder do Estado para os Sovietes formados por operários, trabalhadores rurais e camponeses.
No documento, Lenin também defendia uma Reforma Agrária
que promovesse a nacionalização das terras, bem como a estatização dos
bancos e a supressão do Exército, da Burocracia e da Polícia. Ele também
defendia a mudança do nome do partido Bolchevique e a criação de uma
Internacional Revolucionária.
Um dos principais membros deste novo governo Liberal (que era uma Monarquia Constitucional) era Alexander Kerenski,
que ocupou os cargos de Ministro da Justiça e da Guerra e que, depois, a
partir de Julho de 1917, tornou-se o Primeiro-Ministro, passando a
governar a Rússia. Depois que se tornou o Primeiro-Ministro, Kerensky manteve a Rússia participando da Primeira Guerra Mundial e, com isso, tornou-se extremamente impopular.
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Lenin
e Nadia Krupskaia, esposa do líder Bolchevique. Ela era uma intelectual
e militante respeitada entre os Bolcheviques e sempre era consultada
por ele. |
Assim,
seu governo acabou sendo facilmente derrubado pelos Bolcheviques em
Outubro de 1917 (calendário juliano), resultando no triunfo da primeira Revolução Socialista da
história e cujo governo se implantava em um país que era um vasto
Império e que possuía 1/6 do território do planeta, mas que era muito
pobre e atrasado, em todos os aspectos: político, econômico, social,
cultural, industrial, científico, tecnológico.
Obs3: Kerensky integrava o partido conhecido como 'Trudovique'
(o Partido Trabalhista russo), que era uma dissidência dos 'Socialistas
Revolucionários', sendo deputado eleito para a Duma (o Parlamento
russo).
Os 'Socialistas Revolucionários' e os 'Mencheviques' (cujo principal líder era Martov)
também eram importantes partidos políticos de Esquerda, mas que eram
rivais dos Bolcheviques, mas também tinham muitos dos principais líderes
exilados pela Europa. Lenin chegou a conversar com os líderes exilados
destes dois partidos para que voltassem, juntos, para a Rússia, mas eles
se recusaram a participar de algo que eles consideravam com um ato de
mero oportunismo político e, também, de traição de Lenin.
Obs4: Os 'Socialistas Revolucionários' desfrutavam de grande popularidade entre os camponeses, enquanto que os Mencheviques disputavam com os Bolcheviques a liderança entre a classe operária da Rússia.
O filme conta com atores do calibre de Ben Kingsley (em uma brilhante interpretação de Lenin), de Leslie Caron (com o papel de Nadia Krupskaia, a esposa de Lenin e que era uma importante integrante do partido Bolchevique) e de Dominique Sanda,
que interpreta Inessa Armand, uma outra brilhante liderança política e
intelectual Bolchevique e que teve um romance secreto por muitos anos
com Lenin.
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Lenin
ficou exilado por 10 anos, entre 1907 e 1917, e viveu a maior parte do
tempo na Suíça, onde também estavam muitos outros exilados russos que
eram perseguidos pelo opressivo regime czarista. |
A trama do filme!
A
história do filme se desenvolve em torno da viagem de trem que Lenin e
um grupo de cerca de trinta Bolcheviques fizeram em Abril de 1917,
saindo de Zurique (Suíça) e tendo como destino a cidade de Petrogrado (atual São Petersburgo).
A
viagem foi resultado de um acordo entre o governo alemão e os
Bolcheviques, pois os alemães entendiam que se os Revolucionários russos
conseguissem voltar para a Rússia eles conseguiriam promover uma
Revolução vitoriosa e, daí, iriam retirar o país da Primeira Guerra
Mundial, permitindo que a Alemanha deslocasse para a Frente Ocidental as
divisões do seu Exército que, até então, lutavam contra as forças
militares russas.
O
filme mostra uma cena que simboliza a matança inútil promovida durante a
Primeira Guerra Mundial (com a sua mortífera guerra de trincheiras), na
qual um ataque dos alemães, contra forças francesas em trincheiras, os
levou a perder 40% dos seus soldados e a conquistar ridículos 300 metros
de território, enquanto fizeram apenas 18 soldados franceses como
prisioneiros.
O oficial que comandou o ataque foi elogiado por sua ação,
embora ela tinha sido um imenso fracasso.
Assim, a Guerra tinha se revelado totalmente inútil até 1917, com a morte de cerca de 3 milhões de alemães até aquele momento, levando o Estado-Maior do Exército a concluir que a Alemanha somente teria condições vencer a Guerra se, antes, encerrasse o conflito com a Rússia.
Com isso, o governo alemão decide apoiar um projeto de um revolucionário russo, um bolchevique chamado Parvus,
que apresenta uma ideia, a de que o governo alemão faça um acordo com
Lenin, pois este defendia a retirada da Rússia da Guerra, devido aos
elevados custos humanos que tal envolvimento gerava para o povo russo,
que sofria com a fome, o desemprego e a miséria.
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Lenin foi brilhantemente interpretado por Ben Kingsley, que ficou muito parecido com o líder Bolchevique. |
Assim,
Parvus sugere ao governo alemão dar as garantias necessárias a fim de
levar (de trem) Lenin de volta para a Rússia, permitindo que o mesmo
liderasse uma Revolução Socialista que, após ser vitoriosa, assinaria um
armistício com a Alemanha.
Parvus
é um oportunista que gosta da boa vida e que tem como objetivo ganhar
uma boa quantia de dinheiro com a intermediação deste projeto. Porém, os
desejos do governo alemão e de Lenin acabaram fazendo com que eles
aceitassem a proposta de Parvus.
Neste momento vemos Lenin, em uma reunião com os líderes bolcheviques (Zinoviev, Radek...),
reclamando justamente que o fato deles estarem exilados os impede de
atuar politicamente no cenário russo, fazendo críticas a Stalin e Kámenev
pelo fato de que ambos defendiam uma colaboração com o Governo
Provisório, de caráter burguês e liberal. Ele está frustrado com o fato
de estar preso na Suíça e de não ter os recursos necessários para
retornar à Rússia.
Para tornar o projeto possível, Parvus
entra em contato com dois bolcheviques suíços (Platten e Grimm) que
eram aliados de Lenin e que irão fazer um contato inicial com o líder
revolucionário russo. O filme também mostra que Lenin
percebe a clara intenção de Parvus de ter o controle do projeto e
impõem algumas condições para que possa aceitar a oferta, pois deixa
claro que não será uma marionete de Parvus. Assim, ele rejeita ter
qualquer reunião com o oportunista Parvus, enviando Radek para conversar com o mesmo.
Assim, Lenin deixa
claro que não quer nenhum favor do governo alemão e faz questão de
pagar pelas passagens (com dinheiro fornecidos bolcheviques suíços) e
diz que os exilados que voltarão ao país natal irão levar a própria
comida.
Logo, Lenin procura
se cercar de vários cuidados a fim de mostrar que seu acordo com o
governo alemão e com Parvus tinha limites e que os mesmos não iriam
implicar em qualquer compromisso com eles, além do acordo que permitiria
o seu para a Rússia.
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Karl
Radek (à frente) e Zinoviev (ao fundo, em pé) disputavam quem mais
exercia influência sobre Lenin, o indiscutível líder do partido
Bolchevique. |
Desta maneira, Lenin tomará medidas para que, no momento decisivo, em que os Bolcheviques
se encontravam na Suécia e estavam prestes a entrar na Finlândia (que
na época era parte integrante do Império Russo), o dinheiro que Parvus
iria repassar para Lenin fosse depositado em contas controladas por este
último e não pelo esperto intermediário.
E tal acordo foi feito sem que Lenin
se tornasse um agente do governo imperial ou um traidor, tal como foi
acusado quando decidiu aceitar a oferta de ajuda alemã para voltar à Rússia.
E
o filme também mostra que Lenin, em nenhum momento, impõem a sua
vontade aos demais Bolcheviques, procurando debater previamente todas as
questões e submetendo as decisões à concordância dos demais. Ele
procura sempre perguntar aos outros o que eles pensam e está sempre
pronto a apoiar alguma proposta caso entenda que ela é a melhor.
Lenin,
quando quer convencer os outros das suas posições, também procura
sempre argumentar. Em nenhum momento ele age como um ditador,
respeitando sempre as opiniões dos demais e, ao mesmo tempo, dando as
broncas necessárias quando entender que eles cometem algum erro.
E
fica claro também que a sua esposa (Nadia Krupskaia) era uma
intelectual muito respeitada e tinha um papel muito importante, atuando
de forma intensa na vida política, defendendo as suas ideias, mas sem
jamais deixar de apoiar Lenin, o ajudando também a organizar a sua vida
política e intelectual.
Lenin convence os bolcheviques de que eles deveriam procurar conversar com outros grupos de exilados políticos russos, como os Mencheviques (liderados por Martov) e os Socialistas Revolucionários
para que todos eles façam a viagem juntos, pois assim ninguém poderá
chamá-los de traidores, mas a sua proposta será recusada pelos dois
grupos.
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Bolcheviques
são hostilizados por exilados russos que são contrários ao retorno
deles para a Rússia. Posteriormente, no entanto, eles perceberiam o
acerto da decisão de Lenin e também quiseram voltar, mesmo que fosse em
um comboio fornecido pelo governo da Alemanha Imperial. |
Na verdade, quando Lenin e os Bolcheviques
decidem voltar sozinhos para a Rússia eles serão atacados pelos membros
dos movimentos que decidiram permanecer na Suíça. Mas, depois, quando
os Mencheviques viram que a viagem dos Bolcheviques tinha sido bem sucedida, eles irão pressionar Martov para que também retornem, mesmo que tenham que fazer um acordo com o governo da Alemanha.
O filme também trata do relacionamento romântico entre Lenin e Inessa, que era do conhecimento de Nadia,
e que foi mantido em caráter privado. Fica claro que Lenin e Inessa se
amavam, mas que não poderiam ficar juntos, pois ele se preocupava com as
consequências políticas de abandonar Nadia e passar a viver com Inessa.
Logo, o líder bolchevique abrirá mão de viver com Inessa, pois ele
priorizará a sua atividade política e revolucionária.
É bom ressaltar que Inessa
também era uma bolchevique autêntica e também uma brilhante
intelectual, cuja atuação se voltou para a defesa dos interesses das
mulheres, que tiveram uma participação bastante significativa nas
Revoluções russas de 1917 (na Liberal, de Fevereiro, e na Socialista, de Outubro).
Lenin
era um grande defensor da ativa participação feminina nas lutas
políticas e as tratava em igualdade de condições em relação aos homens.
Inclusive, Lenin defende que Inessa seja eleita para o Comitê Central do Partido Bolchevique, o que é aprovado.
Lenin
também possuía alguns problemas de saúde e exigia que tal informação
não viesse a público, pois caso isso acontecesse ele temia os efeitos
políticos de tal revelação. Portanto, não foi à toa que, posteriormente,
todos os líderes soviéticos procuraram manter a população desinformada a
respeito dos seus problemas de saúde, pois essa era uma prática que
vinha desde Lenin.
A
viagem de trem dos Bolcheviques será supervisionada por dois oficiais
do Exército alemão, que são o major Planetz e o capitão von Buhring,
sendo que o primeiro é um disciplinado cumpridor de ordens, enquanto que
o segundo é um nacionalista fanático que deseja matar Lenin, no que
será impedido por Planetz. Em todas as estações nas quais o trem parava
sempre havia militares alemães protegendo o mesmo.
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Dominique
Sanda interpreta Inessa Armand, o grande amor da vida de Lenin e que
também era uma líder bolchevique e uma intelectual muito respeitada. Ela
liderava o grupo bolchevique de Paris desde 1910 e falava cinco idiomas
fluentemente. Lenin chegou a indicar Inessa para o Comitê Central do
partido. Ela faleceu em 1920, vítima de cólera, e Lenin chorou muito em
seu enterro. |
E
como a viagem era longa, em algumas localidades Lenin foi procurado por
algumas pessoas que desejavam conversar com ele, mas a orientação era
que evitasse contatos com cidadãos alemães, a fim de não criar problemas
para o governo imperial do país que ainda lutava uma guerra brutal e
sanguinária. Em uma das paradas, dois deputados do SPD (Partido Social-Democrata alemão) tentaram conversar com Lenin, mas este se recusou.
Nestes
momentos, cabia ao jovem Karl Radek ou a Zinoviev conversar com as
pessoas que procuravam por Lenin. E em um debate improvisado este último
criticou os deputados do SPD (Jansan e Renkl), dizendo que os mesmos
haviam aprovado os chamados 'créditos de guerra' para o governo alemão
em 1914. E Radek os chama de 'palhaços do Reichstag'.
Obs5: O SPD era
o principal partido da 'Segunda Internacional', que reunia os
principais partidos Socialistas, Trabalhistas e Social-Democratas
europeus (Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda, Rússia...). Ela
foi criada em 1880 e durante toda a sua existência anterior à Primeira Guerra Mundial os
partidos que a integravam condenavam as Guerras Imperialistas, pois
diziam que estas atendiam apenas aos interesses da Burguesia, que
enviava os trabalhadores para que se matassem nos campos de batalha.
Porém, quando estoura a Guerra (em Agosto de 2014), quase todos os
partidos da Internacional apoiaram os governos de seus respectivos
países. Lenin
(que participou de vários dos Congressos da Internacional) e os
Bolcheviques foram um dos poucos que criticaram esse apoio e denunciaram
a Internacional como sendo chauvinista. Alguns líderes, minoritários,
do SPD alemão (Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht) também condenaram o apoio da legenda aos créditos de guerra e saíram do SPD depois, criando a 'Liga Spartacus'. Daí o fato de Radek e Zinoviev terem criticado os dois deputados do SPD nesta cena.
Além
dos deputados do SPD, um grupo de operários alemães socialistas que
trabalhavam na ferrovia acabam descobrindo a presença de Lenin e dos
Bolcheviques no trem em uma das paradas e, assim, insistem em ver o
líder revolucionário russo discursar.
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Operários
alemães socialistas ficam sabendo que Lenin estava no trem e vão até o
local para tentar ver e ouvir o líder Bolchevique. Lenin não pôde
discursar, mas eles o aplaudiram mesmo assim. |
Mas devido ao acordo feito com o governo alemão, de não falar com alemães, Lenin não faz isso, no que é substituído por Radek
que, entusiasmado com a recepção e o apoio dos trabalhadores alemães,
acaba fazendo um discurso radical, estimulando os alemães a expulsar os
militares e a derrubar a Monarquia alemã.
Com isso, Lenin, Zinoviev, Nadia e Inessa o censuram por sua atitude, sendo que Zinoviev (que disputava com Radek
a capacidade de influenciar Lenin) defendeu a expulsão do mesmo do
partido Bolchevique, mas isso não irá acontecer. Lenin apreciava o
entusiasmo de Radek, mas o avisou de que aquilo não poderia mais se
repetir e é decidido que ele não entraria na Rússia, ficando na Suécia.
Em um determinado momento o comboio parou em Berlim e
o capitão reacionário von Buhring acaba tomando contato com a realidade
enfrentada pelo povo alemão, de fome e miséria, vendo inúmeras pessoas
recebendo sopa de graça, bem como assistindo a uma manifestação de
trabalhadores que exigiam o fim da guerra. Ele confrontou os
trabalhadores e acabou apanhando dos mesmos.
Enquanto isso, na Rússia, o 'Governo Provisório',
de caráter liberal-burguês, mantém o país na Guerra, fator este que
fará com que a insatisfação e revolta da população vá se intensificando
cada vez mais. Aliás, Lenin demonstra ter consciência plena deste fato.
Assim, quando Lenin volta para a Rússia ele divulgará, no dia seguinte à sua chegada que ocorreu no dia 16 de Abril, pelo calendário gregoriano) as famosas 'Teses de Abril', que já comentei aqui, defendendo que o poder do 'Governo Provisório' fosse totalmente transferido para os Sovietes (conselhos de operários, soldados e camponeses), promovendo uma Revolução Socialista no país.
Lenin
também toma a iniciativa de propor a mudança de nome do partido, o que
será aprovado, que vai passar de 'Bolcheviques Sociais-Democratas' para
'Partido Comunista Bolchevique',
pois o nome antigo não representava mais o que eles eram. Lenin dizia
que eles não eram nem 'democratas burgueses' e tampouco 'socialistas
chauvinistas'.
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Camponeses
russos aplaudem Lenin quando este chegou ao país. Uma das primeiras
medidas de Lenin, quando assumiu o governo do país (em Novembro de
1917), foi promover a Reforma Agrária. |
Quando
chegam na Finlândia eles serão revistados por soldados ingleses, que
fazem uma revista minuciosa e que impedem a entrada de Platten no país,
pois o mesmo era suíço e não russo.
Depois
eles rumam para Petrogrado, mas antes de chegar eles tem a sua viagem
interrompida por oficiais do Exército russo, que atacam Lenin e os
Bolcheviques, chamando-os de 'traidores'. Lenin faz um pequeno discurso,
que é bastante aplaudido pelos camponeses e soldados presentes,
mostrando que as suas ideias e propostas já eram bastante populares na
Rússia.
Desta maneira, eles continuam a viagem e chegam em Petrogrado,
na noite de 16 de Abril, onde são recebidos por dezenas de milhares de
pessoas (operários e soldados, principalmente) que aplaudem Lenin e os
Bolcheviques com suas bandeiras vermelhas.
No dia seguinte Lenin divulgará as 'Teses de Abril' e um novo ciclo revolucionário irá se iniciar na Rússia e que resultará no triunfo da primeira Revolução Socialista da história.
Informações Adicionais!
Título: Il Treno di Lenin (O Trem de Lenin);
Diretor: Damiano Damiani;
Roteiro: Damiano Damiani; Enzo Bettiza; Dario Staffa; Jean-Marie Drot; baseado no livro de Michael Pearson;
Duração: 206 minutos;
País de Produção: Alemanha, Áustria, Itália, Espanha;
Ano de Produção: 1988;
Música: Nicola Piovani;
Fotografia: Sebastiano Celeste;
Elenco:
Ben Kingsley (Lenin); Leslie Caron (Nadia Krupskaia); Dominique Sanda
(Inessa Armand); Peter Whitman (Radek); Timothy West (Parvus); Jason
Connery (David Suljashvili); Paolo Bonacelli (Zinoviev); Gunther Maria
Halmer (Major Von Planetz); Robin McCallum (Von Buhring); Xavier
Elorriaga (Platten); Franz Gary (Misha); Wolfgang Gasser (Martov);
Mattia Sbragia (Furstenberg); Manfred Anrae (Kerensky).
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Quando
chegou à estação Finlândia (em Petrogrado, atual São Petersburgo), na
noite de 16/04/1917, Lenin foi recebido por dezenas de milhares de
pessoas, principalmente por operários e soldados. |
Links:
Filme disponível no Youtube:
Primeira Parte:
Segunda Parte:
As Teses de Abril:
https://pcb.org.br/portal/docs/astesesdeabril.pdf
1917 - Lenin retorna à Rússia:
https://www.dw.com/pt-br/1917-lenin-retorna-à-rússia/a-498290
O retorno de Lenin à Rússia e as Teses de Abril:
https://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/25/teses.htm
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